Saltar para o conteúdo

Une fille d'Eve

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Une fille d'Eve
Autor(es) Honoré de Balzac
Idioma Francês
País  França
Gênero Romance realista
Série Scènes de la vie privée
Editora Souverain
Lançamento 1838
Cronologia
Mémoires de deux jeunes mariées
Le Message

Une fille d’Ève (em português, Uma filha de Eva[1]) é um romance de Honoré de Balzac surgido em folhetim em Le Siècle em dezembro de 1838 e janeiro de 1839, publicado em volume por Souverain em agosto de 1839, depois na edição Furne de 1842, onde se situa nas Cenas da vida privada da Comédia Humana.

É neste curto romance que Félix de Vandenesse, o futuro herói de Le Lys dans la vallée, faz sua primeira aparição que, de acordo com o princípio balzaquiano de "esclarecimento retrospectivo"[2], nos traz aqui o "meio de uma vida antes de seu começo, seu começo após seu fim[3]".

É igualmente a primeira aparição de Ferdinand du Tillet, que reencontraremos em César Birotteau[4] Em Uma filha de Eva, Du Tillet se casa com a filha do conde de Granville, irmã da condessa Marie-Angélique (Maria Angélica na edição brasileira organizada por Paulo Rónai) de Vandenesse.

Neste texto, que não é uma obra maior de Balzac, tem-se a impressão de que o autor submete os personagens do "mundo balzaquiano" a um "ensaio geral". O poeta Raoul Nathan (Raul Nathan), que se reencontrará em quase toda a Comédia Humana, representa aqui o papel pouco edificante de sedutor e ambicioso devorador de riquezas. Ele é aqui íntimo de Melchior de Canalis, o poeta às vezes arrogante e interesseiro de Modeste Mignon.

Novamente, Balzac se volta para a sorte das mulheres casadas, para as disparidades sociais e educativas. Ele tem uma grande compaixão por sua heroína, Maria Angélica de Vandenesse, a esposa de Félix de Vandenesse, e por sua ingenuidade que parece ser a dos indivíduos insuficientemente instruídos (as mulheres, naquela época). Segundo Paulo Rónai, "o principal interesse do romance talvez seja devido à habilidade com que Balzac conduz a sua heroína ao longo do precipício, mantendo até o fim a atmosfera de perigo."[5]

Este romance exemplifica bem como diferentes obras da Comédia Humana se complementam mutuamente. A incompatibilidade entre o conde de Granville e sua esposa excessivamente devota, narrada em Uma dupla família, resulta, aqui, em duas filhas despreparadas para enfrentar o mundo. "Jamais donzelas foram entregues a maridos, nem mais puras, nem mais virgens."[6] E os sofrimentos amorosos anteriores do Conde Félix de Vandeneusse são esclarecidos em O lírio do vale.

O romance completa admiravelmente o curioso panorama da alta sociedade parisiense, já entrevista em Ao "Chat-qui-pelote" e sobretudo em Modesta Mignon.[7]

A esposa de Félix de Vandenesse não sabe como ocupar seus dias. É o tédio habitual da dona de casa, presa fácil para o poeta Nathan, tanto mais porque um complô circunda seu encontro. Se Maria Angélica fica apaixonada pelo literato, é porque ela foi impelida aos seus braços por ocasião de um encontro combinado por Lady Dudley, Natalie de Manerville e a viúva do conde de Kergarouët, nascida Émilie de Fontaine, e desde então casada com o irmão de Félix: Charles (Carlos) de Vandenesse. Todavia, o ambicioso Nathan exige, para levar à frente sua carreira política, finanças muito acima dos meios de Maria Angélica. Ele funda, em especial, um jornal em associação com o lince [8] Ferdinand du Tillet. Desta forma, a jovem vai recorrer a um procedimento comum nas mulheres apaixonadas de Balzac: as letras de câmbio[9] que faz seu velho professor de piano, Wilhelm Schmucke, assinar. Pouco instruída em matéria de finanças, ela corre para a catástrofe e para a prisão por dívidas. Mas seu marido, e sua irmã, Marie-Eugénie (Maria Eugênia) du Tillet (que ousa finalmente enfrentar seu marido) na última hora a salvam, e o casal se reconcilia. "A Sra. de Vandeneuse teve um gesto de pejo ao lembrar-se que se tinha interessado por Nathan. [...] o contraste que apresentava agora o conde, comparado com aquele homem, já menos digno da simpatia do público, bastaria para lhe fazer preferir o marido a um anjo."[10]

Referências

  1. Honoré de Balzac. A comédia humana. Org. Paulo Rónai. Porto Alegre: Editora Globo, 1954. Volume II
  2. J. Borel, Proust et Balzac, Paris, José Corti, 1975.
  3. Prefácio a Une fille d'Ève, La Pléiade, 1981. Edição dirigida por Pierre-Georges Castex.
  4. Nesta obra ele rouba mil francos do caixa, depois de tentar seduzir Madame Birotteau. Ele se torna logo corretor de valores e se une aos grandes banqueiros Keller e Nucingen.
  5. Paulo Rónai, Prefácio de Uma filha de Eva.
  6. Honoré de Balzac, op. cit., p. 520.
  7. Paulo Rónai, op. cit..
  8. É assim que Balzac se refere aos mestres de finanças.
  9. Como Anastasie de Restaud em Le Père Goriot.
  10. Honoré de Balzac, op. cit., p. 614.
  • (fr) Patrick Berthier, « Les Ratures du manuscrit d’Une Fille d’Ève », L'Année balzacienne, 1988, no 9, p. 179-203.

Ligações externas

[editar | editar código-fonte]

CategoriaːRomances da França