Toluca, clube que está na fila no Campeonato Mexicano há mais de uma década, foi a sensação da fase de pontos corridos do Torneio Apertura deste ano. Comandado pelo técnico Renato Paiva, ex-Bahia, o time tem um brasileiro em destaque também no campo: o goleiro Tiago Volpi, ex-São Paulo. Em sua segunda passagem pelo país, onde atuou entre 2014 e 2019, pelo Querétaro, o brasileiro sonha de novo com o título nacional, que ele já conquistou uma vez em 2016. Uma meta embalada pela boa campanha antes do mata-mata, que terá início nesta quarta-feira.
Em entrevista ao ge, o goleiro de 33 anos projetou o duelo contra o América-MEX, atual bicampeão nacional, e falou sobre os jogos decisivos e a expectativa para encerrar o jejum de sua equipe.
Para dar fim à fila de 14 anos, a diretoria do Toluca investiu pesado nesta temporada e, de acordo com o site Transfermarkt, gastou cerca de 37 milhões de euros (R$ 225 milhões de reais) em reforços. Com isso, chegaram nomes como o centroavante português Paulinho (ex-Sporting), artilheiro isolado do Apertura com 13 gols. Além dele, o clube trouxe Gallardo, lateral-esquerdo da seleção mexicana, e o zagueiro uruguaio Bruno Méndez (ex-Corinthians e Internacional).
Volpi relembrou as campanhas recentes da equipe ao citar o alto investimento da diretoria, uma das razões do sucesso recente do Toluca:
— O Toluca é uma grande instituição, e é o terceiro maior ganhador aqui do país. Podemos dizer que vinha de alguns anos adormecido. Desde a nossa chegada, o clube voltou a investir muito forte. O dono está fazendo todo o esforço possível para o time poder ser campeão. É um processo que não é fácil, não é do dia para a noite. A gente chegou numa final (Apertura 2022/23), e depois em duas quartas de finais — relembrou.
A visão interna do clube é de que o Toluca pode brigar pelo título nessa temporada. Para o goleiro de 33 anos, a mentalidade forte é fundamental para manter o bom desempenho na fase de mata-mata da competição:
— Nessa temporada tivemos um time mais sólido e competitivo, com totais condições de brigar por esse título. Dentro do clube não se fala em outra coisa que não seja ganhar o título. Estamos nos preparando para a reta final, já que o campeonato vai terminar em menos de um mês. Pelo investimento que foi feito, por tudo o que tem acontecido, terminar em segundo na fase regular não significa muito. Isso só vai importar se no final da temporada a gente conseguir esse título, que é tão desejado não só pela torcida, mas principalmente pelo dono do clube, que está com 85 anos, e quer muito ver o Toluca campeão outra vez — explicou.
Tiago Volpi projeta participação do Toluca no mata-mata do Campeonato Mexicano
Campeão pelo São Paulo após uma seca de dez anos sem títulos, Tiago Volpi se disse motivado a ajudar o Toluca a sair da fila:
— Talvez seja um lema da minha carreira, poder chegar a grandes clubes que passam por um período muito grande sem ganhar nada. Foi assim no São Paulo, que a gente pôde ganhar aquele título Paulista (em 2021), que depois abriu sequência para a Copa do Brasil, que foi ganha ano passado. Foi muito positivo na minha carreira ter chegado ao São Paulo e, depois de tantos anos, poder ter sido o primeiro goleiro a ser campeão. E aqui é algo muito parecido, o último título do Toluca foi em 2010. A gente está praticamente há 14 anos sem ganhar nada — afirmou.
Após uma grande campanha na primeira fase, o sentimento de expectativa por um título que não vem há tanto tempo cresceu bastante dentro do clube:
— E o filme volta a se repetir, chegar a uma grande instituição, também marcada por grandes goleiros, e poder ajudar o clube a voltar a ganhar um título depois de todos esses anos. Não serve de nada você fazer uma grande fase regular, se no final não terminar em título. Jogadores, comissão técnica, diretoria, presidente, dono, todos dentro do clube só falam em ganhar esse título. Não vai ter aquele discurso de: “Ah, mas foi feito um grande torneio, bola para frente”. É isso que a gente deseja e vai conquistar — pontuou.
Tiago Volpi relembra título paulista com o São Paulo, e compara com a fila vivida pelo Toluca
Não é de hoje que o campeonato mexicano costuma receber muitos brasileiros. Entre jogadores e treinadores, são muitos os que se aventuram no futebol do país. E para Volpi, ter conterrâneos é um dos fatores que facilita a adaptação dos recém-chegados:
— O fato de ter brasileiros aqui ajuda no convívio familiar no nosso dia a dia. A gente acaba se sentindo mais em casa, mais à vontade. Quando eu cheguei no México, eu cheguei a um clube que tinha uma comunidade de brasileiros muito grande (entre eles Ronaldinho Gaúcho e Danilinho, ex-Atlético-MG). Eles me receberam muito bem, então hoje os papéis se invertem. Depois de muitos anos no México, é a vez de começarem a chegar brasileiros, e eu fazer esse papel inverso ao que fizeram comigo e recebê-los muito bem — relembrou.
Recentemente, o Toluca buscou mais dois atletas do Brasileirão para reforçar sua equipe. O clube gastou mais de R$ 100 milhões para tirar o meia Helinho do Bragantino e o zagueiro Luan do Palmeiras. Um dos líderes do elenco, Volpi rasgou elogios à dupla:
— A adaptação deles foi a melhor possível. O Luan está muito contente, e o Helinho, que acaba de chegar, também. São jogadores importantes, de peso, principalmente o Luan, pelos tantos títulos que que ele ganhou no Brasil nos últimos anos. A experiência dele tem nos ajudado muito. E a qualidade do Helinho é indiscutível, justifica tudo que o Toluca fez para poder trazê-lo para cá. Ele vinha em uma ascensão muito grande com o Bragantino, e interessava a muitos times da Europa, mas o Toluca ganhou essa briga e pôde aumentar ainda mais a qualidade do nosso time — ressaltou.
