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Por Redação do ge — Rio de Janeiro


Jogos Olímpicos de Seul, Coreia do Sul, 1988. Campeão nos 800m em Los Angeles 1984 e prata na mesma prova naquele ano, Joaquim Cruz circulava pela Vila Olímpica quando foi abordado pela repórter Isabela Scalabrini, que acabara de receber a notícia do doping e desqualificação do canadense Ben Johnson, ouro nos 100m dias antes. Questionado sobre o caso, Joaquim não titubeou em acusar mais atletas de competirem dopados em Seul. Na rápida fala, o brasileiro citou a americana Florence Griffith-Joyner, duvidando, inclusive, de sua feminilidade.

Grande Círculo - Joaquim Cruz

Grande Círculo - Joaquim Cruz

- Em 1984 você via aquela pessoa e ela era feminina e agora parece mais um homem que uma mulher. E a própria Joyner parece um gorila - disse Joaquim Cruz na entrevista.

A declaração não pegou bem, e o meio-fundista brasileiro passou a ser pressionado por entidades e comitês estrangeiros. O constrangimento foi tanto que o campeão olímpico desistiu de correr os 1.500m em Seul. Hoje, aos 58 anos, Joaquim Cruz se arrepende do que falou aos 25. Convidado do Pequeno Grande Círculo, ele relembrou o caso no programa que teve exibição inédita no SporTV nesta madrugada e reprise às 9h deste domingo.

Joaquim Cruz no programa Grande Círculo — Foto: Reprodução

- Se eu tivesse a oportunidade de falar sobre o mesmo assunto, eu faria de forma diferente. Eu deveria ter focado mais no esporte e não na pessoa. Naquela época havia muitos atletas competindo dopados e houve falta de conhecimento da minha parte para transmitir a mensagem de forma correta. Naquela época, eu tinha "câmerafobia". Fui pego de repente e acabou saindo. A forma que eu disse não era aceitável - disse Joaquim em conversa com a própria Isabela Scalabrini - Milton Leite e Guilherme Roseguini foram os demais participantes do programa.

Prata nos 200m em Los Angeles 1984, Delorez Florence Griffith-Joyner ganhou quatro medalhas em Seul 1988, dentre elas os ouros nos 100m, 200m e revezamento 4x100m. Apesar das suspeitas sobre o seu desempenho, ela nunca foi pega no antidoping.

Florence Griffith-Joyner nas Olimpíadas de Seul 1988 — Foto: Mike Powell/Allsport/Getty Images

Contudo, em 1988, a americana morreu aos 38 anos ao sofrer um ataque epilético. A família Joyner revelou depois, que Flo-Jo, como era conhecida, vinha sofrendo de convulsões desde 1990, o que aumentou as suspeitas de que a atleta usava substâncias ilícitas.

Morando nos Estados Unidos desde a adolescência, Joaquim Cruz ressalta que na sua época de atleta o sistema de doping era bem diferente, principalmente na quantidade de testes e informações, que eram bem mais escassos.

- Hoje em dia você pode ir na internet e ver tudo o que é proibido. Na Jamaica, por exemplo, não havia sequer uma agência antidoping. E naquela época a gente não tinha como provar, só observar que um atleta ou outro estava apresentando resultados muito rápidos. Era tudo na base dos boatos entre os atletas - destacou.

Joaquim Cruz com o ouro das Olimpíadas de Los Angeles 1984 — Foto: Trevor Jones/Allsport/Getty Images

Ainda no programa, Joaquim Cruz fez um balanço na carreira e comentou sobre a importância da rivalidade com o britânico Sabastian Coe, uma vez que ambos se alternavam no pódio nas principais competições.

- A gente tinha um ao outro. O Sebastian Coe chegou a Moscou 1980 isolado como melhor do mundo, correndo 1min41s e 1min42s. Naquela Olimpíada, ele era cotado para vencer os 800m e acabou ficando em segundo. Em 1981 corri contra ele em Roma e nem fiquei na tela. O meu objetivo era vencer o Sebastian Coe, correndo 1min41s. Quando comecei a competir na Europa naquele ano, saí com aquele objetivo. Então, após disputar aquele circuito na Europa dei um recado aos corredores de todo mundo: que iam ter que ganhar daquele garoto brasileiro. Então fui abençoado por um grupo de atletas que tinham que correr muito para ganhar de mim - contou.

Brasileiro arranca nos metros finais para vencer a final dos 800m em Los Angeles — Foto: Tony Duffy/Getty Images

Joaquim Cruz falou também sobre a infância pobre no Distrito Federal, a importância da mãe na sua vida, além de explicar como foi parar nos Estados Unidos ainda na adolescência.

- Na verdade, o meu destino já estava traçado. Quando você quer muito realizar um sonho, toda a natureza se curva para que você alcance o seu objetivo - concluiu.

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