Deolane Bezerra, Gusttavo Lima, Darwin Henrique da Silva Filho, Maria Eduarda Quinto Filizola, André e Aislla Rocha estão emntre os investigados — Foto: Arte/g1
A Operação Integration, que tem entre seus alvos Deolane Bezerra, Gusttavo Lima e sócios de casas de apostas online, as "bets", apura um suposto esquema de lavagem de dinheiro proveniente de atividades ilegais, como o jogo do bicho. Nesta semana, a Justiça de Pernambuco concedeu liberdade aos investigados que tiveram prisões decretadas durante a ação policial.
O inquérito chegou a ser entregue ao Ministério Público, que pediu novas diligências à Polícia Civil. A investigação é conduzida pelo delegado Paulo Gondim, que é o diretor integrado metropolitano da corporação.
O g1 fez um resumo do que foi apurado até agora pela operação, traçando as conexões entre os 22 investigados, segundo o inquérito policial. Nesta reportagem, você confere as informações sobre os suspeitos, divididos conforme as empresas ou ocupações às quais estão ligados:
Esportes da Sorte e Caminho da Sorte
Darwin Henrique da Silva Filho
Darwin Henrique da Silva Filho é dono da Esportes da Sorte — Foto: Reprodução/Instagram
- Empresário de 35 anos, é CEO da Esportes da Sorte e sócio de outras três empresas.
- É filho de Darwin Henrique da Silva, dono da banca de apostas O Caminho da Sorte (entenda mais abaixo).
- É suspeito de realizar pagamentos e transferências para influenciadores e operadoras de recursos financeiros para lavar dinheiro do jogo do bicho e de jogos de azar (apostas esportivas e cassinos online), proibidos por lei.
- É irmão de Marcela Tavares Henrique da Silva Campos — outra investigada pela Operação Integration (veja mais abaixo).
- A Esportes da Sorte é uma casa de apostas on-line e atua como patrocinadora de alguns times de futebol, como o Corinthians, Athletico-PR, Bahia, Grêmio, Palmeiras, Ceará, Náutico e Santa Cruz.
- Entre os influenciadores contratados pela Esportes da Sorte que também são investigados, estão Deolane Bezerra e o cantor Gusttavo Lima.
- Entre as transações feitas por Darwin Filho e pela Esportes da Sorte consideradas suspeitas pela Polícia Civil, está a compra de veículos com valores acima de R$ 8 milhões, pagos à vista, incluindo uma Ferrari 296 GTB e uma Lamborghini Urus Performante. Esta última foi vendida a Deolane Bezerra (saiba mais abaixo).
- Por meio da quebra de sigilo fiscal de Darwin, a polícia conseguiu acesso a relatórios de informações do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) do governo federal que registraram a realização de depósitos fracionados em suas contas correntes e nas contas da Esportes da Sorte e transferências recorrentes de altos valores para outros investigados.
- No 1º dia da Operação Integration, em 4 de setembro, a polícia cumpriu um mandado de busca no apartamento de Darwin Filho, na Av. Boa Viagem, na Zona Sul do Recife. No local, segundo os investigadores, foram apreendidos joias e dinheiro.
- Darwin Filho se entregou à polícia no dia seguinte, juntamente com a esposa dele, Maria Eduarda Filizola, também investigada pela operação.
- O casal foi solto na segunda-feira (23) após a Justiça conceder um habeas corpus para 18 investigados da operação.
Segundo levantamento do g1, além da Esportes da Sorte (que a Justiça diz ser HSF Entretenimento e Promoção de Eventos), Darwin também aparece como sócio das seguintes empresas:
- Sports Entretenimento e Promoção de Eventos Esportivos Ltda
- DHF Produções e Promoções de Eventos e Publicidade Ltda.
- X1 Brasil Promoção de Eventos Esportivos Ltda.
- Edscap Ltda.
Darwin Henrique da Silva
- O empresário de 60 anos é pai do dono da Esportes da Sorte e proprietário da empresa O Caminho da Sorte, banca de apostas com sede no bairro de Afogados, na Zona Oeste do Recife.
- Segundo a polícia, o local promove jogo do bicho e jogos de azar eletrônicos, que são proibidos no Brasil.
