O autor
Aguinaldo Silva conta que, além da ideia de criar uma trama que abordasse a ambiguidade do ser humano, queria também fazer uma história carioca e urbana. Como os bairros de Copacabana e Leblon já haviam sido explorados em outras novelas, decidiu ambientar a sua trama na Barra da Tijuca, mais precisamente em uma favela horizontal.
Segundo Aguinaldo Silva, a novela teve uma boa repercussão entre os moradores da favela de Rio das Pedras, na qual foi inspirada a favela fictícia da trama, devido a sua opção de mostrar uma comunidade de forma realista, sem resquícios de demagogia.
Aguinaldo Silva se viu no meio de várias polêmicas durante a novela. Em uma delas, o prefeito do Rio, Cesar Maia, reclamou que a trama privilegiava a abordagem negativa do Rio, colocando o município sob críticas pesadas. Um dos alvos das reclamações foi o capítulo em que a feirante Lucimar (Cristina Galvão) pede ao deputado Narciso (Marcos Winter) uma vaga para o filho em uma escola que não aprovasse todo mundo.
Em entrevista exclusiva ao Memória Globo, realizada em 14/07/2008, o autor Aguinaldo Silva fala sobre sobre o triângulo amoroso e a discussão sobre sexualidade na novela “Duas Caras”.
O valor do IPTU cobrado na cidade também foi abordado na trama, quando Célia Mara (Renata Sorrah) se muda de um bairro de classe média para a Portelinha e comemora o fim do imposto. Também esteve em foco o sequestro-relâmpago, no capítulo em que Branca (Susana Vieira) é vítima de um deles. A maior preocupação do governo, porém, era a milícia fictícia chefiada por Juvenal Antena (Antonio Fagundes). Em meio às polêmicas e aos índices de audiência da novela, que não estavam entre os esperados, Aguinaldo Silva anunciou que se afastaria temporariamente de Duas Caras para cuidar de assuntos pessoais em Portugal, deixando vários capítulos prontos.
Após a estreia da novela, Aguinaldo Silva criou um blog em que costumava comentar a trama, por vezes antecipando momentos da história.
Para Aguinaldo Silva, Evilásio (Lázaro Ramos), o herói romântico da trama, acabou um pouco ofuscado pela força de Juvenal Antena (Antonio Fagundes), e isso enfraqueceu a percepção do público sobre o embate entre a legalidade e a marginalidade, representadas, respectivamente, pelos dois personagens.
O autor conta que se identificava com alguns personagens, mas que Gioconda, a personagem de Marília Pêra, era sua porta-voz na trama.
Pole Dance
A dança do poste, chamada de pole dance, foi alvo de polêmica. Considerada apelativa, foi uma das responsáveis pela reclassificação indicativa da novela, que passou a ser proibida para menores de 14 anos. Nas cenas, Flávia Alessandra aparecia dançando sensualmente em um cano. A personagem Débora, de Juliana Knust, também chegou a dançar pole dance durante um tempo, substituindo Alzira. Com a polêmica, a pole dance saiu de cena por uns tempos, voltando depois na trama, de forma mais discreta. E o cenário da uisqueria, frequentado pelos homens da Portelinha em busca das massagens oferecidas pelas moças e dançarinas do local, deu lugar a uma casa de shows, em que as mesmas moças se apresentavam em musicais coreografados por Jojô (Wilson dos Santos).
Portelinha
Antonio Fagundes gravou cenas no Sambódromo do Rio, durante o desfile da Portela no carnaval de 2008, para exibição nos capítulos em que a escola de samba Nascidos da Portelinha tem um ótimo desempenho na avenida e sobe para o grupo especial.
Na trama, Gislaine (Juliana Alves), irmã de Evilásio (Lázaro Ramos), sai à frente da bateria, substituindo a titular Andréia Bijou (Débora Nascimento), que fratura a perna após ter uma visão de Mãe Bina (Chica Xavier). Como a mãe de santo lhe pedira antes de morrer, Andréa, após muita resistência, substitui Mãe Bina no terreiro, no capítulo final da novela.
A novela contou com várias participações especiais, como convidados da escola de samba Nascidos da Portelinha ou do restaurante Castelo de São Jorge. Entre eles, o cantor e compositor Celso Fonseca; o ator Francisco Cuoco; o roteirista Jean Wyllis (ganhador do BBB 5); a atriz Juliana Paes; os músicos Martinho da Vila, Monarco e Paulinho da Viola; o ator Tony Ramos e a esposa, Lidiane; e integrantes da Velha Guarda da Portela.
Totia Meireles, Vanessa Giácomo, Eriberto Leão e as crianças Ana Karolina Lannes e Matheus Costa, que interpretaram os filhos do jovem casal Luciana e Ítalo, fizeram apenas participações no início da trama. Vanessa estava grávida de seu primeiro filho e chegou a gravar algumas cenas como gestante.
Mara Manzan deixou a trama, por motivos de saúde, no final de março. A atriz Fafy Siqueira entrou em cena dizendo ser Amora, uma cartomante charlatã, irmã gêmea de Amara, personagem de Mara Manzan. Amara voltou no último capítulo para fazer as pazes com Bernardo (Nuno Leal Maia), selando o amor dos dois.
Duas Caras foi a primeira novela da TV Globo totalmente gravada e transmitida em alta definição.
O último capítulo de Duas Caras foi exibido num sábado, e não numa sexta-feira, como de costume.
Duas Caras estreou na emissora portuguesa SIC em 5 de novembro de 2007, ficando entre os dez programas mais vistos do país.
O título da novela foi usado para denominar uma investigação policial, batizada de Operação Duas Caras, realizada pela 59ª DP (Caxias) para prender policiais militares do 15º BPM (Caxias), suspeitos de envolvimento com o tráfico de drogas. Foi descoberto que o grupo recebia propinas semanais para não fazer operações em favelas de Caxias, município do Grande Rio.
Estreia
A novela marcou a estreia da atriz, cantora e compositora Marjorie Estiano como protagonista de uma novela da TV Globo, após a boa repercussão de seus papéis anteriores, a Natasha do seriado Malhação, que interpretou em 2004 e 2005, e a jovem Marina de Páginas da Vida (2006), de Manoel Carlos.
Vera Fischer fez uma participação na trama como Dolores, fotógrafa que produz o calendário de fotos com os mecânicos da oficina de Antônio (Otávio Augusto), que transforma os rapazes nas novas celebridades da Portelinha.
Laura Cardoso fez uma participação especial nos últimos capítulos da trama, como mãe de Marconi Ferraço.