Nesta quinta-feira (15), autoridades de todos os poderes demostraram indignação com o assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
Parlamentares levaram girassóis ao plenário da Câmara, em Brasília. Estenderam uma faixa com os dizeres: “Marielle presente. Anderson presente”.
Na homenagem, deputados lembraram a luta da vereadora carioca na defesa dos direitos humanos e pediram que a investigação do assassinato seja acompanhada pela Câmara.
“Cada um de nós, sobretudo nós mulheres, nós nos sentimos morrendo um pouco no dia de hoje, no dia de ontem”, disse a deputada Luiza Erundina (PSOL-SP).
O presidente da Câmara autorizou a criação da comissão externa para acompanhar a investigação do crime.
“Acho que o que vai prevalecer para que a gente consiga uma solução não apensas por esse caso, mas para tantos assassinatos no Brasil é o equilíbrio e as condições para que o estado, e todos estados vivem a mesma crise, tenham condições cumprir o papel de investigação e, de fato, combater o crime organizado que vem tirando muitas vidas no Brasil”, respondeu Rodrigo Maia (DEM-RJ).
O presidente do Senado estava em Fortaleza e também lamentou as duas mortes.
“Eu vejo isso com muita tristeza porque não sabemos de onde partiu e como partiu. Eu não tenho dúvida de que esse crime será esclarecido o mais rapidamente possível. O esclarecimento desse crime vai servir de exemplo para outros que imaginam que podem intimidar aqueles que têm a responsabilidade com o país”, disse Eunício Oliveira (PMDB-CE).
Outros senadores também se manifestaram.
“Nós estamos vivendo uma verdadeira comoção no país, com repercussão lá fora dessa execução cruel de uma parlamentar, da Marielle Franco e do Anderson Gomes. Isso chocou todos nós. E para mim, sinceramente, nós não podemos estar nos dividindo se a intervenção é boa ou não na área de segurança no Rio de Janeiro. Eu queria uma intervenção no Brasil inteiro. Eu espero que isso possa ser um ponto final e a gente possa, todo o país unido, no sentido de enfrentar as milícias e o crime organizado porque houve um grande desafio nessa execução, eles desafiaram o estado brasileiro, desafiaram as autoridades policiais fazendo essa execução em pleno Centro do Rio de Janeiro”, declarou Jorge Viana (PT-AC).
O presidente Michel Temer publicou um vídeo nas redes sociais.
“É inaceitável, inadmissível, como todos os demais assassinatos que ocorreram no Rio de Janeiro. É um verdadeiro atentado ao estado de direito e um atentado à democracia. Por isso, aliás, nós decretamos a intervenção, para acabar com esse banditismo desenfreado que se instalou naquela cidade por força das organizações criminosas”.
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Luiz Fux, falou sobre o assassinato na abertura da sessão.
“Nós aqui, em nome de todos os colegas da bancada, dos ministros suplentes, dos servidores do Tribunal Superior Eleitoral gostaríamos de manifestar nosso profundo pesar pela trágica morte dessa vereadora. Nós ficamos também, de certa forma, chocados com essa notícia que no mundo de hoje se tente calar a voz política através de uma atitude que demonstra um baixíssimo déficit civilizatório nesse campo e, ao mesmo, tempo, consignar em ata a nossa solidariedade aos familiares, aos amigos da vereadora Marielle Franco que, nesse momento, passam essa intensa dor de uma perda por motivos que se anulam pela bastardia da própria origem”.
No Supremo Tribunal Federal, advogados, representantes do MP e ministros também lembraram o assassinato da vereadora e do motorista dela. A presidente do Supremo, ministra Cármen Lúcia, destacou a crueldade dos crimes contra as mulheres.
“Todas nós continuamos a sofrer preconceitos e de grande, de enorme gravidade, que vão desde uma brincadeira, um deboche, uma forma de, pela zombaria, desqualificar as mulheres, desmoralizar mulheres, o que na mesma situação não acontece com os homens, até a forma de violência que agora é lembrada em todos os votos aqui, desse caso no Rio que, de madrugada, de forma crua, perversa, cruel, faz com que a gente tenha que ter muita força para continuar a acreditar num marco não civilizatório, mas um marco de humanidade do período que estamos vivendo”.
O ministro do STF Ricardo Lewandowski também falou:
“Nós vivemos hoje, lamentavelmente, no Brasil, uma maré montante de ódio, de intolerância, que atinge não apenas as mulheres e negras, como foi o caso da vereadora Marielle, mas também outras minorias. Eu penso que é função, ou até missão, do Supremo Tribunal Federal, estarmos atentos e contribuirmos para a solução desse grave problema e a pacificação de nosso país”.
Também o ministro Luís Roberto Barroso se manifestou:
“Têm faltado palavras para descrever o que está acontecendo no Rio de Janeiro neste exato momento, uma combinação medonha de desigualdade, corrupção, mediocridade. Um círculo vicioso difícil mesmo de se romper e que tem conduzido à extrema violência que nós estamos enfrentando. Portanto, é imensa a sensação de pesar e de desalento, sobretudo para quem é do Rio como é o meu caso. E acho que a única homenagem que a gente pode prestar a quem luta por justiça e igualdade é continuar a luta por justiça e por igualdade”.
Depois foi a vez de Gilmar Mendes se manifestar:
“Meus sentimentos por mais esse episódio lamentável ocorrido no Rio de Janeiro. Quero dizer da nossa responsabilidade enquanto Judiciário por esse tema da segurança pública. É necessário que se discuta essa questão da integração numa perspectiva muito mais ampla. Eu sei que há no âmbito do Congresso Nacional hoje um debate sobre a integração dos órgãos da segurança pública. Nós não podemos esquecer que há uma grande responsabilidade tanto do Ministério Público como do próprio Judiciário”.
O assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes mobilizou autoridades em todo o país e há um consenso: a apuração precisa ser rápida e os responsáveis não podem ficar impunes.
O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, do MDB, disse, em nota, que acompanha com as forças federais e integradas de segurança a apuração dos fatos para a punição dos autores desse crime hediondo.
O prefeito do Rio, Marcelo Crivella, do PRB, se disse horrorizado com o crime:
“Todos nós repudiamos o homicídio brutal que sofreu a nossa Marielle Franco, nossa vereadora que, na sua trajetória, representa bem a superação, as virtudes de coragem, de bravura, de espírito público, de solidariedade da mulher carioca”.
Para a Ordem dos Advogados do Brasil, a morte da vereadora é contra toda a sociedade e ofende diretamente os valores do estado democrático de direito.
Para a Arquidiocese do Rio, este crime “faz recair sobre todos nós a responsabilidade pela efetiva busca de uma cultura de paz, concretizada no respeito à dignidade de todas as pessoas, em especial, as mais fragilizadas”.