- Conforme o inquérito, a investigação começou após uma apreensão de R$ 180.176,45 em espécie, dentro de um cofre, na sede da casa de apostas, no dia 1º de dezembro de 2022.
- No local, também foi recolhido um caderno com o nome “Rayssa” (que também é o nome de outra investigada), escrito na capa, que continha anotações diárias sobre apostas e prêmios pagos e canhotos de jogadas com os timbres da Caminho da Sorte e da Esportes da Sorte, além de informações sobre a contabilidade de lojas físicas da Esportes da Sorte.
- Ainda de acordo com as investigações, na própria banca O Caminho da Sorte, os clientes tinham a opção de fazer apostas por meio da plataforma online Esportes da Sorte.
- De acordo com o inquérito da Polícia Civil remetido à Justiça, as apostas eletrônicas da Esportes da Sorte eram realizadas em lojas físicas da banca O Caminho da Sorte, o que é proibido por lei.
- No relatório, a Polícia Civil anexou uma reportagem publicada pelo jornal Diário do Nordeste, do Ceará, de 5 de março de 2018, que detalha como Darwin Henrique da Silva levou para Fortaleza "uma nova modalidade de jogo do bicho", informatizada.
- Além de dono da Caminho da Sorte, Darwin (pai) é sócio, junto com a irmã, Dayse Henrique da Silva, da JC Neves, uma loja de artigos de papelaria localizada no bairro de Casa Amarela, na Zona Norte do Recife.
- A suspeita dos investigadores é de que Darwin Henrique da Silva usava nomes de parentes para lavar dinheiro obtido de rendimentos do jogo do bicho e de jogos de azar.
Marcela Tavares Henrique da Silva Campos
- A advogada de 34 anos é irmã de Darwin Henrique da Silva Filho e filha de Darwin Henrique da Silva e Maria Aparecida Tavares de Melo, outra investigada.
- É dona de uma agência de marketing e de um escritório de advocacia. Também é sócia do irmão, Darwin Filho, numa empresa de locações de serviços.
- É suspeita de receber recursos de jogo do bicho e jogos de azar na internet por meio de vários depósitos bancários e dinheiro em espécie;
- Segundo o inquérito, o objetivo dessas transferências era dissimular o valor total dos repasses.
- Para a polícia, os relatórios apresentados pela Receita Federal após a quebra de sigilo bancário e fiscal, a movimentação de recursos de Marcela Tavares Henrique da Silva Campos é incompatível com o patrimônio, a atividade econômica e a ocupação profissional que ela exerce.
- Foi presa após a deflagração da Integration, no início de setembro, e encaminhada para prisão domiciliar após ser beneficiada com um habeas corpus por ser mãe de duas crianças com menos de 12 anos, junto com Deolane Bezerra e a esposa de Darwin Filho, Maria Eduarda Filizola.
- Na segunda-feira (23), saiu da prisão domiciliar após a concessão do habeas corpus para os 18 investigados que estavam presos e foragidos.
Eduardo Pedrosa Campos
- Empresário de 36 anos, é marido de Marcela Tavares e cunhado de Darwin Filho. A mãe dele, Maria Bernadette Pedrosa Campos, e a tia, Maria Carmen Penna Pedrosa, também são investigadas.
- É sócio da mãe e da tia na empresa Estação do Seguro Corretora e Administração de Seguros Ltda., também investigada, e dono de uma empresa de consultoria.
- O empresário é citado no caso por receber depósitos e realizar transferências de recursos que seriam provenientes de jogos ilegais.
- Entre 2019 e 2022, segundo a polícia, Eduardo Pedrosa Campos declarou à Receita Federal um rendimento líquido de R$ 1.360.005,04. No mesmo período, relatórios da Receita Federal apontam movimentação bancária em suas contas de R$ 11.327.463,96 — mais de oito vezes o que foi declarado.
- Também no período entre 2019 e 2022, a Estação do Seguro teve uma movimentação financeira de R$ 1,9 milhão a mais do que os rendimentos declarados.
