Por Bruno Fontes, Artur Ferraz, TV Globo e g1 PE


Influenciadores eram contratados para promover jogos de azar, diz secretário de Defesa Social

Influenciadores eram contratados para promover jogos de azar, diz secretário de Defesa Social

As casas de apostas investigadas na operação "Integration", que apura crimes de lavagem de dinheiro e jogos ilegais e que prendeu a empresária Deolane Bezerra e a mãe dela no Recife, contratavam influenciadores digitais para promover jogos de azar, que são proibidos por lei. A informação foi repassada pelo secretário de Defesa Social de Pernambuco, Alessandro Carvalho (veja vídeo acima).

Em entrevista à TV Globo na quinta-feira (5), o secretário afirmou que "há indícios e provas suficientes do cometimento do crime". Uma das bets investigadas é a Esportes da Sorte. O dono da empresa, Darwin Henrique da Silva Filho, e a esposa dele, Maria Eduarda Filizola, se entregaram à polícia e foram presos.

"É feita toda uma história de que o jogo vai levar você a ter um patrimônio, um carro, uma mansão, um barco, quando isso não é realidade. Aquela pessoa que tem um carro, uma mansão, um barco, não foi jogando [que ganhou]. Foi sendo patrocinada para vender uma ilusão e levar pessoas a jogar, muitas vezes, de forma compulsiva e perder tudo que têm", afirmou o secretário.

Ainda de acordo com Alessandro Carvalho, as bets envolvidas no esquema atuavam, inicialmente, no jogo do bicho, que é proibido no Brasil, e aproveitaram o crescimento do mercado de apostas esportivas online, autorizado e regulamentado pelo governo federal neste ano, para legalizar suas atividades.

'Jogo do tigrinho' é proibido no Brasil — Foto: Reprodução/TV Globo

"O jogo não é feito para o apostador ganhar. O jogo é feito para a casa [de apostas] ganhar. Então, foi visto de uma forma clara que esse grupo criminoso explorava também jogos que não são legais, como o 'Jogo do Tigrinho', e isso era canalizado para dentro da estrutura para legalizar", explicou.

Também segundo o secretário, com a regulamentação das bets, as organizações que trabalhavam com jogo do bicho migraram para o ramo de apostas esportivas pela internet.

"Se você pega um influencer, uma pessoa que tem uma imagem boa, faz um contrato com ele para que divulgue aquela bet — cada pessoa dessas, às vezes, tem milhões de seguidores —, é uma rede que se espalha de uma maneira muito rápida, e o dinheiro para dentro dessas organizações de uma forma muito rápida", declarou o secretário de Defesa Social.

Ele também afirmou que a prática dos jogos ilícitos se mistura com as atividades regulares das plataformas. "Existe a bet, que é a parte legal, mas existem, como foi comprovado na operação feita pela Polícia Civil de Pernambuco, outros jogos que não são legais dentro da mesma estrutura", contou.

Secretário de Defesa Social de Pernambuco, Alessandro Carvalho — Foto: Reprodução/TV Globo

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Suspeitas sobre a Esportes da Sorte

  • A Esportes da Sorte é uma plataforma online de apostas esportivas que patrocina diversos clubes de futebol, incluindo Corinthians, Athletico-PR, Náutico e Santa Cruz;
  • A "bet", nome pelo qual esse tipo de empresa é conhecido, começou a ser investigada em 1º de dezembro de 2022;
  • Nesse dia, a polícia apreendeu mais de R$ 180 mil em espécie, além de documentos, na sede da empresa Caminhos da Sorte, que pertence a Darwin Henrique da Silva, pai do CEO da Esportes da Sorte;
  • Em decisão judicial que concedeu a quebra de sigilo fiscal da empresa, em novembro do ano passado, a juíza Andréa Calado da Cruz afirmou que, conforme as investigações, a documentação apreendida foi suficiente "para apontar estreita ligação entre as empresas supramencionadas na prática de atividades ilícitas";
  • Outra atividade da empresa que está sob investigação diz respeito à compra e à venda de dois carros de luxo, uma Ferrari e uma Lamborghini Urus Performante, tanto pela pessoa jurídica da Esportes da Sorte quanto por Darwin Filho;
  • Os dois veículos foram comercializados à vista por R$ 8 milhões em 2023, segundo aponta o inquérito, e o processo não menciona para quem os carros foram vendidos;
  • No entanto, em depoimento à polícia após ser presa, na quarta (4), Deolane confirmou que comprou de Darwin Filho um carro, de modelo Lamborghini Urus Performante, no ano passado, por R$ 3,85 milhões.

Como foi a operação

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Como funcionava o esquema

Segundo o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP):

  • Cerca de R$ 3 bilhões foram movimentados por quadrilha que usava empresas de eventos e casas de câmbio para lavar dinheiro de jogos ilegais;
  • Esse valor foi movimentado de janeiro de 2019 a maio de 2023 em contas correntes, em aplicações financeiras e dinheiro em espécie, provenientes dos jogos ilegais;
  • A quadrilha usava empresas de eventos, publicidades, casas de câmbio e seguros para lavagem de dinheiro por meio de depósitos e transações bancárias;
  • O dinheiro era lavado por meio de depósitos fracionados em espécie, transações bancárias entre os investigados com saque imediato do montante, compra de veículos de luxo, aeronaves, embarcações, joias, relógio de luxo, além da compra de centenas de imóveis;
  • Os investigadores identificaram transações atípicas de pessoas físicas e jurídicas, que indicam indícios de crimes financeiros, sem nenhum suporte para as transações comerciais e financeiras feitas pelo grupo;
  • A maioria dos integrantes tem padrão de vida incompatível com a renda e bens declarados.

Bens apreendidos

De acordo com a Polícia Civil de Pernambuco, também foi decretado o sequestro de bens dos alvos da operação. Entre os itens apreendidos, estão:

O que dizem Deolane e a Esportes da Sorte

O escritório da advogada Adélia Soares, que defende Deolane e Solange, publicou uma nota nas redes sociais em que diz que a investigação é sigilosa e que a empresária está à disposição das autoridades. Já em carta publicada no Instagram, a influenciadora afirmou que está sofrendo "uma grande injustiça" e que ela e a família são vítimas de preconceito.

Também procurada, a Esportes da Sorte disse, por meio de nota, que:

  • Ratifica o compromisso com a verdade, "com o jogo responsável e, principalmente, com o cumprimento de todos os seus deveres legais";
  • A casa de apostas está "de portas abertas" para apresentar documentos, esclarecer dúvidas e prestar "apoio irrestrito" a qualquer ação investigatória;
  • Atua sempre com transparência e está sem acesso aos autos do inquérito e às razões da ação policial.

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