16/12/2015 17h50 - Atualizado em 16/12/2015 17h50

Arrecadação do IPTU em 2016 não vai atingir meta de 2015, diz secretário

Campo Grande deve receber cerca de R$ 50 milhões a menos.
Pagamento a exonerados deve ser concluído em janeiro de 2016.

Do G1 MS

Em audiência, secretário diz que vai arrecadar 19,4% a menos com IPTU (Foto: Izaias Medeiros/Câmara Municipal de Campo Grande)Secretários (os dois últimos, na ponta direita da mesa) foram convocados pelos vereadores
(Foto: Izaias Medeiros/Câmara Municipal de Campo Grande)

A prefeitura de Campo Grande deve arrecadar 19,4% a menos com o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) em 2015. Em audiência pública na Câmara Municipal, o secretário municipal de Planejamento, Finanças e Controle, Disney Fernandes, admitiu que o município não irá nem superar a meta de 2015 no ano de 2016.

No Orçamento 2015, a prefeitura previa arrecadar R$ 360 milhões, mas o secretário acredita que o montante não chegará nem a R$ 290 milhões. Para 2016, o prefeito Alcides Bernal (PP) decretou reajuste de 9,57% e a previsão de arrecadação é de R$ 310 milhões.

Porém, vereadores lembraram durante a audiência que contribuintes estão recebendo carnês do imposto com aumento de até 1.000%. Questionado, Fernandes se limitou a dizer há justificativa, mas não especificou qual é.

Outra questão levantada pelos parlamentares foi de contribuintes que perderam a isenção em 2016. Quem não pagava o IPTU até 2015, vai ter que arcar com o tributo no próximo ano. O secretário afirmou que a faixa de isenção passou de R$ 23 mil para R$ 27 mil, por isso algumas pessoas terão de pagar.

Comissionados exonerados
Durante a audiência pública, os vereadores questionaram o secretário de Administração, Ricardo Ballock, sobre a falta de pagamento a servidores comissionados exonerados após a recondução de Bernal à prefeitura. Conforme o titular da Semad, 500 funcionários foram demitidos.

O pagamento pendente chega a R$ 3 milhões. A secretaria analisa a situação de todos os exonerados, já que há a suspeita de haverem “fantasmas” durante o governo de Gilmar Olarte (PP). Ballock se comprometeu a iniciar o pagamento dos ex-servidores no dia 20 de dezembro.

Após as festas de fim de ano, com a arrecadação de tributos, o pagamento deve ser finalizado em janeiro de 2016. Já o secretário de Finanças garantiu que vai pagar na quinta-feira (17) o 13º salário daqueles que recebiam até R$ 2 mil e metade para quem ganhava mais do que esse valor.

Prefeito de Campo Grande nega irregularidades com dinheiro público (Foto: Nadyenka Castro/ G1 MS)Bernal demitiu também todo o secretariado de
Gilmar Olarte
(Foto: Nadyenka Castro/G1 MS/arquivo - 04.11.2013)

Demissões
No primeiro dia após voltar ao Paço Municipal, o prefeito Alcides Bernal, exonerou todos os comissionados e integrantes do primeiro escalão. O pepista também anulou as designações dos servidores municipais feitas por Gilmar Olarte (PP), afastado do prefeitura.

Segundo o decreto, a exoneração tem efeito para os agentes políticos, que desempenham o cargo de secretário municipal, de Procurador-Geral do Município e de diretor-presidente das autarquias e fundações da prefeitura.

Recondução
Bernal foi reconduzido ao cargo de prefeito após decisão do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJ-MS). Sendo uma liminar, o mérito ainda será julgado, mas não tem data definida. Ele ficou afastado um ano e cinco meses após ter o mandato cassado pela Câmara.

Em 27 de agosto, o pepista ocupou o gabinete no Paço Municipal. “Campo Grande está quebrada”, afirmou ao entrar na prefeitura.

Montagem mostra Gilmar Olarte e Mario Cesar (Foto: Reprodução/TV Morena)Montagem mostra Gilmar Olarte e Mario Cesar
(Foto: Reprodução/TV Morena)

Crise política
Na manhã de 25 de agosto, o prefeito de Campo Grande, Gilmar Olarte (PP), e o presidente da Câmara Municipal, Mario Cesar Fonseca (PMDB), foram afastados dos seus cargos em razão da suspeita de corrupção ativa e passiva na votação do Legislativo que cassou o mandato de Alcides Bernal (PP), em 12 de março de 2014.