- De 2019 a 2023, segundo a investigação, os três sócios da Estação do Seguro, juntos, movimentaram R$ 22,6 milhões, mas declararam rendimentos de R$ 4,5 milhões.
Maria Bernadette Pedrosa Campos e Maria Carmen Penna Pedrosa
- Maria Bernadette tem 61 anos e é mãe de Eduardo Pedrosa, cunhado do dono da Esportes da Sorte. Maria Carmen tem 59 anos e é irmã de Maria Bernadette e tia de Eduardo Pedrosa.
- As duas são sócias de Eduardo Pedrosa na Estação do Seguro.
- Segundo a investigação, Maria Bernadette declarou à Receita Federal ter recebido R$ 1,4 milhão (bruto) entre 2019 e 2022. Nesse período, a movimentação financeira na conta dela foi de R$ 10,2 milhões, segundo relatórios enviados à polícia pela Receita.
- A diferença entre a renda declarada e a movimentação financeira na conta de Maria Bernadette chegou a 900% em 2021.
- Já Maria Carmen declarou rendimento bruto total de R$ 1,6 milhão e apresentou movimentação financeira de R$ 1,1 milhão, com um saldo negativo de R$ 760 mil, ao final do mesmo período.
Maria Aparecida Tavares de Melo
- Tem 54 anos e é mãe de Darwin Henrique Filho e de Marcela Tavares. É sócia de uma empresa de estética e de uma fornecedora de equipamentos de proteção individual (EPIs) e suprimentos.
- Segundo o inquérito, assim como outros suspeitos, apresentou movimentação financeira acima dos rendimentos declarados à Receita Federal.
- A investigação indica que suas contas foram usadas para receber e transferir recursos para os filhos e para a nora, Maria Eduarda Quinto Filizola, a esposa de Darwin Henrique Filho.
- Juntos, Maria Aparecida, Darwin Filho, Maria Eduarda, Marcela Tavares e Eduardo Pedrosa declararam rendimentos de R$ 18,1 milhões entre janeiro de 2019 e maio de 2023. Nesse mesmo período, suas contas movimentaram R$ 51,7 milhões, conforme o inquérito policial.
Maria Eduarda Quinto Filizola
- A empresária tem 36 anos e é sócia da Maria & Maria Eventos e Decorações, também investigada pela Operação Integration.
- De acordo com as investigações, a empresa dela recebeu recursos lavava dinheiro de jogos de azar, transferindo os recursos para as mesmas pessoas físicas e jurídicas, com o intuito de ocultar a origem ilegal do dinheiro.
- Entre as operações apontadas na investigação que está na primeira instância do Judiciário pernambucano, está o recebimento de 47 depósitos no valor total de R$ 892 mil, entre dezembro de 2019 e maio de 2020, e de 15 depósitos no valor total de R$ 628,5 mil, entre outubro de 2021 e maio de 2022, repassando os recursos para outros suspeitos de envolvimento no esquema.
Giorgia Duarte Emerenciano
- Tem 53 anos e é a atual companheira de Darwin Henrique da Silva.
- É investigada por fazer movimentações financeiras incompatíveis com seus rendimentos.
Dayse Henrique da Silva
- Irmã de Darwin Henrique da Silva, tem 61 anos e é tia de Darwin Filho. Também foi sócia do irmão na empresa JC Neves e na banca Caminho da Sorte.
- Foi presa no dia em que a Operação Integration foi deflagrada e solta após receber o habeas corpus da Justiça, na última segunda-feira (23).
- Nos autos, a defesa dela alega que Dayse deixou de ser sócia de Darwin Henrique da Silva nas empresas investigadas desde 2006.
- A defesa também sustenta que não existem citações sobre transações financeiras no nome de Dayse que possam ser consideradas suspeitas.
Flavio Cristiano Bezerra Fabrício
- Tem 47 anos e é citado no inquérito como depositante da Esportes da Sorte. O relatório da investigação não detalha a relação entre o suspeito e a empresa ou a família de Darwin Filho.
- De acordo com a investigação, o Coaf identificou uma transferência de R$ 350 mil da conta dele para a bet.
- Além disso, conforme o inquérito policial, ele apresentou uma movimentação financeira incompatível com a renda declarada à Receita Federal entre janeiro de 2019 e maio de 2023.
