Por Memória Globo

Acervo/Globo

Polêmica

A novela causou polêmica por conta de alguns temas até então pouco explorados nas novelas de Silvio de Abreu. O autor tratou de drogas, infidelidade conjugal, homossexualidade e violência, provocando reações em parte da audiência e da Igreja.

A repercussão negativa levou a mudanças na estrutura da trama. Nesse sentido, a explosão do shopping teve, em termos de narrativa, uma função similar à do terremoto em 'Anastácia, a Mulher sem Destino' (1967), de Janete Clair. O evento já estava previsto na sinopse, mas Silvio de Abreu decidiu utilizá-lo para eliminar personagens que não foram bem aceitos pelo público, como o dependente químico Guilherme (Marcello Antony) e a ex-modelo e empresária Leila (Silvia Pfeifer), namorada de Rafaela (Christiane Torloni). Segundo o autor da trama, a morte da personagem Rafaela estava prevista desde a sinopse. Com a morte de sua companheira, Leila se aproximaria de Marta (Glória Menezes), e as duas se tornariam grandes amigas.

A partir dessa relação, Silvio de Abreu pretendia discutir o preconceito em relação à amizade de heterossexuais com homossexuais. No entanto, o autor revela que não conseguiu levar sua ideia adiante por conta do que foi divulgado pela imprensa logo nos capítulos iniciais da novela: que, com a morte de Rafaela, Leila teria um romance com Marta, fato que não estava previsto na história em nenhum momento. Segundo Silvio de Abreu, a repercussão dessa trama fictícia chocou o público, que não queria ver Glória Menezes e Silvia Pfeifer em cenas de intimidade. Por conta da repercussão da história, e temendo que isso prejudicasse sua novela como um todo, o autor decidiu que Leila também morreria na explosão do shopping.

Sílvia Pfeifer e Christiane Torloni em Torre de Babel, 1998. — Foto: R. Marques/Globo

'Torre de Babel' estreou em 1998, cercada de expectativas. Tratava-se de uma superprodução, com um elenco estelar se arriscando em papéis pouco comuns em suas carreiras. Tony Ramos fugia do habitual papel de herói romântico para viver um ex-presidiário rancoroso e sombrio. O ator raspou os cabelos, emagreceu oito quilos e meio e apareceu com a barba por fazer em vários capítulos. Claudia Raia, um dos símbolos sexuais da televisão brasileira, interpretava uma empresária fria, sem sensualidade aparente, que se revelava uma assassina psicopata. Tarcísio Meira e Glória Menezes, o grande casal da televisão brasileira, viviam marido e mulher que não se amavam e acabavam se envolvendo com outras pessoas.

Através do personagem de Tony Ramos, Silvio de Abreu aproveitou para falar da dificuldade que os ex-presidiários encontram quando tentam retornar ao mercado de trabalho e de como a escassez de oportunidades e o preconceito social contribuem para que muitos voltem ao crime.

Tony Ramos em Torre de Babel, 1998 — Foto: Acervo/Globo

Abertura

A abertura mostrava imagens da Torre de Babel bíblica se transformando no shopping Tropical Towers. O tema original era instrumental e dramático. Com as mudanças feitas na trama, a canção-tema foi substituída pela música Pra Você, antigo sucesso de Sílvio César, interpretado por Gal Costa.

Torre de Babel (1998): Abertura

Torre de Babel (1998): Abertura

Humor

Em Torre de Babel, Silvio de Abreu deu continuidade à linha que adotara em sua novela anterior, 'A Próxima Vítima' (1995). O humor – sua principal marca registrada – saía do primeiro plano para servir como tempero de uma trama policial clássica, cheia de personagens ambíguos, gravitando em torno de um grande mistério a ser desvendado no final. A temática principal da novela era a violência em uma sociedade na qual ricos se fecham em condomínios e marginais são trancafiados em sistemas penitenciários inoperantes.

Torre de Babel teve um lado cômico, que funcionou bem desde o princípio. Os bordões de alguns personagens ganharam as ruas. Entre eles, o “percebe”, que Gustinho (Oscar Magrini) usava para pontuar suas falas, e o “cala a boca, Luzineide!”, que Bina (Claudia Jimenez) exclamava cada vez que a amiga fazia menção de falar. Preservando o espírito original do texto de Silvio de Abreu, Claudia Jimenez introduziu o bordão “Tô podendo!” aos textos da sua personagem.

Torre de Babel: Percebe?

Torre de Babel: Percebe?

Jamanta não morreu

Silvio de Abreu trouxe de volta o personagem Jamanta na novela Belíssima, em 2005. Luzineide (Eliane Costa) também reaparece no último capítulo da trama. Jamanta está no altar, prestes a se casar com Regina da Glória, personagem da atriz Lívia Falcão, quando Luzineide entra na Igreja com vários filhos a tiracolo e impede o casamento.

Outro personagem que morreu com a explosão do shopping foi o violento Agenor (Juca de Oliveira). Na realidade, ele foi dado como morto, e afastou-se da trama durante um período, mas voltou à novela alguns capítulos depois.

Juca de Oliveira e Cacá Carvalho em Torre de Babel, 1998 — Foto: Acervo/Globo

Claudia Raia conta que chegou a ser hostilizada na rua por conta das maldades de sua personagem, Ângela. A atriz revela que procurou a ajuda de uma terapeuta para conhecer um pouco mais sobre o universo dos psicopatas.

Até o final da trama, Silvio de Abreu conseguiu manter o suspense sobre o culpado pela explosão do Tropical Towers. Como já havia acontecido antes em 'A Próxima Vítima' (1995), a gravação da cena em que a identidade do criminoso é revelada foi realizada no dia da exibição do último capítulo. Os atores envolvidos só receberam suas falas horas antes da gravação.

Danton Mello, que interpretava o jovem Adriano de Torre de Babel, teve de se afastar da novela por dois meses devido a um acidente de helicóptero que sofreu quando participava das gravações do programa educativo Globo Ecologia, do qual era o apresentador. O ator teve descolamento de vários órgãos e passou por uma cirurgia no abdome. Para explicar a ausência de Adriano da trama, Silvio de Abreu decidiu que o personagem, após um grave desastre de carro, fora levado em coma para os Estados Unidos para recuperar-se das sequelas. Seis meses se passam na história e, quando Adriano retorna ao Brasil em uma cadeira de rodas, sua amada Shirley (Karina Barum) se recupera de uma operação na perna esquerda, que a fez deixar de ser manca.

Danton Mello e Karina Barum em Torre de Babel, 1998 — Foto: Acervo/Globo

Silvio de Abreu conta que quis abordar temas relacionados ao problema da violência e também discutir duas opiniões: a que diz que a violência existe porque a condição social do indivíduo é injusta e a que argumenta que não adianta os ricos se protegerem atrás de grades, porque, mais cedo ou mais tarde, serão atingidos pelo problema. O tom forte de algumas cenas era uma tentativa de escapar à banalização da violência que o autor julgava ter tomado conta de muitos dos programas de televisão.

Prêmios

Pelo trabalho em Torre de Babel, ganharam o prêmio Master de 1998 os atores Tony Ramos (melhor ator), Victor Fasano (personalidade) e Cleyde Yáconis (hour-concours). Em 1999, a novela foi considerada a melhor do ano pelos jurados do Troféu Imprensa. Tony Ramos foi escolhido o melhor ator, e Adriana Esteves, a melhor atriz.

'Torre de Babel' foi exibida, entre outros países, na Argentina, na Bélgica, no Marrocos, no México, na Romênia e no Senegal.

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