Por g1 RR — Boa Vista


Garimeprios ilegais em área aberta por garimpo na Terra Yanomami. — Foto: Ronny Alcântara/Rede Amazônica/Arquvo

A invasão do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami cresceu quase 20 mil vezes entre 1985, na década em que houve uma corrida pelo ouro que culminou na morte de indígenas, e 2022, segundo uma nota técnica do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia. Atualmente, 3.278 hectares do território foram invadidos pela atividade ilegal — 3,4% do território, que tem 9,6 milhões.

O levantamento do Ipam foi feito com base em dados de Mineração do MapBiomas Brasil, que são baseados no mapeamento das cicatrizes deixadas pelos garimpos em 37 anos, entre os anos de 1985 e 2022. A nota técnica foi divulgada na última sexta-feira (26).

A Terra Yanomami é o maior território indígena do Brasil em extensão territorial e enfrenta uma crise sem precedentes devido ao avanço do garimpo ilegal, com casos graves de indígenas com malária e desnutrição severa.

Área destruída pelo garimpo ilegal na região do Rio Catrimani, na Terra Yanomami. — Foto: Ailton Alves/Rede Amazônica/Arquivo

Segundo o estudo do Ipam, a Terra Yanomami tinha apenas 15 hectares invadidos pela atividade ilegal em 1985. À época, o território ainda não havia sido homologado. Ele só foi demarcado sete anos depois, em 1992.

Em toda a Amazônia brasileira os números são ainda mais alarmantes. Atualmente, há 80.180 pontos de garimpo na região em uma área de 241 mil hectares — mais de duas vezes o tamanho de Belém, capital do Pará.

Cerca de 25 mil hectares estão em 17 terras indígenas diretamente invadidas. Segundo o Ipam, outras 122 estão em bacias hidrográficas garimpadas, totalizando ao menos 139 territórios e seus rios contaminados pela atividade.

Sobrevoo da PF em área devastada por garimpeiros na Terra Yanomami — Foto: Reprodução/PF/Arquivo

As terras indígenas mais afetadas são as Kayapó, Munduruku e Yanomami, respectivamente. Localizada no Pará, a Kayapó concentra 55% de toda a área garimpada em terras indígenas da Amazônia.

A Munduruku, também no estado do Pará, tem 22% de área garimpada e a Terra Indígena Yanomami tem 13%. Juntos, os três territórios concentram 90% da área indígena invadida por garimpeiros ilegais.

A Kayapó teve um aumento de mais de 1.339% entre 1985 e 2022, sofrendo um salto de 957 hectares para 13.775. A Terra Indígena Munduruku teve a área de garimpo expandida em mais de 129 vezes nos 37 anos da análise, o que representa um aumento de 42 hectares para 5.463 (veja mais no gráfico abaixo).

Área de garimpo em terras indígenas em 2022
Dados em hectares
Fonte: Ipam

Dados divulgados pelo Greenpeace Brasil em março deste ano já indicavam a invasão nas terras indígenas Yanomami, Kayapó e Munduruku. O estudo apontou que o garimpo invadiu uma área equivalente a quatro campos de futebol por dia ao longo de todo o ano de 2023 nessas regiões.

As terras indígenas são protegidas por lei e, por isso, qualquer atividade exploratória nestas áreas é considerada ilegal.

Impacto nos rios

De acordo com o Ipam, a extração ilegal do ouro ainda atinge os rios da Amazônia. Ele explica que parte da atividade garimpeira é feita pela abertura de buracos "que, em sua maioria, encontram-se ao longo das margens dos rios", impactando os corpos d’água das proximidades.

O estudo aponta que embora 17 terras indígenas tenham ocorrência direta de garimpo, outras 122 estão localizadas em bacias hidrográficas impactadas pela atividade. Dessas, 77 TIs tem 100% do seu território em bacias com garimpos e 45 TIs têm parte de seus territórios em bacias com garimpos.

Essas águas são contaminadas por mercúrio, um metal altamente tóxico ao ser humano e usado pelos garimpeiros para separar o ouro de outros sedimentos e, assim, deixá-lo "limpo". Após isso, o mercúrio é jogado nos rios, causando poluição ambiental. Além disso, entra na cadeia alimentar dos animais e afeta diretamente a saúde da população, principalmente os povos tradicionais.

Atividade garimpeira tem provocado a poluição dos rios na Terra Yanomami. — Foto: © Bruno Kelly/HAY/Arquivo

Como consequência, o mercúrio no organismo pode causar graves problemas de saúde que afetam o sistema nervoso. O metal líquido fica retido no organismo devido à capacidade de bioacumulação.

Em abril, um novo estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Instituto Socioambiental (ISA) alertou que 94% dos indígenas de nove comunidades da Terra Yanomami têm alto nível de contaminação pelo metal.

O estudo coletou amostras de cabelo de 287 indígenas do subgrupo Ninam, do povo Yanomami, e revelou que os indígenas que vivem em aldeias mais próximas aos garimpos ilegais têm os maiores níveis de exposição ao mercúrio.

O estudo da Fiocruz também analisou 47 amostras de peixes e indicou que todos eles apresentaram algum grau de contaminação pelo metal, com níveis de 0,021 a 0,535μg/g.

Em 2022, um estudo da Polícia Federal revelou que quatros rios da Terra Yanomami tinham alta contaminação por mercúrio: 8.600% superior ao estipulado como máximo para águas de consumo humano.

Terra Yanomami

A Terra Yanomami está em emergência de saúde desde janeiro de 2023, quando o governo federal começou a criar ações para atender os indígenas, como o envio de profissionais de saúde e cestas básicas. Além de enviar forças de segurança a região para frear a atuação de garimpeiros.

Mesmo com o enfrentamento, um ano após o governo decretar emergência, o garimpo ilegal e a crise humanitária permanecem na região.

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O Ministério dos Povos Indígenas (MPI) estima que cerca de sete mil garimpeiros ilegais continuam em atividade no território. O número de invasores diminuiu 65% em um ano, se comparado ao início das operações do governo federal, quando havia 20 mil invasores no território.

Em março deste ano, 600 indígenas, entre pacientes e acompanhantes, estavam vivendo na Casa de Saúde Indígena Yanomami (Casai), na capital Boa Vista. O local recebe os indígenas que estão com doenças mais graves e precisam receber atendimento de saúde dos hospitais na capital.

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