Vai de Bet
Dono e co-ceo da VaideBet, André e Aislla Rocha, ao lado do casal Gusttavo Lima e Andressa Suíte em festa na Grécia; Governador de Goiás Ronaldo Caiado aparece ao fundo — Foto: Reprodução/Redes Sociais
José André da Rocha Neto e Aislla Sabrina Henriques Truta Rocha
- José André e Aislla Sabrina são casados e sócios da PIX365 Soluções Tecnológicas Ltda (segundo o Ministério Público, este é o nome da empresa de apostas esportivas on-line Vai de Bet).
- José André também é sócio da JMJ Participações Ltda.
- Assim como a Esportes da Sorte, a Vai de Bet é suspeita de lavagem de dinheiro de jogos de azar eletrônicos e jogo do bicho através de apostas esportivas on-line.
- A Vai de Bet, segundo o inquérito, usaria operadoras financeiras para inserir dinheiro obtido de forma ilegal no sistema financeiro, promovendo uma série de transferências (depósitos e saques) entre diversos investigados, como forma de mascarar a forma como os recursos foram obtidos.
- Segundo citação da juíza Andréa Calado da Cruz, da 12ª Vara Criminal do TJPE ao inquérito policial, a Vai de Bet usou os serviços da Zelu Brasil e da Pay Brokers para intermediar pagamentos para uma das empresas do cantor Gusttavo Lima (Nivaldo Batista Lima), a GSA que são suspeitos de lavagem de dinheiro.
- O sistema adotado para a transferência, de acordo com a investigação, é semelhante ao realizado pela Esportes da Sorte com a influenciadora e advogada Deolane Bezerra.
- Ao todo, a empresa teria repassado, por meio de operadoras, R$ 5,9 milhões para a GSA Empreendimentos e Participações Ltda, que tem Gusttavo Lima como sócio. O valor representa 31,77% de todos os pagamentos recebidos pela GSA no ano de 2023.
- Deste total, R$ 1,3 milhão foi transferido da GSA para a conta de pessoa física de Gusttavo Lima (Nivaldo Batista Lima).
- Também é investigada a negociação feita pelo casal para a compra de um jato Cessna Aircraft, da Balada Eventos e Produções Ltda., outro CNPJ ligado a Gusttavo Lima (sócio administrador). A suspeita é que a transação serviu para ocultar valores provenientes de jogos ilegais.
- O mesmo avião foi comprado por Darwin Henrique Filho, por meio da empresa HSF Entretenimento e Promoções de Eventos Eireli (Esportes da Sorte), e devolvido, com restituição integral do valor pago, com distrato contratual, sob justificativa de falha na turbina da aeronave.
- A Vai de Bet patrocina o time de futebol do Paranavaí, que disputa a segunda divisão no campeonato estadual do Paraná, e cujo sócio majoritário é Gusttavo Lima.
Deolane Bezerra deixa Fórum do Recife após assinar documentos da soltura
Influenciadores
Deolane Bezerra e a mãe, Solange Bezerra, em foto de arquivo — Foto: Reprodução
Deolane Bezerra Santos
- Empresária e advogada, a influenciadora digital de 36 anos começou a ser investigada ao comprar um carro de luxo vendido por Darwin Henrique da Silva Filho, dono da Esportes da Sorte.
- Segundo a investigação, o veículo, de modelo Lamborghini Urus Performante, foi transferido para uma das empresas de Deolane, a Bezerra Publicidade e Comunicação Ltda., em novembro de 2023, apenas quatro meses depois de ser adquirido por Darwin Filho.
- O automóvel foi identificado em relatório da Receita Federal referente ao CEO da Esportes da Sorte, por ter sido comprado à vista por Darwin Filho por valor superior a R$ 8 milhões.
- Conforme o inquérito, entre 7 de novembro de 2022 e 10 de maio de 2023, a Bezerra Publicidade e Comunicação também apresentou uma movimentação de recursos incompatível com a capacidade financeira, tendo recebido mais de R$ 5 milhões da Pay Brokers.
