Cenografia e Arte
Para conceber o Tropical Towers – localizado fora da cidade cenográfica de 'Torre de Babel' –, os cenógrafos Mário Monteiro e Keller Veiga se inspiraram no trabalho do pintor holandês Pieter Brueghel, que, no século XVIII, retratou a Torre de Babel descrita na Bíblia. Todo o trabalho foi realizado sem a ajuda de efeitos de computação.
Feito basicamente de esquadrilhas metálicas e vidro, o Tropical Towers ocupava uma área de 1.200m2 e levou 41 dias para ser erguido, dos quais 20 foram dedicados à construção de fundações de verdade capazes de sustentar o peso da estrutura. Foram usados 4.600m de vigas metálicas pesando 20 toneladas.
Cerca de 200 operários trabalharam na construção, realizada no terreno onde antes havia Greenville, cidade cenográfica de 'A Indomada' (1997). Dois elevadores panorâmicos foram instalados na fachada, e escadas rolantes davam acesso aos três pavimentos do shopping, onde estavam instaladas as lojas e os escritórios da direção.
No centro da construção havia uma ampla área denominada foyer, onde foram realizadas as gravações. Era uma estrutura vazada de 23m de altura e 400m2 de área, com 800 janelas que mudavam de cor graças a um elaborado sistema de efeitos visuais. Dessa forma, a direção podia alterar a aparência da fachada do edifício –, iluminada por 6 mil lâmpadas – fazendo com que as cores variassem do vermelho ao verde e ao amarelo. Uma subestação de energia com capacidade para 64kw tornava possível a iluminação de toda a estrutura. Um domo feito de policarbonato em tom azul foi instalado no teto, filtrando a luz natural que entrava no ambiente. O efeito era o de uma grande torre voltada para o céu.
Na parte externa do shopping, uma avenida de 16m2 levava até a entrada do edifício. Esculturas gigantes feitas pelo artista plástico Maurício Bentes adornavam as portas de entrada: três esculturas de plástico industrial em forma de bolhas com líquidos dentro e iluminação própria. Em média, cada uma tinha cinco metros de diâmetro e pesava 1,5 tonelada.
Para o cenário externo, também foi desenvolvido um projeto paisagístico com jardins suspensos em vários níveis. Um lago de 120m2, iluminado por uma sofisticada estrutura com 100 lâmpadas especiais instaladas abaixo da superfície, foi criado ao lado da estrutura central, e conectado a ela através de quatro rampas de acesso aos mezaninos.
Para reproduzir o estacionamento de um shopping de verdade, os cenógrafos criaram uma abertura no chão na qual os carros entravam, dando a impressão de um estacionamento subterrâneo. Na verdade, o carro dava uma volta pela parte de trás do cenário e retornava pela saída do outro lado.
Explosão
Para as cenas da explosão do Tropical Towers, foram importados mais de 200 mil dólares em equipamentos de efeitos especiais. O cenógrafo Mário Monteiro construiu três maquetes idênticas ao shopping, mas com proporções diferentes: a maior era seis vezes menor do que o shopping original. A segunda era dez vezes menor, e a terceira, 20. A explosão durou cerca de seis minutos no ar.
Torre de Babel contava, ainda, com mais duas cidades cenográficas e 19 cenários internos, entre eles o cortiço onde moravam Sandrinha (Adriana Esteves) e Bina (Claudia Jimenez). O cenógrafo Keller Veiga relatou que o cenário do ferro-velho de Agenor (Juca de Oliveira) foi concebido para parecer “uma ilha dentro de um ferro-velho”. O quarto da personagem Shirley (Karina Barum), por exemplo, foi montado dentro de um trailer acoplado à sala.
A produção de arte dos cenários – a cargo de Cristina Médicis – levou em conta as características pessoais dos personagens. A casa de Rafaela (Christiane Torloni) e Leila (Silvia Pfeifer) tinha ambientes que se complementavam, numa metáfora do relacionamento entre as duas: com poucos obstáculos, poucas paredes, muito vidro, produzindo efeitos de transparência. O papel de parede foi criado a partir das pinturas do austríaco Egon Schiele. Já a casa dos Toledo, uma família cheia de conflitos, tinha muitas paredes, representando o isolamento dos personagens. A lanchonete de Edmundo Falcão (Victor Fasano) era colorida e cheia de detalhes modernos, contrastando com uma jukebox típica dos anos 1960.
A fachada da penitenciária do Carandiru e o presídio do Hipódromo, em São Paulo, foram usados nas gravações das cenas de Clementino (Tony Ramos) na cadeia. A cenografia e a produção de arte reconstituíram cela, corredores, enfermaria e pátio de uma prisão. A cena em que Clementino jura vingança ao ver a imagem de César Toledo (Tarcísio Meira) na televisão do refeitório da prisão foi gravada na Febem do Pacaembu.
Torre de Babel também teve cenas gravadas em Itaipava, no estado do Rio de Janeiro, e os interiores do Iguatemi Shopping, em São Paulo, foram usados para cenas que se passavam no Tropical Towers.