O estudante do Centro Universitário Central Paulista (Unicep) que divulgou no Facebook um episódio de agressão vinculado, a seu ver, à homofobia, voltou às aulas nesta segunda-feira (6), mas disse que não se sente mais seguro. Segundo o aluno de publicidade e propaganda, os envolvidos continuam frequentando as aulas e houve omissão por parte da universidade. A instituição afirmou que vai tomar as atitudes cabíveis quando o processo administrativo for concluído. A Polícia Civil investiga o caso.
Antonio Carlos Archibald, de 23 anos, contou que chegou ao prédio, localizado em São Carlos (SP), acompanhado dos pais, que mantiveram contato por mensagens de celular também durante a aula, para verificar se estava tudo bem. "Meu pai e minha mãe me levaram e me buscaram para eu me sentir mais seguro e devem continuar indo nos próximos dias".
Na sala, ele encontrou dois dos jovens envolvidos no episódio e evitou aproximações. "Eu tremia o tempo todo. Havia um desconforto em saber que eles estavam ali, uma sensação de não poder olhar para trás. Medo internalizado. Não me sinto mais seguro".
Por conta desse medo, o jovem afirmou que esperava explicações e atitudes da universidade, mas isso não ocorreu. "Procurei a coordenação para me darem alguma satisfação e falaram ‘tudo bem, pode ir para a sala’. Achei que iam conversar, oferecer uma vaga para o meu carro, ter um segurança no bloco. Para eles passou, mas para mim não”.
Apesar do receio, ele disse que não pretende mudar de universidade, que torce para o semestre acabar logo para que possa ir para outra sala e que, nesse retorno, recebeu apoio de alunos que não o conheciam, mas paravam para conversar e lamentar a agressão.
"Por conta do meu curso, mudar de faculdade é inviável. Ou eu parava ou eu continuava e não quero que atrapalhem meu futuro. Vai passar, mas estou chateado com a faculdade não ter dado respaldo. Tenho medo de, com a impunidade, se vangloriarem. Gostaria que a Unicep suspendesse, que afastasse todo mundo, inclusive eu, durante a apuração. Mas só eu fui afastado, para a minha segurança. Não fazer nada é ser conivente".
Planos
Na tarde desta terça (7), o jovem tinha uma consulta agendada para a retirada dos pontos decorrentes do caso e disse que espera levar o episódio adiante, mas incentivando a prevenção.
nesta segunda-feira (6) (Foto: Reprodução/EPTV)
"O que me preocupa são as pessoas que ainda podem passar por isso. Eu tive apoio. E quem não tem? No futuro, quero criar um grupo de apoio às minorias na universidade. Conscientizar as pessoas que o estímulo à violência, os gritos, os incentivos, são violentos. Juntar pessoas boas e diminuir a violência".
Unicep
A assessoria de imprensa da Unicep informou nesta terça-feira (7) que a instituição repudia atos de violência e que vai tomar as medidas cabíveis quando o processo administrativo for concluído.
Disse ainda que não há um prazo para a conclusão da apuração porque o processo envolve não apenas a Unicep, mas também a polícia, e que enquanto isso os alunos podem frequentar as aulas.
Entenda o caso
O estudante de publicidade e propaganda afirmou que foi agredido pelo namorado de uma colega de sala dentro da Unicep, após uma discussão por silêncio na aula. O rapaz levou 26 pontos no rosto por conta das agressões e registrou um boletim de ocorrência sobre o caso, para ele um episódio de homofobia porque foi chamado de "viado"' pelo agressor e sua namorada.
agressão aconteceu (Foto: Aline Ferrarezi/G1)
A princípio, ele disse que pediu para a colega parar de conversar porque estava atrapalhando. “Ela continuou e, após um tempo, pedi novamente. Fui mais grosso e ela se irritou e começou a discutir, fazer um escândalo. Me chamou de 'viado' e eu a xinguei também”, disse.
Ele contou que durante a discussão foi agredido no rosto e revidou empurrando a jovem, que caiu. “Outros alunos sentiram as dores dela e queriam me agredir, só que o professor interferiu e eu fui embora”, relatou.
Em casa, ele disse que recebeu uma ligação da universidade pedindo que ele voltasse porque a jovem teria se arrependido e estava com a coordenadora do curso para que conversassem e ela pedisse desculpas. “Antes de eu chegar à coordenação, três rapazes, que também estudam na Unicep, me esperavam na minha sala, entre eles o namorado da menina. Fui me aproximando, eles chegaram e o namorado dela atirou minha cabeça contra a parede, que é feita toda em vidro. Me chamou de 'viado' e um monte de coisa, enquanto os dois amigos dele me cercavam para eu não ter como fugir”, disse.
O rapaz afirmou que não revidou às agressões porque não gosta de brigas e que foi levado pela coordenadora até o hospital. Após o episódio, ele postou no Facebook um relato sobre o caso com fotos do rosto ferido. “Nunca tive problemas com ela e nem com ele. O ocorrido foi só um estopim para ele fazer o que já tinha vontade. Considero sim um caso de homofobia”, disse.