Garimpo do Rangel na Terra Yanomami — Foto: Alexandro Pereira/Rede Amazônica
O Ministério dos Povos Indígenas (MPI) estima que cerca de sete mil garimpeiros ilegais continuam em atividade na Terra Yanomami. O número foi informado nesta terça-feira (26) pelo secretário Nacional de Direitos Territoriais Indígenas do MPI, Marcos Vesolosquzki Kaingang, em uma coletiva de balanço da Operação Catrimani, coordenada pelo Exército.
O número de invasores diminuiu 65% em um ano, se comparado ao início das operações do governo federal, quando havia 20 mil invasores no território.
Agora, o governo federal prepara uma nova fase para a retirada dos garimpeiros com a implantação da Casa de Governo em Roraima, onde está a maior parte da Terra Yanomami e foco da crise humanitária.
"Hoje a gente tem uma estimativa de 6 a 7 mil garimpeiros ou menos que isso, mas são garimpeiros que continuam fazendo o trabalho deles que é colocar em risco a vida dos Yanomami [...] Esse é um dos primeiros passos na proteção territorial, a presença do estado brasileiro é crucial e nisso vai ter operação que o [Nilson] Tubino [diretor da Casa de Governo] vai coordenar muito bem", adiantou.
Operação de combate ao garimpo na Terra Yanomami divulga resultados
Na coletiva, os representantes das Forças Armadas, da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e da Casa de Governo comentaram sobre os resultados da operação Catrimani, iniciada em janeiro, quando a emergência em saúde completou um ano, para atuar de forma emergencial no território.
A Catrimani foi criada através da portaria nº 263 do Ministério da Defesa e permitiu a entrega de 15 mil cestas básicas no território. A Marinha do Brasil, Exército Brasileiro e Força Aérea Brasileira (FAB) participaram da operação.
Como resultado, as Forças Armadas apresentaram os seguintes números:
- 374 militares envolvidos;
- 2.400 horas de voo;
- 1.100.000 litros de querosene de aeronave utilizados;
- 330.000 kg cestas transportadas;
- 11.800 cestas lançadas;
- 5 evacuações aeromédica;
- 3 apoios à Polícia Federal e Civil.
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Autoridades apresentaram resultados da operação Catrimani — Foto: Samantha Rufino/g1 RR
Agora, com o funcionamento da Casa de Governo, os militares devem apoiar nas ações permanentes do governo federal no território. Na nova fase, o governo deve atuar em três frentes: desintrusão do garimpo, saúde e alimentação, com a continuidade da entrega de cestas básicas aos indígenas.
"Esse trabalho vai ser continuado com uma nova logística, uma outra estrutura [...] para liberar as Forças Armadas para contribuir em outras operações [...] A Casa de Governo está com esse papel de articular esses órgãos em um objetivo comum", explicou Nilson Tubino, o chefe da casa de governo em Roraima.
Embora tenha a participação direta dos sete ministérios, o governo federal afirma que todos os órgãos federais estão envolvidos na atuação chamada de "ações permanentes". A Casa de Governo vai funcionar até 31 dezembro de 2026, sob coordenação da Casa Civil da Presidência da República.
Operação Catrimani
A operação Catrimani ocorreu em conjunto das Forças Armadas com o Ministério dos Povos Indígenas. Com a mobilização dos militares, 200 comunidades foram atendidas com cestas básicas. As entregas foram coordenadas pela Funai.
Durante o apoio logístico, as Forças Armadas percorreram 680.000 km, o que segundo o chefe do Estado-Maior do Comando Operacional Conjunto Catrimani, Brigadeiro Eduardo Miguel equivale a 17 voltas em torno da terra.
Por conta do tamanho do território, considerado a maior Terra Indígena do Brasil, o chefe do Comando Operacional avaliou que o maior desafio foi vencer as grandes distâncias via aérea, isto porque é a única maneira de acessar as comunidades.
"A gente não tem estrada, a gente não tem um rio, então toda essa distância a gente tem que vencer por meios aéreos. Isso traz uma dificuldade adicional porque esses meios aéreos precisam ser supridos com combustível da localidade que a gente vai pegar".
Para isso, foram empregados um helicóptero UH-15, da Marinha, um HM-1, do Exército e o Black Hawk, da FAB. Além disso, também foi utilizada a aeronave C-105, da FAB.
Cestas foram entregues em cerca de 200 comunidades, segundo o comando da Operação — Foto: Comando Militar da Amazônia/Divulgação
Na avaliação da Funai, a operação teve bons resultados, pois o número de pontos de entrega dentro do território aumentaram de 90 para 177, de acordo com a coordenadora da Frente de Proteção Etnoambietal Yanomami da Funai Elayne Rodrigues Maciel.
"Eu digo com muita certeza que nós conseguimos atender toda a região crítica de Auaris e Surucucu. Não temos notícia de nenhuma comunidade que não tenha recebido", afirmou.
Porém, segundo a coordenadora, os próprios indígenas não pretendem continuar recebendo as cestas. O apoio só será necessário enquanto não for possível retirar o alimento do roçado feito por eles. Com o início da desintrusão do garimpo, a Funai já identificou vários pontos de roça pelo território.
Devido ao avanço do garimpo ilegal nos últimos anos, eles não conseguiam plantar o alimento, isto porque a atividade devasta o território e afugenta a caça. Doentes, os adultos não conseguem buscar comida para a família ou cultivar plantações.
"Você precisa ter essa paciência e entender que são ciclos e que eles vão precisar ainda dessa alimentação para não correr o risco de precisar tirar o alimento de uma roça nova e de novo ter ali um quadro de insegurança alimentar, mas o que a gente tem percebido é que tem dado muito certo", avaliou a coordenadora.
Operação Catrimani divulga resultados
Terra Yanomami
A Terra Yanomami é considerada o maior território indígena do Brasil. A região enfrenta uma crise sem precedentes, com casos graves de indígenas com malária e desnutrição severa. A crise foi agravada pelo avanço do garimpo ilegal, principalmente nos últimos anos.
Em janeiro de 2023, o governo federal começou a criar ações para enfrentar a crise, com o envio de profissionais de saúde, cestas básicas e materiais para auxiliar os Yanomami. Além disso, forças de segurança foram enviadas para a região para frear a atuação de garimpeiros no território.
Mesmo com o enfrentamento, um ano após o governo decretar emergência, o garimpo ilegal e a crise humanitária permanecem na região.
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