O custo do “eu mereço” nas finanças das mulheres
Sem planejamento financeiro, as compras de fim de ano disfarçadas de recompensas podem se tornar uma armadilha
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O fim do ano traz muitos gastos, que, sem planejamento financeiro, podem gerar consequências a longo prazo. Nesse contexto, é comum que as mulheres caiam em armadilhas e justifiquem as compras por impulso com a famosa frase “eu mereço”.
Conforme uma pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 77,8% das brasileiras estavam endividadas em novembro deste ano, um avanço de 0,4 p.p. em relação ao mês anterior. No entanto, apesar de se intensificar em novembro e dezembro, esse problema de acúmulo de dívidas é frequente ao longo de todo o ano.
Esse problema tem raízes históricas e culturais, como o fato de as mulheres terem conquistado o direito à abertura de contas bancárias apenas na década de 1960, fazendo com que as meninas hoje tenham poucas referências femininas nessa área. Somado a isso, elas não são ensinadas a planejar gastos e construir patrimônio.
De acordo com Valéria Meirelles, doutora em Psicologia Clínica e referência em psicologia do dinheiro, existe um sentimento de inadequação na administração de recursos externos. “É como se a mulher fosse boa para produzir dinheiro, cuidar do dinheiro da casa, mas na hora de fazer ele render, escolher o melhor investimento, ela trava.”
Dados da Bolsa de Valores do Brasil (B3) mostram que mais de 1 milhão de mulheres começaram a investir nos últimos 5 anos. Mesmo assim, a proporção de mulheres em relação ao total é de 25,7%, já os homens detêm mais de 74% das contas habilitadas. Para a contadora Victoria Giroto, fundadora do projeto “Invista como uma garota” no Instagram, ganhar dinheiro é apenas um passo para a independência financeira. O ponto-chave está em construir patrimônio, o que representa um desafio em meio à pressão estética.
Segundo o IBGE, as mulheres gastam cerca de 30% do salário mensal com estética. “A juventude e a beleza ainda são as moedas mais valiosas para as mulheres socialmente”, pontua Victoria. Mais do que atender expectativas sociais, a preocupação com a estética está ligada, também, às finanças. “A gente não gasta com isso só porque gosta, o ponto é que afeta a nossa empregabilidade e a nossa carreira.”
“Nessa cultura, conforme a mulher envelhece, ela vai perdendo valor e caindo na invisibilidade. Então, entra em um desespero brutal, faz uma série de procedimentos estéticos para continuar no mercado matrimonial e nisso ela pode se endividar ao invés de pegar uma parte desse dinheiro e investir”, complementa Valéria.
Algumas estratégias podem ser consideradas para driblar essas questões e fugir das dívidas. Segundo Victoria, é importante organizar as finanças de forma anual, considerando os gastos que acontecem em períodos específicos do ano. A especialista também recomenda o uso de simuladores de investimento para enxergar o quanto é possível economizar a longo prazo.
Além disso, é essencial entender seus objetivos de vida e como atingi-los. “Só conseguimos ter uma estratégia quando sabemos o que queremos para a nossa vida minimamente”, diz Valéria.
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Nessa época de festas, é comum que as pessoas fiquem mais suscetíveis aos apelos comerciais e relacionais, o que também pode ser uma armadilha para os gastos exagerados. Assim, “o antídoto é ter as contas na ponta do lápis”.
Justificar as compras com “eu mereço”, só faz sentido se estiver dentro do seu orçamento. “Pense no custo desse ‘eu mereço’ e nos impactos que ele traz. Por mais que você queira ser bom consigo mesmo, se não houver esse dinheiro, você está sendo o seu grande inimigo”, finaliza.