O Jornal Nacional teve acesso com exclusividade às câmeras de segurança que registraram as últimas imagens da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes com vida. A reportagem é de Paulo Renato Soares, Arthur Guimarães e Leslie Leitão.
21h02. As imagens mostram cinco carros que estão estacionados do lado esquerdo na Rua dos Inválidos, no Centro do Rio de Janeiro. O carro que ela a vereadora Marielle é o terceiro, que está com as luzes acesas. Atrás dele tem um outro carro prata com as luzes apagadas. Pouco antes, Marielle está num sobrado ao lado participando de um encontro de mulheres negras.
Às 21h03, a vereadora sai do prédio e se aproxima do carro pelo lado direito. Ela parece se despedir de uma mulher que passa. Do lado esquerdo está a assessora. Por último, chega o motorista Anderson, que logo entra no carro.
Marielle abre a porta da frente, pega uma pasta, depois abre a porta de trás e deixa a pasta a bolsa. A assessora entra no carro. Depois Marielle fecha a porta da frente e vai se sentar no banco de trás do lado direito.
São as últimas imagens da vereadora e do motorista ainda vivos.
Às 21h04, Anderson dá uma pequena marcha à ré e parte.
Exatamente dez segundos depois o carro prata estacionado logo atrás começa a sair. Mas para, espera um outro carro escuro passar, e segue na mesma direção do carro onde está Marielle.
A polícia já está com esse vídeo. Peritos analisam todos os detalhes que possam revelar quem está por trás do crime, principalmente informações sobre os dois carros que aparecem nas imagens.
A equipe do JN também teve acesso ao depoimento da assessora de Marielle, que estava do lado esquerdo do carro.
A assessora afirmou que a vereadora tinha o costume de andar no banco do carona, mas resolveu, naquele dia, sentar no banco de trás próximo a ela.
Disse também que as duas estavam escolhendo fotos do evento que tinha acabado de acontecer e que foram em direção à Tijuca, seguindo pela Rua Mem de Sá, a Rua Frei Caneca, passando pelo Hospital da Polícia Militar.
A assessora afirmou que estava distraída e não percebeu que estava sendo seguida.
Quando o carro entrou na Rua João Paulo I, local do crime, por volta das 21h10, Marielle esboçou uma dúvida, dizendo: “Ué”. Logo depois, a assessora ouviu o barulho de uma rajada, e o motorista Anderson somente disse: “Ai”.
A assessora declarou que acredita que os disparos vieram da parte de trás do veículo em sentido diagonal e que, de forma muito rápida, se abaixou no interior do veículo.
Disse ainda que Marielle usava cinto de segurança e que tombou em cima dela. Que o veículo no momento estava em baixa velocidade e o carro continuo andando e que ela conseguiu puxar o freio de mão para parar o veículo.
A assessora declarou que não conseguiu ver veículo ou moto próximo e que pediu ajuda de pessoas que estavam passando no local.
Ela afirmou ainda que Marielle não comentou que estava sendo ameaçada e que estava muito tranquila.
A assessora contou que uma pessoa que trabalhava com a vereadora disse que, há cerca de dez dias, estava descendo ou subindo de ônibus quando foi abordada por um homem perguntando se trabalhava com Marielle, em tom ameaçador.
Os policiais percorreram todo o trajeto feito pela vereadora Marielle e o motorista Anderson. Eles estão em busca de outras imagens que possam dar pistas sobre quem são os assassinos.
Os policiais entraram em bares, lojas, casas, qualquer prédio que tivesse uma câmera apontada para a rua.
A estimativa da polícia é que da hora em que a vereadora Marielle e o motorista Anderson saíram da Lapa até o momento em que foram assassinados se passaram menos de 15 minutos.
A assessora de Marielle escreveu numa rede social: “Estou viva. Mas a alma oca. A carne, ainda trêmula, não suporta a dor minha amiga, na tentativa de calarem a sua voz, a ampliaram em milhares de bocas. Para sempre. #Mariellevive”.