06/04/2016 12h26 - Atualizado em 06/04/2016 22h00

Policial militar que ameaçou menor com arma pede afastamento

Advogado Gilberto Pucci disse que PM está fazendo tratamento psicológico.
Conselho dos Direitos Humanos investiga; caso foi em Itapetininga.

Caio Gomes SilveiraDo G1 Itapetininga e Região

Momento em que a policial saca a arma para ameaçar estudante (Foto: Reprodução/ TV TEM)Momento em que a policial saca a arma para
ameaçar estudante (Foto: Reprodução/ TV TEM)

policial militar que sacou a arma e ameaçou um adolescente de 16 anos, em Itapetininga (SP),  pediu afastamento das atividades para tratamento psicológico, segundo o advogado dela, Gilberto Quintanilha Pucci. De acordo com Gilberto, a policial está afastada desde o episódio, que aconteceu no dia 29 de março em frente a uma escola estadual do município. Uma testemunha gravou a ação da militar (veja o vídeo acima e leia as ameaças abaixo).

A defesa alega que a policial, que é uma cabo com 12 anos na função, prestou depoimento na corregedoria em São Paulo, órgão responsável pela investigação. De acordo com delegada da Delegacia da Defesa da Mulher (DDM) de Itapetininga, Leila Tardelli, a policial militar também foi ouvida na delegacia e o caso segue sob sigilo. "Ouvimos a policial e testemunhas. Após a investigação ser concluída, vamos encaminhar para o Fórum o processo, explica.

Segundo Pucci, a militar cometeu o ato depois que o adolescente a ameaçou também de morte.

“Temos postagens do Facebook dele que diz que os policiais são vermes e devem morrer. Tem uma foto de uma viatura da PM queimando. Ele não é um adolescente ‘certinho’, já tem passagens pela polícia. O adolescente disse para ela que era fácil ‘trincá-la’ por ser mulher, ou seja, matá-la por ser mulher. Ele disse ainda que sabia que ela passava por aquela rua com o filho. Depois disso é que ela invadiu a calçada e agiu daquela forma”,  defende o advogado.

O relator do Condepe Luiz Carlos dos Santos foi enviado nesta terça-feira (5) a Itapetininga para investigar o caso e enviar um relatório à Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP). Ele visitou o Conselho Tutelar, a DDM, onde ouviu o adolescente junto com a mãe, foi ao local onde o fato ocorreu e conversou com os responsáveis pela Diretoria de Ensino.

Conselheiro estadual foi a Itapetininga para acompanhar o caso (Foto: Reprodução/TV TEM)Conselheiro estadual foi a Itapetininga para
acompanhar o caso (Foto: Reprodução/TV TEM)

De acordo com Santos, a PM engatilhou a arma durante a ação. Com isso, fica claro que houve violação aos direitos humanos, diz ele. “O adolescente confirmou que no momento das ameaças a policial militar engatilhou a arma. A gente espera que órgãos, como a corregedoria da Polícia Militar, a Delegacia da Mulher e o Judiciário local, constatem essas intercorrências. O Conselho Estadual de Direitos Humanos vai acompanhar todo esse fato”, afirma.

Já o advogado da policial nega a afirmação do relator do Condepe Luiz Carlos dos Santos sobre a policial ter engatilhado a arma. “Ele nem nos ouviu, tanto é que o que ele fala sobre engatilhar a arma nem tecnicamente é possível, já que a arma dela não tem ‘cão’, sendo o percussor embutido. O que existe é uma total inversão de valores, porque a defesa dos Direitos Humanos é só para o adolescente com antecedente criminal”, critica.

Estudante de 16 anos ficou na mira da arma da policial militar (Foto: Cláudio Nascimento/ TV TEM)Estudante de 16 anos ficou na mira da arma da
policial militar (Foto: Cláudio Nascimento/ TV TEM)

Acompanhamento psicológico
O adolescente ameaçado pela policial também passa por acompanhamento psicológico, de acordo com o conselheiro tutelar Clayton Roberto Soares. “Ele foi encaminhado para avaliação psicológica e cabe ao Conselho verificar o acompanhamento sobre as consultas. O Conselho está dando todo o suporte na parte psicológica”, diz Clayton.

