A Polícia Civil de São Carlos (SP) abriu inquérito para apurar a agressão sofrida por um estudante de 23 anos dentro do Centro Universitário Central Paulista (Unicep), na última sexta-feira (20). Antonio Carlos Archibald, que também é modelo, levou 26 pontos no rosto e acredita em homofobia, já que foi chamado de ´viado' pelo agressor e sua namorada. Outros dois alunos teriam ajudado a impedir que o rapaz fugisse. O G1 tentou contato com os envolvidos, mas ninguém atendeu as ligações. A Unicep abriu um processo administrativo para apurar o caso e não vai se manifestar até que seja concluído.
De acordo com o delegado Aldo Donisete del Santo, Archibald passou por exame de corpo de delito e o laudo vai integrar o inquérito de lesão corporal. Ele explicou que os envolvidos serão ouvidos, mas não informou quando. O prazo para a conclusão do inquérito é de 30 dias.
em São Carlos (Foto: Aline Ferrarezi/G1)
Afastamento e processo
De acordo com o assessor de Archibald, Dan Nascimento, o estudante de publicidade e propaganda está afastado a pedido da Unicep, o que considera injusto. "A faculdade pediu para que ele não fosse por uma questão de segurança, até que fossem tomadas providências em relação ao agressor ou fosse confirmado o caso de homofobia. Ele está chateado por não poder ir às aulas, pois é muito aplicado. A faculdade não parece estar levando o caso a sério e não entende a gravidade da situação. Se é para ficar em casa, que fiquem todos os envolvidos", reclamou.
Ainda segundo Nascimento, o jovem espera que os agressores respondam pelos atos. "Antonio vai entrar com um processo na Justiça. Ele quer apenas que as providências sejam tomadas, pois é um caso de homofobia real. Em outros momentos, o Antonio já havia sido vítima de brincadeiras de tom perjorativo. Chamavam ele de 'viadinho', mas ele sempre levou na brincadeira e até satirizava até que ocorreu a agressão. Ele está vivo, mas podia não estar", falou.
Além disso, Nascimento explica que o rapaz pretende processar a universidade, uma vez que julga ter havido omissão por parte da instituição. "Quando ocorreu o episódio, ele só foi acudido porque gritou muito o nome de uma professora. Até então, funcionários e professores viram ele sangrando e não fizeram nada. Foram duas alunas de medicina que o ajudaram e levaram ele para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Ele pretende entrar com uma ação a respeito da falta de postura da Unicep em relação ao caso dele. Não queremos que passem a mão na cabeça dele, mas que os fatos sejam averiguados", disse.
O assessor também alega que a faculdade se negou, na ocasião, a informar o nome dos agressores. "Com base na lei, eles não podem se isentar disso, pois o episódio ocorreu dentro da faculdade. Somente na segunda-feira (23) é que houve uma reunião é os nomes foram passados para ele", comentou.
Ferimentos
Ele também explica que Antonio considera passar por cirurgia plástica para reparar as possíveis marcas deixadas pelos ferimentos. "Ele não sabe se vai ficar deformado. O ferimento tem sangrado muito e o curativo precisa ser trocado a toda hora. Ele não está podendo falar muito e nem se esforçar, está de repouso.Ele trabalha com a imagem, e isso já está prejudicando sua carreira. Ele iria a um evento no dia 28 de março um evento no qual seria garoto propaganda, mas não poderá mais participar. Está muito abalado com isso, preocupado com a deformação no rosto", apontou.
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Entenda o caso
Segundo o estudante, o caso aconteceu por volta das 20h, na sexta-feira (20). Durante uma aula, ele explicou que pediu para uma colega parar de conversar, pois estava atrapalhando. “Ela continuou e após um tempo pedi novamente, fui mais grosso e ela se irritou e começou a discutir, fazer um escândalo. Me chamou de viado e eu a xinguei também”, disse.
Durante a discussão, o rapaz disse que foi agredido no rosto e revidou empurrando a jovem, que caiu. “Outros alunos sentiram as dores dela e queriam me agredir, só que o professor interferiu e eu fui embora para casa”, relatou.
Em casa, ele disse que recebeu uma ligação da universidade pedindo para que ele voltasse, já que a jovem teria se arrependido e estava com a coordenadora do curso para que conversassem e ela pedisse desculpas.
“Antes deu chegar à coordenação, três rapazes, que também estudam na Unicep, me esperavam na minha sala, entre eles o namorado da menina. Fui me aproximando, eles chegaram em mim e o namorado dela atirou minha cabeça contra a parede da faculdade, que é feita toda em vidro. Me chamou de viado e um monte de coisa, enquanto os dois amigos dele me cercavam para eu não ter como fugir”, disse.
Unicep
Em nota, a Unicep informou que desaprova a violência dentro e fora da faculdade, que está dando assistência ao aluno e tomando as providências sobre o caso. Veja abaixo a íntegra do comunicado:
O Centro Universitário Central Paulista, a UNICEP, informa que, quanto ao ocorrido na noite desta sexta-feira (20), em que um desentendimento entre alunos resultou em uma das partes se ferir, DESAPROVA qualquer tipo de violência dentro e fora de suas dependências.
Informa também, que deu todo o suporte ao aluno ferido, bem como à sua família.
Sendo assim, UNICEP explica que está tomando todas as devidas providências no caso através da abertura de um processo administrativo, que ainda está em andamento.