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Coração de Maria

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 Nota: Para o símbolo cristão, veja Imaculado Coração de Maria.

Coração de Maria
  Município do Brasil  
Símbolos
Bandeira de Coração de Maria
Bandeira
Brasão de armas de Coração de Maria
Brasão de armas
Hino
Gentílico mariense
Localização
Localização de Coração de Maria na Bahia
Localização de Coração de Maria na Bahia
Localização de Coração de Maria na Bahia
Coração de Maria está localizado em: Brasil
Coração de Maria
Localização de Coração de Maria no Brasil
Mapa
Mapa de Coração de Maria
Coordenadas 12° 13' 58" S 38° 45' O
País Brasil
Unidade federativa Bahia
Região metropolitana Área de Expansão Metropolitana de Feira de Santana
Municípios limítrofes Feira de Santana, Irará, Conceição do Jacuípe, Pedrão, Teodoro Sampaio e Santanópolis
Distância até a capital 104 km
História
Fundação 1 de junho de 1944 (80 anos)
Administração
Prefeito(a) Kley Lima (PP, 2021–2024)
Características geográficas
Área total [1] 378,420 km²
População total (IBGE/2022[2]) 26 692 hab.
Densidade 70,5 hab./km²
Clima tropical e ameno
Fuso horário Hora de Brasília (UTC−3)
Indicadores
IDH (PNUD/2010 [3]) 0,602 médio
PIB (IBGE/2021[4]) R$ 226,365,60 mil
PIB per capita (IBGE/2021[4]) R$ 10 109,67

Coração de Maria é um município brasileiro do estado da Bahia pertencente à Área de Expansão Metropolitana de Feira de Santana.

Habitadas originalmente pelos povos indígenas paiaiás e de outras etnias cariris que resistiam à colonização portuguesa, as terras que compõem o contemporâneo município de Coração de Maria têm suas origens em uma frente colonizadora do sertão da Capitania da Baía de Todos os Santos que, após o grande assassinato dos habitantes originários pelas diversas entradas e bandeiras lusobrasileiras daquele período, resultou na formação de missões jesuíticas abrigando os indígenas remanescentes e de grandes sesmarias que concentravam as terras evacuadas dessas populações.[5]

Em relação ao primeiro tipo de colonização (“missões jesuíticas”), essas terras constituíam o entorno do território que fora doado pelas autoridades coloniais à missão religiosa que havia implantado, em 1562, um colégio jesuíta em Água Fria e que, na segunda metade do século XVII, fundou o “Aldeamento da Purificação”, reunindo os indígenas remanescentes com o objetivo de catequese. Posteriormente, esse aldeamento deu origem ao povoado de "Purificação dos Campos", o qual viria se tornar a contemporânea cidade de Irará.[5]

Concomitante ao trabalho de catequese dos indígenas que habitavam originalmente esse território, houve a apropriação da terra pelos colonizadores portugueses que constituíram grandes sesmarias sobre elas, sendo que as terras da contemporânea Conceição de Maria acabaram situadas na “Sesmaria de Água Fria”, propriedade de origem controversa que foi comprada por João Lobo de Mesquita, vereador do Senado da Câmara Municipal de Salvador[6], e que veio a ser adquirida em 1650 pelo sertanista João Peixoto Viegas, o qual requereu em 1653 a confirmação de sua sesmaria ao rei de Portugal, ao solicitar a carta de sesmaria, a qual foi concedida em 3 de julho de 1655.[5][7][8]

De acordo com o historiador Luiz Cleber Freire, a seiscentista Sesmaria de Água Fria foi a propriedade do período colonial cujo espaço territorial abrigava as terras que constituem os contemporâneos municípios de Coração de Maria, Água Fria, Santanópolis, Irará, Lamarão, Pedrão e além de partes de Santa Bárbara.[7][8]

A Sesmaria de Água Fria abrigou em seu interior um conjunto de fazendas e currais de gado e, em termos políticos e religiosos, compreendia também a freguesia de São João da Água Fria. Em 28 de abril de 1727, esta freguesia foi desmembrada do município de Cachoeira e elevada à condição de vila, constituindo um município ultramarino do Reino de Portugal que tinha jurisdição sobre boa parte do espaço correspondente à antiga sesmaria, incluindo as terras da contemporânea Coração de Maria, conforme a Resolução Régia.[9][10][11]

