Não foram poucos os erros cometidos pela tecnologia em 2024. E olha que não estamos nem colocando em pauta os milhares de erros cometidos pela grande maioria dos sistemas de inteligência artificial do mundo. Vamos lembrar apenas um: quando a inteligência artificial do Google desenhou nazistas negros.
Isso não se compara, claro, ao erro técnico da empresa CrowdStrike, que tirou a Microsoft do ar, deixou milhões de pessoas encarando a "tela azul da morte" e impediu que outras milhares embarcassem em seus voos.
Confira os oito maiores fiacos, fraudes e falhas tecnológicas deste ano, segundo o MIT Technology Review.
Imprecisões do Gemini
O recurso de imagens do Gemini, ferramenta de IA do Google, lançado em fevereiro, foi ajustado para exibir diversidade, mas apresentou imprecisões históricas e raciais. Ao pedir ao Google uma imagem de soldados alemães da Segunda Guerra Mundial, fotos de militares negros apareciam, por exemplo.
A empresa decidiu recuar e desativou a função do Gemini de criar imagens de pessoas e admitiu que a tentativa bem-intencionada de ser inclusivo “errou o alvo”. Agora, a versão gratuita não gera imagens de pessoas, mas as versões pagas, sim.
Starliner, da Boeing
A Starliner, da Boeing, apresentou problemas que a impediram de fazer a viagem de volta da Estação Espacial Internacional com seus tripulantes originais, os astronautas Sunita Williams e Butch Wilmore. Por conta disso, eles estão desde junho presos na estação.
A missão de junho deveria ser uma viagem rápida de oito dias para testar a Starliner antes de missões mais longas. Mas, com vazamentos de hélio e problemas nos propulsores, a nave teve que voltar vazia para Terra.
Agora, os astronautas só retornarão à Terra em 2025, quando uma nave da concorrente SpaceX está programada para buscá-los. Após o fiasco, a Boeing demitiu o chefe de sua unidade espacial e de defesa.
E este não foi o único problema da Boeing em 2024. A empresa começou o ano com uma porta de avião se soltando no meio do voo, enfrentou uma greve de trabalhadores, concordou com uma multa milionária por enganar o governo sobre a segurança do 737 Max e viu seu CEO renunciar em março.
Pane na CrowdStrike
Em 19 de julho, milhões de computadores Windows em companhias aéreas, emissoras de TV, hospitais e residências exibiram a famosa “tela azul da morte”, indicando que não é possível ligar o computador.
Os computadores ficaram presos em um loop de inicialização por causa de uma atualização defeituosa da CrowdStrike. Na época, o CEO George Kurtz foi ao X (antigo Twitter) para dizer que o “problema” foi identificado como um “defeito” em um único arquivo.
Após a pane, a Delta Airlines, que cancelou 7.000 voos, processou a empresa em US$ 500 milhões (R$ 3,09 bilhões), alegando que a firma de segurança causou uma “catástrofe global” ao adotar “atalhos não certificados e não testados”.
A CrowdStrike disse que a culpa é da gestão da Delta e que a companhia aérea merece apenas um reembolso.
Fazendas verticais
A proposta da Bowery, uma startup de “agricultura vertical” que arrecadou mais de US$ 700 milhões, era cultivar alface em prédios usando robôs, hidroponia e luzes Led. Em novembro, porém, a empresa quebrou e se tornou o maior fracasso de startup do ano, segundo a empresa de análise CB Insights.
A Bowery dizia que as fazendas verticais eram “100 vezes mais produtivas”, já que as plantas podiam ser empilhadas a 12 metros de altura. Mas a alface da empresa era mais cara e, quando uma infecção resistente se espalhou por suas instalações, a Bowery teve dificuldades para entregar o produto.
Pagers explosivos
Uma explosão coordenada de pagers que eram usados pelo grupo extremista Hezbollah matou e feriu diversas pessoas no Líbano, em setembro.
Para o ataque, Israel criou empresas de fachada que venderam milhares de pagers com explosivos para a facção islâmica.
O pager, também chamado no Brasil de bipe, ficou popular entre as décadas de 1980 e 1990, especialmente entre os profissionais de saúde, antecedendo o celular.
No caso do Hezbollah, o aparelho continuava em uso por ser difícil de rastrear, diferente de smartphones, por exemplo.
23andMe
A 23andMe, pioneira em testes genéticos diretos ao consumidor, está afundando. O preço de suas ações está perto de zero, e um plano para criar medicamentos valiosos foi abandonado após a demissão da equipe em novembro.
Tudo isso começou por conta de vazamentos de dados médidos de clientes, que minaram a reputação da empresa. Agora, esses mesmos clientes estão preocupados com o destino de seus dados genéticos caso a empresa vá à falência.
AI slop
“AI slop” é o nome para imagens bizarras feitas com IA com o único objetivo de confundir as pessoas.
São frequentemente bizarras, como o "Jesus camarão", ou enganosas, como a imagem de uma menina tremendo em um barco a remo, supostamente mostrando a má resposta do governo dos EUA durante a passagem do furacão Helene.
Mercados voluntários de carbono
Este ano, o mercado de carbono da empresa Nori fechou, assim como a Running Tide, que tentava afundar carbono no oceano. “O problema é que o mercado voluntário de carbono é voluntário”, escreveu o CEO da Running Tide em um post de despedida, citando a falta de demanda.
Além da baixa demanda, outros problemas como tecnologia duvidosa, créditos questionáveis e compensações fictícias afetaram a credibilidade nos mercados de carbono. Em outubro, promotores dos EUA acusaram dois homens de um esquema de US$ 100 milhões envolvendo a venda de economias de emissões inexistentes.