O estudante nega a versão da policial e diz que não fez nada para causar tal reação. "Tinha acabado de chegar na escola para buscar minha namorada. Estava encostado no muro e a policial já falava com outros estudantes. De repente, ela veio para cima dizendo que eu tinha 'cara de bandido'", afirma.

Delegada da DDM de itapetininga vai ouvir a policial (Foto: Reprodução/TV TEM)Delegada da DDM de itapetininga vai ouvir a policial
(Foto: Reprodução/TV TEM)

Investigação
Três órgãos independentes investigam o caso atualmente, sendo a corregedoria da Polícia Militar, a Polícia Civil pela Delegacia da Defesa da Mulher (DDM) e o Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe). Nenhuma das apurações foi concluída.

Já a delegada da DDM, Leila Tardelli, afirma que, depois de finalizadas as investigações, o inquérito é relatado e encaminhado ao Fórum para processo. A militar foi ouvida nesta quarta-feira (6) na delegacia.

Posição do menor
Em entrevista ao G1, o estudante contou que pensou na própria morte ao ver a policial sacar a arma e afirmou que ficou bastante assustado.

“Fiquei muito assustado. Na hora eu pensei que ia morrer e que a policial ia atirar, pois ela ficou balançando a arma. A única coisa em que pensava era que ela poderia disparar a qualquer momento. Além disso, eu também ouvi um som como se fosse de gatilho. Fiquei com muito medo. Foi desnecessário ela ter feito isso.”

A mãe dele também afirmou em entrevista para o G1 que ficou decepcionada com a atitude da policial militar. “Fiquei indignada e revoltada com a atitude dela. Não esperava isso da polícia, que é uma instituição que sempre ajuda as pessoas. Eu achei que ela passou do limite ao colocar a arma na cara do meu filho. Como meu filho ficou com medo de sofrer perseguição policial, fizemos o boletim de ocorrência. O meu desejo é que ela seja punida ou chamada a atenção. Ela não pode ficar ameaçando adolescentes dessa maneira”, conta.

Entenda o caso
Uma policial militar foi flagrada mostrando a arma a um adolescente e o ameaçando nesta terça-feira (29), em frente à Escola Estadual Modesto Tavares de Lima, em Itapetininga. Alguns alunos que acompanhavam o caso fizeram vídeo e enviaram as imagens à redação da TV TEM.

No vídeo é possível ver a PM montada em uma motocicleta e avançando contra o adolescente encostado no muro. A policial aparenta estar nervosa. Após a abordagem, ela saca a arma e afirma: “Já viu isso aqui? (mostra arma) Sabe para que presta isso aqui? Mexe com polícia, seu bosta!.”

Alunos que testemunharam o caso contaram à equipe da TV TEM que a policial tomou a medida após jovens “tirarem sarro” da PM depois que a motocicleta dela parou de funcionar na rua.

Confira a transcrição do vídeo:
Policial:
Tá vendo essa mulherada aí, ó? Você quer vir pagar de gatinho pra essa mulherada, aí ó? Seu trouxa do c...!
Testemunha: Ele acabou de chegar (rindo).
Testemunha: Escuta.
Policial: Vai mexer com polícia, seu b...? Vai mexer? (avança com a moto)
Jovem: Eu acabei de chegar.
Policial: Vai mexer com polícia? Está pensando que eu sou trouxa, é? (avança contra ele)
Jovem: (fala inaudível)
Policial: Está pensando que eu sou trouxa? Já viu isso aqui? (mostra arma) Sabe para que presta isso aqui? Mexe com polícia, então, seu b...!

  •  
  •  
Policial quase encosta arma no rosto do jovem (Foto: Reprodução/ TV TEM)Policial quase encosta arma no rosto do jovem (Foto: Reprodução/ TV TEM)

 

veja também
Shopping
    busca de produtoscompare preços de