- Deolane confirmou, em depoimento à polícia, a aquisição do carro e disse que recebeu pagamentos da bet por meio de contratos de publicidade. De acordo com a investigação, a influenciadora pagou R$ 3,8 milhões pelo veículo.
- Presa no dia 4 de setembro, Deolane chegou a ter a prisão preventiva convertida em domiciliar, mas, por descumprir medidas cautelares da Justiça, voltou a ficar detida no sistema prisional.
- Na terça-feira (24), a influencer foi solta após ser beneficiada com um habeas corpus. Além dela, outros 17 investigados foram contemplados pela medida.
Solange Alves Bezerra
- É a mãe de Deolane Bezerra e tem 56 anos.
- Foi detida junto com a filha no dia em que a Operação Integration foi deflagrada, permanecendo na Colônia Penal Feminina do Recife até ser solta na terça-feira (24), após ser beneficiada com o habeas corpus que contemplou outros 17 investigados.
- É suspeita de repassar dinheiro depositado em suas contas como parte de um esquema de lavagem de dinheiro de jogos de azar.
- Segundo a polícia, declarou ter renda mensal de cerca de R$ 10 mil, mas movimentou em suas contas aproximadamente R$ 475 mil, no período analisado pela investigação da Operação Integration.
- De acordo com as investigações, a mãe de Deolane recebeu valores da Pay Brokers, facilitadora de pagamentos suspeita de lavagem de dinheiro no futebol (saiba mais abaixo), e repassou recursos de volta para a corretora financeira por meio de várias transações sem justificativa.
Gusttavo Lima (Nivaldo Batista Lima)
Justiça revoga pedido de prisão de Gusttavo Lima
- O cantor mineiro de 35 anos é o dono das empresas Balada Eventos e Produções Ltda e GSA Empreendimentos e Participações Ltda.
- As empresas do cantor são suspeitas de participarem de esquema de lavagem de dinheiro de jogos de azar e apostas em jogo do bicho, ocultando valores das bets investigadas.
- A polícia investiga depósitos de R$ 49,4 milhões da Esportes da Sorte e da Vai de Bet nas contas das empresas GSA Empreendimentos e Participações Ltda. e Balada Eventos e Produções Ltda e na conta pessoal do artista.
- Vendeu, através de sua empresa, um jato para a Esportes da Sorte, que depois foi devolvido — por alegação de um problema na turbina, e vendido novamente — desta vez, para os donos da Vai de Bet (entenda mais abaixo).
- Entre as operações suspeitas realizadas pela empresa de Gusttavo Lima, segundo o inquérito, está a ocultação de R$ 4,9 milhões da empresa HSF Entretenimento Promoção de Eventos, que pertence a outro investigado pela Operação Integration, o empresário Boris Maciel Padilha.
- Os dois tiveram a prisão preventiva decretada pela juíza Andréa Calado da Cruz na segunda-feira (23), mas, no dia seguinte, a ordem de prisão foi revogada pelo desembargador Eduardo Guilliod Maranhão (veja vídeo acima).
Boris Maciel Padilha
- Empresário de Gusttavo Lima, é suspeito de ocultar valores de jogos ilegais por meio de dois empréstimos no valor total de R$ 10 milhões tomados da Esportes da Sorte e de Darwin Henrique da Silva Filho, em outubro e novembro de 2023.
- A investigação apontou que Bóris Padilha é proprietário de veículos de luxo avaliados em mais de R$ 40 milhões, incluindo três Ferrari, dois Rolls Royce, duas Bentley – o que demonstra que possui “alto poder econômico, não necessitando de empréstimo”.
- A investigação também apontou suspeita da prática dos mesmos crimes pela Balada Eventos e Produções Ltda.
- De acordo com o inquérito, a empresa é suspeita de dissimular a negociação da venda aeronave Cessna Aircraft modelo 560 XLS, que pertencia a Gusttavo Lima, para a Esportes da Sorte e, depois, para os donos da Vai de Bet.
- Conforme as investigações, a tentativa de mascarar a transação se deu, primeiro, por meio de duas transferências para a Esportes da Sorte: a primeira, no valor de R$ 4,8 milhões em abril de 2023, e a segunda, de R$ 4,9 milhões, no mês seguinte.
