Por g1 RR — Boa Vista


Maurício Ye'kwana é diretor financeiro na Hutukara Associação Yanomami — Foto: Evilene Paixão/HAY

O líder indígena Maurício Yek'wana, de 39 anos, foi nomeado, nesta quinta-feira (19), pelo Ministério da Saúda para ocupar o cargo de coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami e Yek'uana (Dsei-YY). Em 33 anos de existência, esta é a primeira vez que um indígena ocupa a função de ficar à frente das ações de saúde na Terra Indígena Yanomami, a maior do país.

Ye'kwana foi nomeado três dias após o médico Marcos Antonio Pellegrin pedir exoneração do cargo. A nomeação de Maurício é assinada pela ministra da Saúde Nísia Trindade e foi publicada no Diário Oficial da União (DOU).

👉 O Dsei-YY existe desde abril de 1991 é um órgão do Ministério da Saúde que é responsável pela saúde dos povos do território Yanomami. Desde fevereiro do ano passado, a região está em emergência de saúde pública para combater a desassistência aos indígenas, que enfrentaram surtos de malária e casos de desnutrição nos últimos anos devido ao avanço do garimpo ilegal.

Maurício Ye'kwana é diretor-financeiro na Hutukara Associação Yanomami, a mais representativa do povo e presidida pelo xamã e líder indígena Davi Kopenawa. Atualmente, ele ocupa a terceira posição mais importante na organização, que tem como vice-presidente o filho de Davi, Dário Kopenawa.

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Sobre Maurício Ye'kwana

O novo coordenador é do povo indígena Ye'kwana, um dos que vivem na Terra Yanomami. Ele é da comunidade Fuduwaaduinha, na região de Auaris, ao Norte de Roraima, região da fronteira com a Venezuela. Tem experiência em gestão territorial e atua na fiscalização dos limites da terra indígena.

Desde 2008, atua na Hutukara Associação Yanomami (HAY), orgaização defende os direitos dos povos Yanomami e Ye’kwana.

Com forte atuação política, Maurício trabalhou na Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), integrando operações contra o garimpo ilegal em parceria com a Polícia Federal. Ele se destaca como mediador entre os povos indígenas e não indígenas, fortalecendo o movimento indígena em níveis regional, nacional e internacional. Participou de eventos da ONU, recebeu a Comissão Interamericana de Direitos Humanos na comunidade dele e esteve na Assembleia Geral da OEA, em Washington.

Em maio, Maurício visitou o Papa Francisco em Roma com outras lideranças indígenas, entregando uma carta sobre a proteção das terras indígenas. Também participou do Acampamento Terra Livre (ATL) denunciando violações contra o povo Yanomami. Ele representa o povo Yanomami em agendas climáticas internacionais, esteve na Alemanha, Colômbia e Azerbaijão, além de palestrar sobre a crise vivida pelos indígenas em conferências na França, Holanda e Suíça.

Lideranças comemoram nomeação

O xamã e presidente da Hutukara Associação Yanomami, Davi Kopenawa, a maior liderança Yanomami, considerou a nomeação de Maurício Yek'wana como um marco na luta dos indígenas, pois mostra que "estamos ocupando lugares de liderança".

"Esta é a primeira vez na história que vemos algo assim. É um momento marcante! O Maurício foi nomeado para liderar a saúde do povo Yanomami. Ele terá a grande responsabilidade de aprender e cuidar do nosso povo. Nós estávamos esperando ansiosamente por isso, e é um passo muito importante", disse o líder ao g1.

Davi destacou que a nomeação traz "muitos desafios, mas também muitas oportunidades". Também afirmou que Maurício tem experiência com as atividades nas comunidades e vai trabalhar junto com o povo Yanomami: "Ele não estará sozinho".

"Esse é um marco histórico, pois estamos assumindo papéis de liderança que antes eram ocupados pelos brancos. Estamos aqui para mostrar que somos capazes de dirigir e cuidar da saúde da nossa própria população", finalizou Davi Kopenawa.

O presidente do Conselho de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kwana (Condisi-YY), o líder Júnior Hekurari Yanomami recebeu com esperança a nomeação de Maurício, embora saiba que vai ser um desafio.

"A saúde do povo indígena vai ser um desafio muito grande pra ele, porque a sistema, o mundo não indígena é complexo pra gerenciar. Mas pra isso nós vamos estar juntos para apoiar e ajudar... costurar e procurar o caminho".

"Primeira vez que um filho da terra, um Yanomami vai coordenar... vai cuidar o próprio povo, para recuperar a saúde, a segurança alimentar em tudo... então isso é importante", comemora o presidente do Condisi-YY.

Terra Yanomami

Com 9,6 milhões de hectares, a Terra Yanomami é o maior território indígena do Brasil em extensão territorial. Localizado no Amazonas e em Roraima, o território abriga 31 mil indígenas, que vivem em 370 comunidades. O povo Yanomami é considerado de recente contato com a população não indígena e se divide em seis subgrupos de línguas da mesma família, designados como: Yanomam, Yanomamɨ, Sanöma, Ninam, Ỹaroamë e Yãnoma.

A Terra Yanomami está em emergência de saúde desde janeiro de 2023, quando o governo federal, a partir da posse de Lula (PT), começou a criar ações para atender os indígenas, como o envio de profissionais de saúde e cestas básicas. Além de enviar forças de segurança a região para frear a atuação de garimpeiros.

Apesar das atividades de combate ao garimpo na região deflagradas em fevereiro de 2023, os invasores continuam em atividade. O Ministério dos Povos Indígenas estimou em março deste ano que 7 mil garimpeiros permanecem na região.

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