Segundo-Sargento (FN-AV-MV) Alcantra

Por: Primeiro-Tenente (RM2-T) Luciana Santos de Almeida


Mecânico de voo contabiliza mais de
3,8 mil horas de voo e de histórias (Foto: Arquivo pessoal)

Por meio de um amigo que entregou um folheto sobre o concurso da Marinha do Brasil (MB) – e que não teve oportunidade de entrar na Força devido a uma deficiência visual – o jovem André Luiz Alcantra soube da seleção e foi aprovado. Ele se apresentou ao Centro de Recrutas do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) em Campo Grande (RJ), em 9 de março de 1992, quando ainda não poderia imaginar que se tornaria um militar da aviação naval com expressivo número de horas de voo na MB.

Casado com Viviane e pai da Sabrina, de 19 anos, confessa outra paixão, que é ser Mecânico de Voo (o fiel). Ele é o padronizador e qualificador em todos os modelos de aeronaves do Esquadrão HU-1 e instrutor do curso de Mecânico de voo.

“É uma função desafiadora e exige muito no dia a dia. Realizo-me com as mais variadas missões. Escolhi estar no Esquadrão HU-1 pela grande presença nas missões embarcadas ou em terra”. Ele conta que as pessoas acreditam que o trabalho dele é apenas voar, porém, ele precisa estar com todas as qualificações operativas em dia. As atribuições como mecânico de voo começam bem antes do início do voo, cumprindo inspeção diária, conforme a missão que a aeronave vai ser empregada, checagem de abas- tecimento, cálculo de peso e centro de gravidade e espotagem. “A minha rotina é consultar as ordens de serviço de manutenção, verificar se alguma delas indisponibiliza a aeronave e, se for o caso, solicitar e acompanhar o reparo e os testes até que esteja disponível para voar”, contou.

Profissões como essa – aliás, aplicável a todo militar – exigem muitos períodos longe de casa, e o apoio da família é essencial, conforme exemplificou. “Foram duas missões: Operação ‘Antártica’ e segurança da Embaixada do Brasil no Haiti. Na ‘Operantar’, foram seis meses operando no continente Antártico, apoiando as pesquisas do Brasil na Antártica e no reabastecimento da Estação Antártica Comandante Ferraz. Também passei afastado de casa por 12 meses no Haiti, na segurança de nossa Embaixada, pelo CFN. Foi, com certeza, a missão que marcou minha carreira. Após menos deum mês da minha chegada, o Haiti foi acometido por um terremoto de grande escala, causando muitas mortes e destruição no país. A presença da embaixada muito contribuiu naquele momento. Minha esposa, filha, familiares e amigos me passavam conforto para eu estar sempre pronto a cumprir minha missão. Viviane e Sabrina eram meu colírio ao fim do dia nas conversas pelo Skype ou ao telefone e, com certeza, sem elas tudo seria mais difícil”, revelou.

Curiosidades dessa profissão incluem a reação durante uma pane com a aeronave em voo ou outros desafios vivenciados a bordo como diminuição de visibilidade. “Em uma situação como essa, o mais sensato é gerenciar o risco que envolve a pane e fazer o pouso de precaução se necessário. Pilotos e mecânicos de voo são treinados para cumprir o gerenciamento de cabine e tomar a melhor decisão em momentos como esses. Meus momentos mais desafiadores são os voos por instrumentos (IFR IMC), por estar dentro de uma camada de nuvens seja dia ou noite, pois temos que respeitar o descanso, estar atentos aos instrumentos durante os pro- cedimentos de subida ou descida. Checar os instrumentos do painel e as reações da aeronave assim como dos tripulantes quanto a vertigem”, explicou.

Para os que estão iniciando a carreira na área, Alcantra conta que é necessário ter uma visão mais abrangente da aeronave, além de conhecer um pouco de todas as especialidades da aviação, e destaca, ainda, a satisfação de fazer parte desse trabalho. “É gratificante fazer parte de resgates no mar ou em terra, apoiar nas mais variadas missões da Marinha pelos Distritos Navais. Sou muito feliz na função de Fiel de aeronaves do Esquadrão HU-1. A Marinha foi uma grande conquista na minha vida. Sou muito grato por tudo que a Força me proporcionou ao longo da carreira. Faço parte de uma tropa de elite!”, comemorou.