Por Artur Ferraz, g1 PE


Deolane Bezerra foi presa em investigação da polícia de Pernambuco — Foto: Reprodução/Instagram

A empresária e influenciadora Deolane Bezerra, presa numa operação contra uma organização criminosa suspeita de lavagem de dinheiro e prática de jogos ilegais, confirmou, em depoimento à polícia nesta quarta-feira (4), que recebia dinheiro da casa de apostas Esportes da Sorte por meio de contratos de publicidade.

Deolane confirmou, ainda, que comprou um carro de luxo do CEO da empresa, Darwin Henrique da Silva Filho. Segundo investigações, o veículo, de modelo Lamborghini Urus Performante, foi adquirido em 2023 por R$ 3,85 milhões.

Sem citar a influenciadora, a polícia diz em outro processo, que investiga a Esportes da Sorte, que o pagamento à vista pela compra e pela venda de carros de luxo feitas pela empresa e pelo empresário gerou "indícios da perpetração de lavagem de dinheiro proveniente do jogo do bicho e de apostas esportivas" (entenda mais abaixo).

Ela foi presa na manhã desta quarta (4), num hotel localizado no Centro do Recife (veja vídeo abaixo). A ação fez parte da Operação "Integration", que expediu 19 mandados de prisão e 24 de busca e apreensão em Pernambuco e em outros cinco estados: Goiás, Minas Gerais, Paraná, Paraíba e São Paulo.

Deolane Bezerra: quem é a influencer presa por lavagem de dinheiro e jogos ilegais

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A TV Globo teve acesso ao depoimento de Deolane Bezerra no Departamento de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Depatri), no bairro de Afogados, na Zona Oeste do Recife.

Segundo o documento, Deolane afirmou que, além da Lamborghini, possui outros dois carros de luxo, uma Landrover e um SW4, ambos adquiridos em 2023. Além disso, ela informou que tem uma casa, um terreno e um escritório em Alphaville, em São Paulo.

No interrogatório, a empresária disse também que manteve um contrato de publicidade com a Esportes da Sorte, que vigorou até maio deste ano. Ela afirmou que gerava as notas fiscais para receber os pagamentos e negou que tivesse envolvimento com esquema de lavagem de dinheiro e ocultação de bens.

Após a prisão, Deolane fez exame de corpo de delito e foi encaminhada para a Colônia Penal Feminina, no bairro da Iputinga, na Zona Oeste do Recife, para aguardar a audiência de custódia (veja vídeo abaixo).

Deolane e a mãe chegam pra fazer exame de Corpo de Delito no IML no Recife

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Entenda o que motivou investigação

O g1 também teve acesso ao processo que envolve a Esportes da Sorte no caso do suposto esquema de lavagem de dinheiro. No dia 29 de outubro de 2023, a polícia solicitou à 12ª Vara Criminal da Capital a quebra do sigilo fiscal da empresa e do seu dono, Darwin Henrique da Silva Filho, entre os dias 1º de junho e 29 de outubro do ano passado.

Na solicitação, o delegado informa que precisa de informações sobre as notas fiscais referentes à aquisição e à venda de dois carros de luxo tanto pela empresa quanto por Darwin Filho. O valor dos dois veículos foi avaliado em R$ 8 milhões.

Ainda segundo o documento, os carros foram adquiridos à vista, o que gerou "indícios da perpetração de lavagem de dinheiro proveniente do jogo do bicho e de apostas esportivas". O pedido foi acatado, no mês seguinte, pela juíza Andréa Calado da Cruz.

O documento do processo, no entanto, não informa quais foram os carros adquiridos e para quem eles foram vendidos.

A decisão da juíza cita ainda o cumprimento de mandado de busca e apreensão, no dia 1º de dezembro de 2022, na sede da Banca Caminho da Sorte, que pertence a Darwin Henrique da Silva, pai do CEO da Esportes da Sorte. Foi essa apreensão que, segundo o Ministério da Justiça e Segurança Pública, motivou o início das investigações.

Segundo o processo, foram apreendidos no local R$ 180.176,45 em espécie, além de "inúmeros documentos, suficientes para apontar estreita ligação entre as empresas supramencionadas na prática de atividade ilícitas".

Influenciadora presa

Como funcionava o esquema

Segundo o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP):

  • Cerca de R$ 3 bilhões foram movimentados por quadrilha que usava empresas de eventos e casas de câmbio para lavar dinheiro de jogos ilegais;
  • Esse valor foi movimentado de janeiro de 2019 a maio de 2023 em contas correntes, em aplicações financeiras e dinheiro em espécie, provenientes dos jogos ilegais;
  • A quadrilha usava empresas de eventos, publicidades, casas de câmbio e seguros para lavagem de dinheiro por meio de depósitos e transações bancárias;
  • O dinheiro era lavado por meio de depósitos fracionados em espécie, transações bancárias entre os investigados com saque imediato do montante, compra de veículos de luxo, aeronaves, embarcações, joias, relógio de luxo, além da compra de centenas de imóveis;
  • Os investigadores identificaram transações atípicas de pessoas físicas e jurídicas, que indicam indícios de crimes financeiros, sem nenhum suporte para as transações comerciais e financeiras feitas pelo grupo;
  • A maioria dos integrantes tem padrão de vida incompatível com a renda e bens declarados.

A investigação

  • A investigação contou com a participação das Polícias Civis dos estados em que houve cumprimento de mandados e até mesmo da Interpol;
  • A apuração dos crimes começou em abril de 2023, a partir da apreensão de R$ 180 mil em espécie em 1º de dezembro de 2022;
  • A operação "Integration" é a terceira fase da operação contra o grupo criminoso, mas detalhes não foram divulgados detalhes sobre as outras duas etapas;
  • Uma das empresas que está sendo investigada pela operação é a plataforma de apostas online Esportes da Sorte, que patrocina times de futebol como o Corinthians, Athletico-PR, Bahia, Grêmio, Palmeiras, Ceará, Náutico e Santa Cruz. Em nota, a empresa disse ter compromisso com a verdade e com o cumprimento de seus deveres legais.

Bens apreendidos

De acordo com a Polícia Civil de Pernambuco, também foi decretado o sequestro de bens dos alvos da operação. Entre os itens apreendidos, estão:

O que dizem Deolane e a Esportes da Sorte

O escritório da advogada Adélia Soares, que defende Deolane e Solange, publicou uma nota nas redes sociais em que diz que a investigação é sigilosa e que a empresária está à disposição das autoridades. Já em carta publicada no Instagram, a influenciadora afirmou que está sofrendo "uma grande injustiça" e que ela e a família são vítimas de preconceito.

Também procurada, a Esportes da Sorte disse, por meio de nota, que:

  • Ratifica o compromisso com a verdade, "com o jogo responsável e, principalmente, com o cumprimento de todos os seus deveres legais";
  • A casa de apostas está "de portas abertas" para apresentar documentos, esclarecer dúvidas e prestar "apoio irrestrito" a qualquer ação investigatória;
  • Atua sempre com transparência e está sem acesso aos autos do inquérito e às razões da ação policial.

Já o advogado Pedro Avelino, que representa o dono da Esportes da Sorte, Darwin Henrique da Silva Filho, disse, em entrevista à TV Globo, que precisa entender o contexto da operação e que o cliente se colocou à disposição da autoridade policial há mais de um ano e meio.

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