Projeto “Adsumus 20”. Foi assim que o Segundo-Sargento (Fuzileiro Naval) Moisés de Souza Pinheiro Leitão nomeou a iniciativa de celebrar seus 20 anos de serviço prestados ao Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) da Marinha do Brasil (MB). O audacioso plano de percorrer os 734 quilômetros que separam a sede da MB, no centro do Rio de Janeiro (RJ), a Sorocaba (SP) foi posto em prática e, após 14 dias de muito esforço, o militar conseguiu conquistar seu objetivo.

Nascido em Campo Limpo Paulista, onde já era uma promessa do atletismo, o militar tem se destacado pelo condicionamento físico desde que ingressou na MB. Em 2014, venceu uma competição de crossfit ocorrida três semanas após uma ultramaratona de 24 horas. “Nessa competição, percorri 141 quilômetros. Pratico várias atividades físicas, mas corrida é a minha favorita. Sempre gostei de desafios e então tive a ideia de percorrer esse trajeto entre o Rio e São Paulo e, desde o fim do ano passado, direcionei o meu treinamento para isso”, contou o Sargento (FN) Leitão.

O planejamento inicial era rodar entre 40 km e 50 km no período da manhã (das 4h às 11h) e entre 30 km e 40 km de tarde/noite (das 14h às 21h), percorrendo entre 70 km e 90 km diariamente, com períodos para descanso, recomposição e análise. As dificuldades apareceram de várias formas, como para conseguir um segundo par de tênis, porque o único que tinha teve de ser abandonado devido ao grande esforço.

Começar foi a parte mais difícil, devido às incertezas e à falta de recursos, mas com determinação os primeiros passos foram dados. Momentos de dor também tiveram presentes nesta fase, o que costuma ser comum para quem pratica esse tipo de atividade. “No primeiro dia, por exemplo, fez muito calor, e não conseguimos começar cedo. Só rodei 71 km, indo do centro do Rio (Museu do Amanhã) até Santa Cruz. Já o terceiro dia foi o mais difícil e desgastante. Tive que atravessar muitos aclives e declives. Fomos de Monsuaba até próximo a Taquari em Paraty, correndo 78 km com muita dificuldade. O desafio do quarto dia foi devido ao desgaste dos três primeiros dias: o ritmo estava mais lento, pegamos chuva forte e a coxa estava travada”, lembrou.

Para realizar esse sonho, o militar recebeu apoio dos familiares e de amigos. “Foi muito importante a ajuda voluntária de diversas pessoas que estão me acompanhando nessa empreitada, como a de um grande amigo que serviu no Corpo de Fuzileiros Navais por 10 anos, que conheci no curso de Operações Especiais de Fuzileiros Navais, em 2006. Ele conhecia bem a região que atravessei e me indicou o melhor trajeto, apoiou com alimentação, segurança e hospedagem”, destacou emocionado. “Além disso, tive ajuda de amigos em São Sebastião e em Santos”, acrescentou.

Nesse tipo de trajeto, o maior perigo é o trânsito, contudo o militar já está acostumado a correr em rodovias. “Tenho experiência e corria de preferência na contramão dos carros, no acostamento. Quando a visibilidade estava reduzida, usava um colete reflexivo e luz de led para ficar bem visível no trânsito. Além disso, havia pessoas preparadas me acompanhando em caso de emergência”, explicou.

Ele também não descuidou da alimentação. Fazia uma refeição reforçada logo ao acordar, depois pequenas refeições durante a corrida até parar para almoçar e descansar. No período da tarde e à noite repetia o processo e terminava o dia com um jantar rico em carboidratos e proteínas.

Mesmo esgotado depois de tanto esforço, ao completar o percurso de mais de 700 km, na entrada do Batalhão de Defesa Nuclear, Biológica, Química e Radiológica de Aramar (SP), onde serve, o Sargento Leitão ainda concedeu uma entrevista para a TV, que decidiu contar essa história. “Foi um momento muito emocionante, realmente uma superação concluir esse objetivo. Minha família estava lá, incentivando, isso é muito valioso para mim. Precisei respirar um pouco antes de falar com a jornalista, mas foi ótimo, só tenho que agradecer o apoio e a ajuda que recebi. Foi gratificante demais tudo isso que passei”, afirma.  

Depois de tantos anos na carreira, “big milk”, como é chamado pelos companheiros de turma, também relembrou outro momento especial: 5 de dezembro de 2004, quando essa história começou.  “Nesse dia, quando soube melhor o que fazia um Fuzileiro Naval, não quis ser outra coisa na vida. Claro que precisei me dedicar para passar no concurso, aprender a nadar, treinar forte e estudar. Deu certo: fiquei em 8º lugar e ingressei no CFN com 18 anos recém completados. Já era atleta amador, mas deixei o atletismo e a música em segundo plano porque para mim só importava passar naquela prova”, relembra. Atualmente, já casado e pai, o militar externa seu orgulho pela escolha que fez. “Sinto-me realizado, feliz pela escolha e muito grato por tudo que vivenciei e aprendi”.