- Após a Esportes da Sorte devolver o valor alegando que havia um problema na turbina, a mesma aeronave foi negociada com a empresa JMJ Participações Ltda, de José André da Rocha, sócio da Vai de Bet, que transferiu para a empresa de Gusttavo Lima R$ 22,2 milhões por meio de depósitos em sequência, realizados entre fevereiro e julho de 2024.
ZenetPay
Thiago Lima Rocha e Rayssa Ferreira Santana Rocha
- Casados, o empresário de 35 anos e a empresária, de 36, são sócios na empresa Zelu Brasil Facilitadora de Pagamentos Ltda., a ZenetPay, fundada em 2022, e em outros quatro CNPJs, incluindo uma construtora, uma empresa de aluguel de máquinas para construção civil e duas empresas de soluções financeiras.
- Segundo o inquérito, a Zelu Brasil é intermediadora de pagamentos da Esportes da Sorte e da Vai de Bet.
- O relatório policial aponta que a empresa realizou operações bancárias consideradas suspeitas entre 16 de novembro de 2022 e 8 de fevereiro de 2023.
- Conforme o inquérito, nesse período, a Zenetpay recebeu em suas contas R$ 128.805.388 e repassou R$ 128.780.463.
- Desse total, ao menos R$ 12.302.000 foram destinados à Vai de Bet, que recebeu R$ 11.950.000 em 25 transferências bancárias; e à Esportes da Sorte, que obteve R$ 352 mil em dois lançamentos.
- Para os investigadores, esses pagamentos têm alguns "sinais de alerta" de transações suspeitas, como movimentação de recursos incompatíveis com o patrimônio e a atividade econômica deles e utilização de artifícios para burlar a identificação da origem do dinheiro.
Jockey Club Cearense
Ruy Conolly Peixoto
- É representante do Jockey Club Cearense e sócio de uma empresa de tecnologia. Tem 49 anos.
- Segundo o inquérito, o Jockey Club Cearense tem sede no município de Aquiraz, na Região Metropolitana de Fortaleza, e foi o segundo remetente de dinheiro para a Esportes da Sorte, com 18 lançamentos, totalizando R$ 1,7 milhão.
- Além de Ruy, o clube tem como procuradores Darwin Filho e outras três pessoas que não aparecem como investigadas nessa etapa do inquérito à qual o g1 teve acesso.
- Segundo relatórios do Coaf, o Jackey Club enviou e recebeu recursos de forma habitual por meio de Pix, DOC, TED e transferência para atividades diversas e sem vínculo aparente.
- Entre as transações identificadas como suspeitas, está um depósito de Darwin Filho no valor de R$ 200 mil para a conta do Jockey.
- Conforme a investigação, Ruy Peixoto também é suspeito de receber recursos de jogos ilegais.
- Foi preso no dia 4 de setembro, após a deflagração da operação, e liberado após o habeas corpus concedido nesta semana.
Pay Brokers
Edson Antonio Lenzi Filho e Thiago Heitor Presser
- Edson Lenzi Filho tem 40 anos e é diretor da corretora Pay Brokers EFX Facilitadora de Pagamentos S.A. e dono da PagFast EFX Facilitadora de Pagamentos S.A.
- Thiago Presser tem 33 anos e também é diretor Pay Brokers.
- Segundo a investigação, a Pay Brokers, sediada em Curitiba, é suspeita de realizar lavagem de dinheiro no futebol brasileiro, promovendo mais de 1,5 milhão de operações por Pix, diariamente. Parte dessas transações, de acordo com o inquérito, é relacionada a apostas esportivas.
- Conforme relatório da Receita Federal incluído na investigação, a corretora declarou receita bruta de R$ 4,2 milhões em 2021 e não há informações sobre os demais anos investigados.
- Os relatórios da Receita Federal apontam que, entre 2020 e 2023, a empresa teve movimentação financeira de R$ 2,1 bilhões.
