A mãe do adolescente de 16 anos que foi ameaçado por uma policial militar armada nesta terça-feira (29), em frente a uma escola em Itapetininga (SP), registrou nesta quarta-feira (30) um boletim de ocorrência na Polícia Civil contra a policial por abuso de autoridade e ameaça. Para ela, a atitude da militar é revoltante. A Polícia Militar informou que está apurando a abordagem da agente (veja o vídeo acima).
de ocorrência (Foto: Reprodução/TVTEM)
“Fiquei indignada e revoltada com a atitude dela. Não esperava isso da polícia, que é uma instituição que sempre ajuda as pessoas. Eu achei que ela passou do limite ao colocar a arma na cara do meu filho. Como meu filho ficou com medo de sofrer perseguição policial, fizemos um boletim de ocorrência na Delegacia de Defesa da Mulher e vou procurar também o Conselho Tutelar para a proteção dele. O meu desejo é que ela seja punida ou chamada a atenção. Ela não pode ficar ameaçando adolescentes dessa maneira”, conta a mãe.
De acordo com a mulher, o adolescente chegou em casa assustado e contou que a policial o abordou sem motivos e que o filho não a ameaçou de morte. “Ele disse que tinha acabado de chegar em frente à escola. Ele estuda em outra escola próxima e, às vezes, depois da aula, vai se encontrar com amigos. Depois de chegar, ele encostou no muro e viu que a policial xingava outro adolescente. Logo depois a policial subiu na calçada com a moto e começou a ameaçá-lo sem ele ter feito nada. Na hora me assustei, mas fiquei ainda mais revoltada quando vi o vídeo que começou a circular na internet”, afirma.
Conselho Tutelar
Para o presidente do Conselho Tutelar, Clayton Roberto Soares, independentemente do motivo, a ação policial pode ser considerada como crime. “A agressão é vista como um crime, tanto como agressão física como psicológica. O menor teve os direitos violados”, diz ele.
à escola (Foto: Reprodução/ TV TEM)
Ainda segundo Soares, assim que a família acionar o Conselho Tutelar, o órgão vai trabalhar oferecendo acompanhamento psicológico ao adolescente. “Ele tem que ser acompanhado por uma avaliação psicológica, assim como os pais, para vermos quais os danos psicológicos que o adolescente sofreu”, explica.
Investigação
Segundo o tenente coronel do batalhão da Polícia Militar em Itapetininga, Marcelo Amaral Oliveira, a Polícia Militar vai investigar o caso e punir a policial, caso constatado erro de abordagem. Nesta quarta-feira (30), a policial foi ouvida na corregedoria da Polícia Militar em São Paulo para prestar esclarecimentos.
PM irá investigar o caso (Foto: Reprodução/TVTEM)
“Nós vamos primeiro verificar que tipo de agressão que esse garoto fez contra a policial para ela ter tomado esse tipo de abordagem. A princípio foge totalmente do nosso procedimento operacional padrão. Se for constatado que houve falha operacional, ela pode ser punida administrativamente. Nós temos vários tipos de punições, que vão desde uma advertência até uma prisão aquartelada, em que a pessoa fica no quartel no horário de folga”, explica.
Entenda o caso
Uma policial militar foi flagrada mostrando a arma a um adolescente e o ameaçando nesta terça-feira (29), em frente à Escola Estadual Modesto Tavares de Lima, em Itapetininga. Alguns alunos que acompanhavam o caso fizeram vídeo e enviaram as imagens à redação da TV TEM.
No vídeo é possível ver a PM montada em uma motocicleta e avançando contra o adolescente encostado no muro. A policial aparenta estar nervosa. Após a abordagem, ela saca a arma e afirma: “Já viu isso aqui? (mostra arma) Sabe para que presta isso aqui? Mexe com polícia, seu bosta!.”
Alunos que testemunharam o caso contaram à equipe da TV TEM que a policial tomou a medida após jovens “tirarem sarro” da PM depois que a motocicleta dela parou de funcionar na rua.
Já a policial não quis dar entrevista. O superior imediato dela, o capitão João Paulo de Miranda, afirmou ao G1 que ela alegou agir desta forma após ser ameaçada pelo jovem que estava com outros três adolescentes.
“Ela me contou que passava de moto pela rua no horário de almoço quando quatro adolescentes gritaram para ela que era fácil ‘trinca-la’, ou seja, mata-la por ser mulher. Ela disse ainda que o grupo gritou que sabia que ela passava por aquela rua com o filho. Depois disso é que ela invadiu a calçada e agiu daquela forma, segundo ela”, diz o capitão.
A Diretoria de Ensino de Itapetininga afirma que não concorda com a atitude da policial e que na quarta-feira (30) irá comunicar o Ministério Público (MP) e pedir esclarecimentos à PM com um ofício. O adolescente não estuda na escola onde ocorreu o fato, segundo a diretoria de ensino.
Confira a transcrição do vídeo:
Policial: Tá vendo essa mulherada aí, ó? Cê quer vir pagar de gatinho pra essa mulherada, aí ó? Seu trouxa do c...!
Testemunha: Ele acabou de chegar (rindo).
Testemunha: Escuta.
Policial: Vai mexer com polícia, seu b...? Vai mexer? (avança com a moto)
Jovem: Eu acabei de chegar.
Policial: Vai mexer com polícia? Está pensando que eu sou trouxa, é? (avança contra ele)
Jovem: (fala inaudível)
Policial: Está pensando que eu sou trouxa? Já viu isso aqui? (mostra arma) Sabe para que presta isso aqui? Mexe com polícia, então, seu bosta!
Jovem: Mas eu não mexi com ninguém.
Policial: Não, fui eu! Aqui o murro na sua cara, ó. Mexe! Mexe! Se eu passar aqui de novo e cê mexer comigo eu dou um tiro na sua cara, seu b...!