O vice-presidente da Câmara, Flávio César Mendes (PT do B), chegou a anunciar que assumiria a chefia do Executivo durante pronunciamento. Entretanto, na tarde de 25 de agosto, por 2 votos a 1, os desembargadores da 1ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJ-MS) determinaram a volta de Bernal à chefia do Executivo campo-grandense.

Volta de Mario Cesar
Em 24 de novembro, o TJ-MS decidiu que Mario Cesar voltasse a ocupar a vaga de vereador, mas não o comando da Casa de Leis. A defesa do peemedebista argumentou ainda que o desligamento da função não foi claro e o acórdão citou apenas o impedimento de exercer a presidência da Câmara.

Na decisão, o desembargador Júlio Roberto Siqueira Cardoso acolheu os argumentos da defesa. O magistrado afirmou que se um delegado tem 30 dias para concluir um inquérito policial, o Gaeco, com escutas telefônicas e quebras de sigilo, deveria ser mais rápido.

Antes da decisão, Mario Cesar renunciou à presidência da Casa de Leis, conforme carta entregue à Justiça. A carta, assinada pelo peemedebista na segunda-feira (23), está endereçada ao presidente em exercício da Câmara.

No dia 27 de novembro, os vereadores elegeram João Rocha (PSDB) como presidente da Casa de Leis. Com 27 votos, Rocha foi empossado logo após a eleição e vai concluir o biênio 2015-2016.

Plenário da Câmara Municipal de Campo Grande durante julgamento do prefeito Alcides Bernal (Foto: Lucas Lourenço/G1 MS)Plenário da Câmara Municipal durante sessão que
cassou mandato de Bernal
(Foto: Lucas Lourenço/G1 MS/arquivo - 12.03.2014)

Cassação
Bernal teve o mandato cassado em 12 de março de 2014. Dos 29 vereadores de Campo Grande, 23 votaram a favor da cassação de Bernal por irregularidades em contratos emergenciais. Seis foram contra. Com isso, o então vice-prefeito Gilmar Olarte (PP) assumiu o comando do Executivo do município.

No dia 15 de maio de 2014, o juiz David de Oliveira Gomes Filho, da 2ª Vara de Direitos Difusos Coletivos e Individuais Homogêneos de Campo Grande, suspendeu o decreto de cassação e concedeu liminar para volta dele à chefia do Executivo municipal.

Na madrugada do dia 16 de maio de 2014, o TJ-MS acatou recurso da Câmara e cassou a liminar que determinava a volta de Bernal ao cargo de prefeito. Desde então, a briga passou por várias instâncias da Justiça, chegando até ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Sede do Gaeco, em Campo Grande (Foto: Adriel Mattos/G1 MS)Sede do Gaeco, em Campo Grande
(Foto: Adriel Mattos/G1 MS)

Conclusão das investigações
Em 4 de dezembro, o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) apresentou o relatório final das investigações da operação Coffee Break. O procurador-geral de Justiça, Humberto de Matos Brittes, deverá decidir em 15 dias por arquivar, denunciar à Justiça ou pedir mais informações.

“O relatório aponta indícios da prática de crime de corrupção passiva, por oito vereadores e um ex-vereador; aponta indícios de crime de corrupção ativa, por sete pessoas, dentre elas três vereadores e os outros são empresários. E tem três pessoas também, duas delas do ramo político e empresarial, que vão responder por associação criminosa”, explicou o coordenador do Gaeco, promotor Marcos Alex Vera de Oliveira.

Cinco pessoas foram identificadas como articuladoras do esquema. “Temos cinco figuras principais, ligadas à área empresarial e da área política, que efetivamente desenvolveram uma postura mais ativa”, disse o promotor.

Governador André Puccinelli (PMDB) chega para acompanhar debate  (Foto: Leandro Abreu/G1MS)Ex-governador André Puccinelli (PMDB)
(Foto: Leandro Abreu/G1 MS/arquivo - 26.10.2012)

Nomes
O ex-governador André Puccinelli (PMDB) e o empresário João Amorim aparecem no relatório da operação Coffee Break, do Gaeco, como investigados. A produção da TV Morena não conseguiu contato com a defesa do ex-governador e do empresário.

Puccinelli pode responder por associação criminosa ao lado de Amorim. O Gaeco aponta que o grupo pretendia “restabelecer a estrutura de poder política e econômica da capital” que supostamente foi prejudicada com a vitória de Bernal nas eleições.

