O prefeito Eduardo Paes declarou ao G1 na tarde desta segunda-feira (30) que “não pode viver sob ameaças”, ao ser questionado se não teme que esse impasse entre o município e os professores manche a sua imagem. Ele afirmou ainda que não cederá à pressão e que o Plano de Cargos e Salários está na Câmara dos Municipal para ser votado.
“A gente não pode viver sob ameaça. Estamos fazendo o que é melhor para a população, para prefeitura e pela categoria. O plano está lá na Câmara para ser votado. Tivemos diversos encontros e temos três acordos assinados”, afirmou.
Em entrevista ao RJTV, o prefeito descartou que o plano elaborado pelo município seja retirado de votação na Câmara Municipal. O projeto foi encaminhado pelo poder Executivo municipal ao legislativo na quinta-feira passada (26), mas a votação foi suspensa depois que professores invadiram o plenário da Casa. A previsão é de que o plano entre na pauta de votação nesta terça-feira (1º).
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Paes afirmou ainda que o plano vai beneficiar todos os professores e não apenas aqueles que cumprem 40 horas, o que era uma reivindicação da categoria.
Após a desocupação da Câmara Municipal, na noite de sábado (28), quando a PM foi acusada de truculência no cumprimento de decisão judicial, o prefeito lamentou o ocorrido e criticou a ocupação da Casa por professores.
"É muito triste você ver professores invadindo o plenário do parlamento e as pessoas ocuparem o parlamento num estado democrático. Tem certas premissas da democracia que não podem ser feridas. E isso gera como consequência a desocupação do plenário. O bom é quando a gente senta e negocia", disse Eduardo Paes em entrevista à Rádio CBN nesta segunda-feira, frisando que a desocupação foi "necessária".
Sobre o fato do Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (Sepe-RJ) exigir a retirada do plano de votação, Paes argumentou que a prefeitura enviou o projeto com pedido de regime de urgência à Câmara a pedido do sindicato.
"Eles exigiram que eu enviasse o plano em 30 dias e exigiram que eu mandasse em regime de urgência. Cumpri exatamente o que eles exigiram de mim. Agora, compete à Câmara. A gente tem que entender que as propostas tem que ser racionais. Não adianta acertar um salário que a prefeitura não poderá pagar", disse o prefeito, descartando que o projeto seja retirado de votação.
Plano não contempla 90% da categoria, diz Sepe
A coordenadora do Sepe-RJ Marta Moraes afirma que o Plano de Cargos e Salários não foi apresentado pela prefeitura aos professores. "Os maiores prejudicados são os professores e alunos. Ao negar negociar, ele [Paes] está comprometendo o ano letivo. Se ele quer fazer isso a culpa é dele. Caso haja corte de ponto, nós não vamos repor as aulas perdidas. O plano dele não contempla 90% da categoria e a formação de professores e funcionários. No nosso entendimento, eles são educadores", afirmou Marta.
O policiamento na Câmara Municipal foi reforçado na manhã desta segunda-feira (30). As barracas dos professores acampados ao redor da Casa estão cercadas por duas barreiras de policiais na Rua Alcindo Guanabara. "Nós temos o direito de ir e vir. Estamos vivendo no período da ditadura. Esses professores são as vítimas", disse Marta.
Uma das pessoas que estão entre as barreiras policiais, a coordenadora do Sepe-RJ Gesa Corrêa pede que os professores do lado de fora da barreira convoquem outros docentes para ir até a Cinelândia protestar. "Precisamos que todos venham para cá agora. O prefeito acabou de dar uma entrevista mentirosa. Não adianta me reprimir, esse governo vai cair", dizia pelo megafone.
Os professores voltaram a acusar a polícia de truculência. "No sábado, a gente foi encurralado. Não usaram bombas para tirar a gente de lá, mas usaram armas de choque. Um professor, depois de tomar choque, foi arrastado. Eles usaram muita violência", reclamou a professora Marcele Ribeiro, mostrando marcas roxas no braço e na barriga.
"Eles disseram que a gente tinha que sair de qualquer maneira. Nós vamos processar o camandante porque eles nos retiraram à força. Vinte e dois professores foram hospitalizados. Não tinha nenhum mascarado. Vândalos são o governo do Eduardo Paes e do Sérgio Cabral", completou Marta Moraes.
Cabral critica professores
Durante a inauguração da Cidade da Polícia neste domingo (29), o governador do Rio, Sérgio Cabral, comentou a retirada dos professores da Câmara Municipal. Citando que não acha a ocupação a melhor forma de "dialogar", Cabral afirmou que não viu as imagens da ação da Polícia Militar, e, por isso, não poderia "julgar" a violência policial, reclamada por ativistas.
"Eu não posso fazer esse julgamento porque eu não vi ainda as imagens. A ocupação do plenário não é daquela maneira que tem que ser feita para participação de um debate. A democracia estabelece ritos que devem ser feitos. Eu, como ex-parlamentar, chefe do Poder Legislativo, acho que a participação da população deve se dar sempre, mas dentro de direitos e deveres. Mas se houve enfrentamento, eu, sinceramente, não vi. Ocupar um plenário não é a melhor forma de dialogar e fazer qualquer tipo de debate", disse.