Durante esse século XVIII, especialmente após a saída dos jesuítas depois da expulsão da Ordem pelo Marquês de Pombal em 1759, que a Coroa Portuguesa se apossou das propriedades jesuítas e atraiu um fluxo de colonos para a região.[5][11]

Foi nesse contexto que, do ponto de vista do direito de propriedade, as terras cormarienses se desmembraram da sesmaria de Água Fria e passaram a pertencer ao morgadio do colono português Bento Simões, ainda que, sob a ótica político-administrativa colonial, permanecessem dentro do território do município da Vila de São João da Água Fria.[5][11]

Dentro dessa propriedade rural de Bento Simões que surgiu o povoado "Lajes" que constituiu o primeiro assentamento populacional permanente criado por colonos lusobrasileiros presente nas terras do atual município de Conceição de Maria.[12][13]

Em 1848, foi erguida a primeira capela em terras cormarienses em um lugarejo que corresponde à atual sede do distrito de Itacava. Tratava-se de uma edificação coberta de palha, custeada pelos devotos João Manoel da Mata, Macrino Simões Ferreira e Antônio Fidelis de Cerqueira Daltro, e consagrada ao Santíssimo Sagrado Coração de Maria. Esse templo católico acabou sendo vinculado administrativamente à freguesia do Santíssimo Sagrado Coração de Jesus do Pedrão e dará início à um fluxo de romarias na localidade.[12][13]

Em 11 de outubro de 1849, o Governo da Província da Bahia criou uma cadeira de primeiras letras no distrito da Capela do Coração de Maria, estabelecendo assim a primeira instituição de ensino formal destinada à alfabetização dos moradores da localidade, de acordo com a Lei provincial nº 357/1849.[14]

Em 06 de junho de 1853, foi criada a Freguesia e o Distrito de Paz com a denominação de Santíssimo Coração de Maria, por meio da Lei provincial nº 489/1853, o qual compreendia as contemporâneas terras cormarienses.[12][15]

Em 1878, o arraial de Coração de Maria é impactado com a ação de liberdade ajuizada na comarca de Feira de Santana pela cozinheira escravizada Belmira reivindicando sua alforria que teria sido concedida por seu senhor e pai biológico, o latifundiário tenente-coronel João Nepomuceno D’Araújo Bacellar e Castro ("coronel Nepomuceno"), antes de seu óbito. Na disputa entre Belmira Bacellar e os herdeiros do Coronel Nepomuceno, a principal liderança política da freguesia, o coronel José Félix de Carvalho, irmão do deputado Araújo Pinho, toma parte em favor dos herdeiros do coronel Nepomuceno, intervém no processo, coagindo testemunhas situadas no arraial e até humilhando os serventuários da justiça, com o aprisionamento de José Lopes de Andrade, escrivão de paz da freguesia de Coração de Maria no tronco do arraial e de sua tortura mediante açoitamento. No final, Belmira perdeu o processo e se suicida com o filho caçula, enquanto os 2 filhos sobreviventes foram reescravizados pela tia biológica.[16]

Após a Proclamação da República, em 10 de março de 1891, a freguesia do Santíssimo Coração de Maria foi elevada à condição de vila, emancipando-se politicamente como sede do município de mesmo nome. Ainda no mesmo mês, fora criado o distrito de São Simão e anexado ao novo município, pelo decreto estadual de 28/03/1891.[12][15][16]

A criação do município do Santíssimo Coração de Maria envolveu uma articulação política que contou com o coronel José Félix, que havia sido eleito senador provincial, e que veio a se tornar o primeiro intendente do novo município, chefiando-o até 1906, quando então será a família Daltro que assumirá o poder político exercendo o seu mandonismo no local.[12][15][16]

A vila de Conceição de Maria foi elevada à categoria de cidade em 30 de março de 1938, durante a gestão do interventor federal Landulfo Alves. Porém, em 31 de dezembro de 1943, durante a gestão do interventor federal Renato Pinto Aleixo, este município foi extinto pelo Governo do Estado da Bahia, sendo o seu território anexado ao Município de Irará.[12]

Pouco tempo depois, ainda na gestão do mesmo interventor, o Município de Conceição de Maria foi restabelecido pelo Decreto-Lei estadual nº 12.978, de 1º de junho de 1944, com o nome de “Coração de Maria”, composto pela sede, pelo Arraial do Retiro e pelo Distrito de Itacava.[12]

