O Renault 5 elétrico que está prestes a chegar ao mercado europeu fará mais do que uma referência (e uma reverência) ao passado. A versão esportiva R5 Turbo, que fez sucesso no automobilismo nos anos 1970 e 1980, está de volta.
O novo R5 Turbo 3E retoma os traços do conceito mostrado no salão de Paris de 2022, principalmente pelas entradas de ar e spoilers dianteiros e traseiros (neste caso, junto às rodas para arrefecimento dos motores elétricos), e, claro, a seção lateral traseira muito larga (nada menos do que 2 metros cravados), onde existe um motor elétrico em cada uma das rodas.
Oficialmente, apenas está confirmada a potência total será superior a 500 cv, além de aceleração de 0 a 100 km/h em menos de 3,5 segundos. A tração, como nos tempos de rali, é traseira. Sobre a bateria, pouco se sabe, mas fontes ouvidas por Autoesporte dizem que a capacidade será de 80 kWh a 100 kWh, garantindo autonomia de aproximadamente 400 km.
Por outro lado, uma tão grande e pesada bateria irá empurrar o peso total para não muito longe dos 1.500 kg, mesmo com algumas partes da estrutura do carro em carbono e apenas dois lugares. São três combinações de cores disponíveis: amarela, branca e preta (que fez furor no Campeonato do Mundo de Ralis nos anos 80), azul com interior vermelho-romã e, por fim, vermelho-romã com interior azul (nestes últimos dois casos, as cores do primeiro R5 Turbo a ser fabricado, em 1980).
O interior não foi ainda divulgado, mas sabe-se que além de esses bancos muito esportivos (iguais aos do Alpine A110R) e de apenas existir espaço atrás da fila dianteira (além de uma estrutura tubular para proteção da integridade do habitáculo em caso de colisão), haverá elementos comuns ao painel de bordo do novo R5 e também uma (opcional) enorme alavanca de freio manual para ajudar as longas “atravessadelas” controladas que o abundante torque instantâneo diretamente aplicado nas rodas traseiras podem facilmente proporcionar.
É muito provável (tendo em conta que se trata de um carro-halo da tecnologia de propulsão elétrica da marca francesa) que o Renault 5 Turbo 3e (o 1 e o 2 foram as gerações lançadas na primeira metade dos anos 80 e o “e” diz respeito à propulsão elétrica) esteja dotado de tensão de 800 volts para acelerar os processos de carregamento que, dessa forma, poderão chegar aos 350 kW em corrente direta (DC), ou em algo perto de 11 kW em corrente alternada (AC).
Até mesmo o número de produção (980 unidades) faz menção ao ano de lançamento do Renault 5 original (em março de 1980). Já o preço dá conta de quão especial o novo esportivo elétrico será. Posicionado acima de 100 mil euros (R$ 627 mil, na conversão direta), é de quatro a cinco vezes mais caro do que os novos R5 elétricos que chegam ao mercado europeu no início do ano que vem.
Há quase meio século, a Renault colocou o R5 Turbo à venda por 115 mil francos franceses (equivalentes a 17.500 euros ou R$ 109,7 mil em conversão direta para as moedas correntes), quando o R5 mais acessível não custava mais de 5.300 euros (R$ 33.200). Outros tempos.
Estrela dos ralis
A primeira vez que o mundo viu o R5 Turbo foi ainda como conceito, no Salão de Paris de 1978, mas o projeto veio mesmo a dar origem (em 1980) ao primeiro automóvel de produção em massa de uma marca francesa com motor turbo a gasolina. Tinha um motor 1.4 de 4 cilindros, posicionado no centro do veículo e que rendia 160 cv de potência. Com tração traseira e câmbio manual de 5 marchas, pesava 970 kg e era capaz de alcançar 200 km/h. Dois anos depois era apresentado o R5 T2.
Ainda em 1980, o carro estreava no Grupo 4 do campeonato mundial de rali. Tanto o carro como a competição foram evoluindo (sempre na direção de mais potência e performance) e em 1983 era criado o Grupo B, com carros com mais de 500 cv, com construção ultraleve em kevlar e tração integral.
Mas essa fórmula de excesso de potência e falta de segurança para o público revelou-se explosiva: uma série de acidentes fatais, como no Rali de Portugal de 1986 (onde morreram dois espetadores e mais três dezenas acabaram no hospital) levaram à extinção desta classe de carros de ralis (não sem antes pilotos de primeira linha como Bettega ou Toivonen terem perdido a vida).
Nesse mesmo Rali de Portugal, o R5 Turbo conseguiu uma vitória à geral (com Joaquim Moutinho ao volante), ainda que manchada pela morte dos espetadores e só possibilitada pelo subsequente abandono das equipes de fábrica. Esta sucessão de graves acidentes levou a Federação Internacional do Automóvel a acabar com os assustadores carros de Grupo B no Mundial de Ralis, no final de 1986.
No final da sua carreira no automobilismo, o Renault 5 Turbo venceu quase meia centena de competições, tendo a sua evolução mais potente sido o R5 Maxi de 1985 (cuja pintura/decoração exterior era muito próxima da do R5 Turbo 3E mostrado aqui) , com motor de cilindrada aumentada até 1526 cm³, possibilitando um rendimento de 350 cv (em um automóvel de apenas 950 quilos de peso).
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