Edição do dia 16/03/2018

16/03/2018 21h50 - Atualizado em 16/03/2018 21h50

Especialistas tentam explicar baixa taxa de resolução de crimes no Rio

‘Polícia Civil tem que ter estrutura capaz de atender o local do crime o mais rápido possível’, diz integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

As autoridades e os especialistas em segurança pública ouvidos pelo Jornal Nacional concordaram ao menos num ponto: é importantíssimo solucionar os assassinatos da vereadora Marielle e do motorista Anderson.

As cenas de um crime sempre deixam pistas para a investigação. Mas, no Rio, na maioria das vezes, elas não levam a lugar nenhum.

“Normalmente, para elucidar um homicídio, a polícia precisa chegar o mais rápido possível no local do crime e, para isso acontecer, ela tem que ter uma estrutura capaz de atender o local do crime o mais rápido possível. Isso contribui para que a gente tenha uma das mais baixas taxas de elucidação de homicídios do mundo”, disse Arthur Trindade, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
 
“A situação só vai se resolver com inteligência. O Brasil não tem essa preocupação em desenvolver inteligência nas suas atividades, e segurança pública sem inteligência não trará resultados”, afirmou Jayme de Oliveira, presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros.

Para a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, os assassinatos de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes não podem fazer parte dos crimes sem respostas.

“É o assassinato de uma líder política, de uma defensora de direitos fundamentais. O país tem um compromisso com a preservação dos direitos humanos, neste ano de 2018, em que a Constituição brasileira faz 30 anos, e que tem a defesa de direitos fundamentais como elemento central do seu eixo de normas, é importantíssimo que nós possamos dar uma resposta para esse crime, para desvendá-lo e para puni-lo, disse Dodge.

O presidente da Ordem dos Advogados do Rio, Felipe Santa Cruz, afirma que solucionar esses crimes é uma questão fundamental para a democracia.

“O que nós cobramos dos nossos parlamentares é o debate de ideias, é a luta pelas suas ideias, exatamente o que ela fazia. Ou nós garantimos que o nosso país não se transformará num país onde não há qualquer segurança para aqueles que exercem seus mandatos, denunciam abusos das forças policiais, ou nós vamos regredir, e a nossa democracia estará em risco”, disse.
 
A indignação levou uma multidão para as ruas de várias cidades no país. Os brasileiros cobram uma resposta rápida: quem matou Marielle?

Em nota, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos diz que o “estado brasileiro tem a obrigação de investigar este lamentável assassinato de maneira séria, rápida, exaustiva, independente e imparcial”.

O caso é tão emblemático que o Ministério das Relações Exteriores enviou um pedido a todas as embaixadas brasileiras, para que divulguem amplamente as medidas que estão sendo tomadas para esclarecer o crime. No Rio, nós procuramos as autoridades para saber o que está sendo feito.

Na quinta-feira (15), em nota, o interventor federal no Rio, general Walter Souza Braga Netto, declarou que acompanha o caso, em contato permanente com o secretário de estado de Segurança. O secretário de Segurança, general Richard Nunes, disse que determinou à Divisão de Homicídios ampla investigação sobre os assassinatos.

Nesta sexta-feira (16), nós voltamos a pedir entrevistas ao interventor federal e, ao secretário de Segurança, bem como ao chefe da Polícia Civil, Rivaldo Barbosa. Mas eles não quiserem gravar. As assessorias informaram que estão trabalhando para resolver o crime o mais rápido possível.

“Nós precisamos de reformas profundas na Polícia Militar, na Polícia Civil, no sistema prisional, e o mais difícil de ser implementado, o mais urgente, que é a implementação de políticas públicas nas favelas do Rio de Janeiro. Não dá mais para convivermos com esse apartheid social”, disse Antonio Carlos Costa, fundador da ONG Rio de Paz.