A multinacional britânica Rolls-Royce diz que pagou US$ 9,32 milhões (R$ 29,9 milhões) em propina para fechar contratos com a Petrobras. A informação está no termo do acordo de leniência assinado entre a empresa e autoridades americanas. Acordos do tipo são semelhantes às delações premiadas. Em troca da redução de punições, empresas suspeitas de corrupção aceitam colaborar com as investigações.
De acordo com o texto, a maior parte do dinheiro eram comissões para que intermediários ajudassem a empresa a fornecer geradores de energia para as plataformas de petróleo P-51, P-52 e P-53. Do valor total, US$ 1,6 milhão (R$ 5,4 milhões) foi propina paga diretamente a uma pessoa envolvida no esquema que não foi identificada.
Ao menos um delator da Operação Lava Jato já havia afirmado que recebeu propina da Rolls-Royce: Pedro Barusco, ex-gerente da estatal. Ele disse que ganhou US$ 200 mil (cerca de R$ 642 mil, na cotação atual) para ajudar a fechar um contrato de US$ 100 milhões (mais de R$ 320 milhões) com a Petrobras.
Segundo a delação de Barusco, outras pessoas teriam sido beneficiadas no esquema, mas os nomes não foram informados. Os pagamentos aconteceram entre os anos de 2003 e 2013, segundo as investigações.
Acordo no Brasil
O Ministério Público Federal (MPF) confirmou nesta terça-feira que fechou acordo de leniência com a Rolls-Royce em meio às investigações da Operação Lava Jato. O acordo prevê que a multinacional pague mais de R$ 81 milhões, que serão destinados ao ressarcimento dos prejuízos causados à Petrobras.
O acordo foi firmado na sexta (13) e vai ser submetido à homologação da 5ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal.
O anúncio de cooperação com o Brasil foi feito inicialmente pela própria Rolls-Royce, que divulgou acordos também com autoridades americanas e Grã-Bretanha. A empresa confirmou casos de corrupção nos três países.
A Rolls-Royce deve pagar US$ 25,58 milhões em multas no Brasil, quase US$ 170 milhões nos Estados Unidos, além de 497 milhões de libras esterlinas na Grã-Bretanha. Segundo a empresa, o total dos acordos de leniência nos três países chega a 671 milhões de libras esterlinas.
A Rolls-Royce entregou ao MPF, no início de 2015, os resultados de investigação interna promovida por escritório especializado e se colocou à disposição das autoridades para o esclarecimento dos fatos e indicando seu interesse em arcar com sua responsabilidade. A atitude da empresa britânica foi espontânea, de acordo com o MPF.
'Comportamento adequado'
Em nota enviada nesta terça, o procurador da República Paulo Roberto Galvão, da força-tarefa da Operação Lava Jato, elogiou a ação da Rolls-Royce.
"Esse é o comportamento adequado de pessoas jurídicas que implantaram programas efetivos de integridade: ao invés de negarem os fatos e adotarem medidas para obstruir as investigações, espera-se que essas empresas promovam suas próprias investigações, forneçam todas as provas às autoridades sem restrições e busquem ressarcir todos os prejuízos causados", diz o texto.
Ainda segundo a nota, com acordos de leniência e outras medidas as empresas conseguem solucionar pendências com a Justiça e "demonstrar que estão realmente dispostas a manter suas operações sem a prática nefasta da corrupção".
"Esperamos que esse comportamento também seja um legado da Operação Lava Jato para um ambiente de negócios mais saudável no país", diz o procurador.
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