07/04/2015 17h18 - Atualizado em 07/04/2015 18h39

Estudante agredido volta à Unicep e desabafa: 'Não me sinto mais seguro'

Antonio Carlos Archibald, de 23 anos, afirma que foi alvo de homofobia.
Universidade de São Carlos, SP, diz que tomará atitudes após apuração.

Stefhanie PiovezanDo G1 São Carlos e Araraquara

Rapaz postou fotos do rosto machucado após agressão na Unicep em São Carlos (Foto: Antonio Carlos Archibald/ Arquivo Pessoal)Rapaz postou fotos no Facebook após agressão (Foto: Antonio Carlos Archibald/ Arquivo Pessoal)

O estudante do Centro Universitário Central Paulista (Unicep) que divulgou no Facebook um episódio de agressão vinculado, a seu ver, à homofobia, voltou às aulas nesta segunda-feira (6), mas disse que não se sente mais seguro. Segundo o aluno de publicidade e propaganda, os envolvidos continuam frequentando as aulas e houve omissão por parte da universidade. A instituição afirmou que vai tomar as atitudes cabíveis quando o processo administrativo for concluído. A Polícia Civil investiga o caso.

Antonio Carlos Archibald, de 23 anos, contou que chegou ao prédio, localizado em São Carlos (SP), acompanhado dos pais, que mantiveram contato por mensagens de celular também durante a aula, para verificar se estava tudo bem. "Meu pai e minha mãe me levaram e me buscaram para eu me sentir mais seguro e devem continuar indo nos próximos dias".

Na sala, ele encontrou dois dos jovens envolvidos no episódio e evitou aproximações. "Eu tremia o tempo todo. Havia um desconforto em saber que eles estavam ali, uma sensação de não poder olhar para trás. Medo internalizado. Não me sinto mais seguro".

Por conta desse medo, o jovem afirmou que esperava explicações e atitudes da universidade, mas isso não ocorreu. "Procurei a coordenação para me darem alguma satisfação e falaram ‘tudo bem, pode ir para a sala’. Achei que iam conversar, oferecer uma vaga para o meu carro, ter um segurança no bloco. Para eles passou, mas para mim não”.

Apesar do receio, ele disse que não pretende mudar de universidade, que torce para o semestre acabar logo para que possa ir para outra sala e que, nesse retorno, recebeu apoio de alunos que não o conheciam, mas paravam para conversar e lamentar a agressão.

Eu tremia o tempo todo. Havia um desconforto em saber que eles estavam ali, uma sensação de não poder olhar para trás"
Antonio Carlos Archibald

"Por conta do meu curso, mudar de faculdade é inviável. Ou eu parava ou eu continuava e não quero que atrapalhem meu futuro. Vai passar, mas estou chateado com a faculdade não ter dado respaldo. Tenho medo de, com a impunidade, se vangloriarem. Gostaria que a Unicep suspendesse, que afastasse todo mundo, inclusive eu, durante a apuração. Mas só eu fui afastado, para a minha segurança. Não fazer nada é ser conivente".

Planos
Na tarde desta terça (7), o jovem tinha uma consulta agendada para a retirada dos pontos decorrentes do caso e disse que espera levar o episódio adiante, mas incentivando a prevenção.

Antonio voltou a frequentar a universidade nesta segunda (6) (Foto: Reprodução/EPTV)Antonio Archibald voltou a frequentar a universidade
nesta segunda-feira (6) (Foto: Reprodução/EPTV)

"O que me preocupa são as pessoas que ainda podem passar por isso. Eu tive apoio. E quem não tem? No futuro, quero criar um grupo de apoio às minorias na universidade. Conscientizar as pessoas que o estímulo à violência, os gritos, os incentivos, são violentos. Juntar pessoas boas e diminuir a violência".

Unicep
A assessoria de imprensa da Unicep informou nesta terça-feira (7) que a instituição repudia atos de violência e que vai tomar as medidas cabíveis quando o processo administrativo for concluído.

Disse ainda que não há um prazo para a conclusão da apuração porque o processo envolve não apenas a Unicep, mas também a polícia, e que enquanto isso os alunos podem frequentar as aulas.

Entenda o caso
O estudante de publicidade e propaganda afirmou que foi agredido pelo namorado de uma colega de sala dentro da Unicep, após uma discussão por silêncio na aula. O rapaz levou 26 pontos no rosto por conta das agressões e registrou um boletim de ocorrência sobre o caso, para ele um episódio de homofobia porque foi chamado de "viado"' pelo agressor e sua namorada.

Campus da Unicep em São Carlos (Foto: Aline Ferrarezi/G1)Campus da Unicep em São Carlos (SP), onde a
agressão aconteceu (Foto: Aline Ferrarezi/G1)

A princípio, ele disse que pediu para a colega parar de conversar porque estava atrapalhando. “Ela continuou e, após um tempo, pedi novamente. Fui mais grosso e ela se irritou e começou a discutir, fazer um escândalo. Me chamou de 'viado' e eu a xinguei também”, disse.

Ele contou que durante a discussão foi agredido no rosto e revidou empurrando a jovem, que caiu. “Outros alunos sentiram as dores dela e queriam me agredir, só que o professor interferiu e eu fui embora”, relatou.

Em casa, ele disse que recebeu uma ligação da universidade pedindo que ele voltasse porque a jovem teria se arrependido e estava com a coordenadora do curso para que conversassem e ela pedisse desculpas. “Antes de eu chegar à coordenação, três rapazes, que também estudam na Unicep, me esperavam na minha sala, entre eles o namorado da menina. Fui me aproximando, eles chegaram e o namorado dela atirou minha cabeça contra a parede, que é feita toda em vidro. Me chamou de 'viado' e um monte de coisa, enquanto os dois amigos dele me cercavam para eu não ter como fugir”, disse.

O rapaz afirmou que não revidou às agressões porque não gosta de brigas e que foi levado pela coordenadora até o hospital. Após o episódio, ele postou no Facebook um relato sobre o caso com fotos do rosto ferido. “Nunca tive problemas com ela e nem com ele. O ocorrido foi só um estopim para ele fazer o que já tinha vontade. Considero sim um caso de homofobia”, disse.

Shopping
    busca de produtoscompare preços de