Empresas investigadas
No processo que está tramitando no Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) também são listadas empresas investigadas na operação. São elas:
- Lotérica Sorte Grande de Franca Ltda.;
- Balada Eventos e Produções Ltda.;
- ZRO Instituição de Pagamentos S.A.;
- X1 Brasil Promoção de Eventos Esportivos Ltda.;
- Pagfast EFX Facilitadora de Pagamentos S.A.;
- K.J Participações Ltda.;
- Loteria Super Milionária Ltda.;
- Edscap Ltda.
O que dizem os investigados
Procurada, a Vai de Bet disse que os sócios da empresa não vão se pronunciar. Já a Pay Brokers enviou uma nota em que afirma que:
- A empresa é uma instituição de pagamento regulamentada pelo Banco Central e segue processos de compliance, em especial de prevenção à lavagem de dinheiro;
- Todas as transações intermediadas pela empresa são realizadas exclusivamente por Pix, "meio de pagamento oficial no país que é rastreável de ponta a ponta" por exigir um CPF válido e uma conta bancária atrelada à transação para efetivar os depósitos;
- Emprega suas contas em bancos comerciais para receber os valores, seguindo, igualmente, normas do Banco Central para prevenir fraudes ou ilicitudes;
- Depois dessa operação, o dinheiro é remetido para o banco de câmbio, que também monitora todas as transações, enviando o dinheiro para o exterior;
- São três entidades financeiras regulamentadas que monitoram todas as transações realizadas pela instituição.
Os advogados Rogério Nunes, Josimary Roche Vilhena e Luiz Ricardo Rodriguez Imparato, que representam Deolane Bezerra, informaram, também por nota, que o processo tramita sob segredo de Justiça e, por isso, seguem o protocolo de só se manifestarem nos autos. A defesa disse ainda que reafirma a inocência de Deolane e que ela mesma se pronunciará "em momento oportuno".
Deolane Bezerra falou sobre o processo depois que saiu da prisão nesta semana. Após assinar o termo de soltura no Fórum Rodolfo Aureliano, no Recife, a influenciadora declarou que "foram muitas mentiras espalhadas" enquanto ela esteve na cadeia e que acredita que "a justiça será feita".
A defesa de Marcela Tavares Henrique da Silva Campos, Eduardo Pedrosa Campos e Maria Eduarda Aparecida Tavares de Melo disse que:
- Todos eles são inocentes e "acreditam plenamente na Justiça para a correta apuração dos fatos";
- Estão confiantes no reconhecimento da legalidade de todos os atos das pessoas envolvidas na Operação Integration bem como dos vícios existentes na investigação;
- O inquérito policial, "a partir de uma apuração superficial, qualificou como criminosas atividades sem qualquer indício de ilicitude";
- O Ministério Público, ao analisar os autos, identificou a ausência de "elementos mínimos" de autoria e materialidade e requereu a liberdade dos investigados, que tiveram as prisões relaxadas pela Justiça;
- Os investigados seguem colaborando com as autoridades "como vêm fazendo desde o início das investigações".
O g1 também tentou entrar com as defesas dos demais investigados e aguarda as respostas.
Em nota divulgada na terça-feira (24), quando a Justiça revogou a ordem de prisão preventiva de Gusttavo Lima, a defesa do cantor divulgou uma nota na qual informou que:
- A relação do artista com as empresas investigadas era "estritamente de uso de imagem e decorrente da venda de uma aeronave";
- Todas as ações foram feitas legalmente, por meio de transações bancárias e mediante declarações aos órgãos competentes e registro da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac);
- Os contratos "possuíam diversas cláusulas de compliance e foram firmados muito antes de que fosse possível se saber da existência de qualquer investigação em curso";
- O cantor tem uma "vida limpa e uma carreira dedicada à música e aos fãs" e "medidas judiciais serão adotadas para obter um mínimo de reparação a todo dano causado à sua imagem".
Cinco dias após a deflagração da Operação Integration, o diretor jurídico da Esportes da Sorte gravou um vídeo defendendo a empresa e dizendo que toda a operação financeira da bet é feita através de "instituições íntegras". Antes disso, o empresário Darwin Henrique da Silva Filho divulgou uma carta em que disse ter sido surpreendido com a operação e estar com a "consciência tranquila".
* Estagiária, sob supervisão da editora Juliana Cavalcanti.