O relatório cita, no total, 23 pessoas. No documento, o Gaeco diz que os suspeitos agiam de forma articulada para garantir que a Câmara conseguisse afastar Bernal da prefeitura.

Na acusação de associação criminosa, são apontados como suspeitos os responsáveis por criar e organizar todo o esquema: João Amorim, João Baird, Carlos Naegele, Gilmar Olarte, Mario Cesar, Flávio César, Airton Saraiva, Fábio Portela, Luiz Pedro Guimarães, Raimundo Nonato de Carvalho e dois nomes que até então não apareciam na lista, o ex-prefeito Nelson Trad Filho (PTB) e o ex-governador André Puccinelli.

Por corrupção ativa, são suspeitos João Amorim, João Baird, Gilmar Olarte, Mario Cesar, Flávio César, Airton Saraiva (DEM) e Fábio Portela. Esse grupo executavam o plano, fazendo o corpo a corpo com os vereadores oferecendo vantagens politicas e financeiras.

São apontados como suspeitos de corrupção passiva Paulo Siufi (PMDB), Edil Albuquerque (PMDB), Edson Shimabukuro (PTB), Eduardo Romero (Rede), Jamal Salem (PR), Otávio Trad (PT do B), Gilmar da Cruz (PRB), Chocolate (PTB), Carlão (PSB), o atual presidente da Câmara João Rocha e o ex-vereador Alceu Bueno (sem partido). Esses vereadores solicitaram, receberam e aceitaram promessas de vantagens, como dinheiro e cargos públicos.

Ex-prefeito de Campo Grande Nelson Trad Filho (Foto: Fernando da Mata/G1 MS/Arquivo - 13.11.2012)Ex-prefeito de Campo Grande Nelson Trad Filho
(Foto: Fernando da Mata/G1 MS/arquivo 13.11.2012)

Interesse
Segundo o Gaeco, os interesses eram basicamente dinheiro e poder. O poder passa pela política. O grupo de André Puccinelli e Nelsinho Trad estava há 16 anos no poder. De repente, eles perderam o controle da capital sul-mato-grossense e fizeram de tudo para retomar. Só que havia muitos interesses. A investigação aponta que os empresários não queriam perder os contratos lucrativos com a prefeitura e os vereadores queriam influenciar na prefeitura conseguindo cargos para aliados e até pra eles mesmos. Já Gilmar Olarte queria ser prefeito a todo custo.

Os promotores do Gaeco estão convencidos que toda ação do grupo passava por André Puccinelli. Não há gravação telefônica ou documentos com assinatura do ex-governador. Entretanto, as conversas e mensagens de texto dos envolvidos indicam a participação dele nesse esquema de poder.

Esse relatório ainda está sendo avaliado pela Procuradoria-Geral de Justiça, que deve apresentar uma denúncia à Justiça. Mas isso só deve ocorrer depois do recesso do judiciário, em 2016, e a procuradoria pode desconsiderar alguns itens do relatório. Depois disso, cabe à Justiça aceitar ou não a denúncia.

O ex-prefeito Nelson Trad Filho negou a participação em reunião para tratar da cassação do mandato de Bernal. Disse desconhecer e nunca ter conversado com as pessoas citadas no relatório.

“Repudio veementemente a inclusão do meu nome no relatório preliminar da chamada Operação Coffee Break. Afirmo que nunca participei de nenhuma reunião para tratar da cassação do prefeito Alcides Bernal, nem sequer tratei desta questão por meio de qualquer meio de comunicação (telefone, e-mails, mensagens, etc.) e desafio que se prove o contrário”, afirmou em nota o ex-prefeito.

Nelsinho Trad disse ainda que vai tomar as medidas judiciais cabíveis para “reparar os danos morais que essa irresponsabilidade da inclusão do meu nome ocasionou em minha vida e na minha família”.

A produção da TV Morena não conseguiu falar com João Baird, Carlos Naegele e Fábio Portela. Luiz Pedro informou que não teve acesso ao relatório e que não está envolvido. Nonato e Flávio César não foram encontrados.

Os vereadores Carlão e Edson Shimabukuro disseram que vão provar que são inocentes. O vereador Eduardo Romero disse que ainda não foi notificado e nega as acusações. É a mesma posição do presidente da Câmara, João Rocha. As assessorias dos vereadores Airton Saraiva, Chocolate, Edil Albuquerque e Gilmar da Cruz não responderam às ligações.

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