Segundo o censo 2022 do IBGE, sua população é de cerca de 26.692 habitantes. Este município está localizado a 375 metros de altura em relação ao nível do mar.[2]

Organização Político-Administrativa

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O município de Coração de Maria possui uma estrutura político-administrativa composta pelo Poder Executivo, chefiado por um Prefeito eleito por sufrágio universal, o qual é auxiliado diretamente por secretários municipais nomeados por ele, e pelo Poder Legislativo, institucionalizado pela Câmara Municipal de Coração de Maria, órgão colegiado de representação dos munícipes que é composto por vereadores também eleitos por sufrágio universal.[17]

Atuais autoridades municipais de Coração de Maria

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Referências

  1. IBGE. «Área». Cidades e Estados. Resolução da Presidência do IBGE de n° 5 (R.PR-5/02). Consultado em 23 de setembro de 2023 
  2. a b «População». Cidades e Estados. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Consultado em 23 de setembro de 2023 
  3. «Ranking decrescente do IDH-M dos municípios do Brasil». Atlas do Desenvolvimento Humano. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). 2010. Consultado em 24 de agosto de 2013 
  4. a b «Produto Interno Bruto dos Municípios 2021». Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Consultado em 21 de abril de 2024 
  5. a b c d e Santos, Jucélia Bispo dos (2010). «Etnoarqueologia do aldeamento de Purificação, em Irará (BA)». UNICAMP. Revista de História da Arte e da Cultura (13): 17–33. Consultado em 6 de agosto de 2024 
  6. «João Lobo de Mesquita». Universidade de Salamanca. Consultado em 6 de agosto de 2024 
  7. a b Freire, Luiz Cleber Moraes (2007). «Nem tanto ao mar, nem tanto à terra: agropecuária, escravidão e riqueza em Feira de Santana, 1850-1888» (PDF). Dissertação (mestrado em História) - Universidade Federal da Bahia. Consultado em 6 de agosto de 2024 
  8. a b Souza, Elane Bastos de (2012). «Terra, território, quilombo: à luz do povoado de Matinha dos Pretos» (PDF). Dissertação (mestrado em Geografia) - Universidade Federal da Bahia. Consultado em 6 de agosto de 2024 
  9. Moreira, Vicente Deocleciano (1992). «Caminhos históricos da Feira de Feira de Santana: origens e secularidades». UEFS. Sitientibus (10): 185–198. doi:10.13102/sitientibus.vi10.10200. Consultado em 6 de agosto de 2024 
  10. Magalhães, Joaquim Romero (2011). «Concelhos e organização municipal na época moderna». Universidade de Coimbra. ISBN 978-989-26-0223-3. Consultado em 6 de agosto de 2024 
  11. a b c Santos, Jucélia Bispo dos (2009). «Colonização do Sertão da Bahia e Formação de Quilombos em Irará» (PDF). Revista África e Africanidades. 2 (7). Consultado em 7 de agosto de 2024 
  12. a b c d e f g «História». Prefeitura Municipal de Coração de Maria. Consultado em 7 de agosto de 2024 
  13. a b Robles-Piñeros, Jairo (2016). «O ensino da ecologia a partir de uma perspectiva sociocultural: Uma proposta didática». Dissertação (mestrado) - Universidade Federal da Bahia. Consultado em 7 de agosto de 2024 
  14. «ÍNDICE DAS LEIS SOBRE INSTRUÇÃO PÚBLICA NA PROVÍNCIA DA BAHIA: 1835-1889». UNICAMP. Consultado em 7 de agosto de 2024 
  15. a b c «Histórico: Coração de Maria Bahia - BA». IBGE. Consultado em 7 de agosto de 2024 
  16. a b c Nascimento, Flaviane Ribeiro (2009). «Belmira e o Coronel inimigo dascrioladas: uma querela sobre a luta por liberdade - agreste da Bahia, últimas décadas da escravidão.» (PDF). ANPUH. XXVII Simpósio Nacional de História. Consultado em 7 de agosto de 2024 
  17. MEIRELLES, Hely Lopes. Direito municipal brasileiro. 18. ed. São Paulo: Malheiros, 2017.
  18. a b «Prefeito e vereadores de Coração de Maria tomam posse; veja lista de eleitos». G1. 1 de janeiro de 2021. Consultado em 7 de agosto de 2024 

Ligações externas

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