Em maio de 2022, Tiago Volpi acertou seu retorno ao futebol do México. Ele já havia passado por lá entre 2014 e 2019, quando havia vestido a camisa do Querétaro. O goleiro, que tem inclusive uma filha mexicana, admite ter criado uma relação especial com o país:
— Quando eu falo sobre o México praticamente me refiro a uma casa. Já são muitos anos aqui no país, desde a minha passagem pelo Querétaro. É um lugar onde eu me sinto muito feliz, e as pessoas me tratam muito bem. Voltar para cá foi uma decisão muito fácil. Era um momento na minha carreira em que eu necessitava voltar para um lugar onde as pessoas confiavam em mim. Desde a minha volta as coisas têm acontecido de uma maneira muito positiva. Tenho uma filha mexicana, e um laço muito forte com o país. Sou muito grato ao México por tudo que ele tem proporcionado na minha vida e na minha carreira — disse.
Antes de vir para o São Paulo, no início de 2019, Volpi era cogitado na imprensa e mesmo entre dirigentes da federação local como um dos possíveis candidatos a goleiro da seleção. Para isso, o goleiro deveria obter a cidadania mexicana, permanecendo por mais uma temporada no México, e completando cinco anos de residência ininterrupta. A vinda para o Tricolor adiou esses planos, mas seu retorno ao país fez com que a discussão reacendesse:
— Existia um apelo muito grande das pessoas para que eu me naturalizasse e jogasse pela seleção mexicana. Naquela época eu decidi voltar para o Brasil, acho que eu não poderia perder a oportunidade de jogar numa grande equipe como o São Paulo. Sempre fui muito honesto quanto ao meu sentimento...Eu tinha o sonho de jogar pela seleção brasileira, e esteve muito próximo de acontecer — relembrou.
Com a boa fase no Toluca, Tiago Volpi deixou as portas abertas em caso de um novo convite para fazer parte da seleção mexicana:
— Hoje estou próximo de conseguir a naturalização, e é normal que as pessoas voltem a comentar sobre isso, mas eu sempre fui muito honesto quanto aos meus sentimentos. Hoje a minha cabeça é totalmente diferente do que naquela época, até porque tudo o que eu tenho vivido no México me faz pensar de outra forma também. Então não é uma situação que eu descartaria — continuou.
Mesmo assim, Volpi não deixou de ressaltar o respeito pelos demais goleiros do campeonato, afirmando que o México não precisa de um arqueiro estrangeiro na seleção:
— Eu vejo muito potencial nessa nova geração de goleiros que tem surgido. A imprensa ou a torcida nunca vão ver eu me candidatando a goleiro da seleção. Agora, se em um determinado momento as pessoas que estão lá (na Federação Mexicana de Futebol) optarem por fazer esse convite, aí eu acho que é uma situação totalmente diferente, que tem que ser repensada. Não partiria de mim, e não porque eu não queira, mas por respeito aos atletas que nasceram aqui — concluiu.
Tiago Volpi fala sobre a possibilidade de se naturalizar para jogar pela seleção mexicana
O goleiro de 33 anos, que voltou ao México em 2022 após uma passagem de três anos e meio pelo São Paulo, comparou o campeonato local com o Brasileirão:
— O ponto que mais pesa entre Brasil e México é a questão da visibilidade. Aqui é um economicamente muito forte, mas ao mesmo tempo completamente fechado para os outros países. Dificilmente a gente aí no Brasil vai conseguir ver um jogo do futebol mexicano, ou acompanhar e ter realmente a noção do que é o futebol daqui. Por não conhecer, às vezes as pessoas acham que tem um nível técnico inferior ao do Brasil, mas muito pelo contrário. O México não perde em nada para o Brasil em qualidade e investimento — explicou.
Tendo jogado tanto no Brasil quanto no México, Tiago Volpi exaltou o campeonato local, e citou o equilíbrio entre as melhores equipes de ambos os países em encontros recentes:
— E eu sempre faço a comparação com a semifinal do Mundial de Clubes de 2020, que o Tigres ganha por 1 a 0 do Palmeiras, e é muito superior durante todo o jogo. A única diferença é que o México é um país muito fechado. A gente não disputa a Libertadores, e as pessoas daqui talvez não tenham esse interesse que as pessoas (de fora) saibam do futebol mexicano. Mas quanto ao nível, posso te garantir com toda a certeza, que o México não fica nem um pouco atrás do Brasil — afirmou.
Tiago Volpi fala das diferenças entre o Brasileirão e o Campeonato Mexicano
Velho conhecido do torcedor brasileiro, Renato Paiva é o atual comandante do Toluca. Com passagem pelo Bahia, o técnico de 54 anos pediu demissão do tricolor após 49 jogos, com 19 vitórias, 15 empates e 15 derrotas – com um aproveitamento de 49%. O trabalho do treinador surpreendeu Tiago Volpi, que não poupou elogios ao português:
— O Paiva é um cara extremamente apaixonado pelo futebol ofensivo. Não é à toa que nesse torneio a equipe marcou 38 gols em 17 jogos. Gosta bastante de usar o goleiro na construção da jogada, e isso é algo que eu sempre gostei, desde a época do Diniz aí no São Paulo. A gente tem tido uma relação muito positiva, e tem sido uma honra trabalhar com ele. Eu posso te afirmar, com toda a certeza, que ele está entre os melhores com quem eu já trabalhei na minha carreira — exaltou.
Veja também