(Foto: Renata Caldeira / TJMG)
O quarto dia de julgamento do júri popular de Marcos Aparecido dos Santos - o Bola - acusado de executar Eliza Samudio, foi marcado por bate-bocas entre o ex-delegado Edson Moreira, que presidiu o inqúerito e atualmente é vereador em Belo Horizonte, e o advogado Ércio Quaresma. O defensor também teve embates com o promotor, Henry Wagner de Castro. A sessão desta quinta-feira (25), no Fórum de Contagem, na Região Metropolitana da capital, começou às 9h30, já com o depoimento do ex-delegado. "Estou me sentindo provocado. Eu gostaria de respeito comigo", disse Moreira à juíza Marixa Fabiane Rodrigues.
(Acompanhe no G1 a cobertura completa do julgamento do caso Eliza Samudio, com equipe de jornalistas trazendo as últimas informações, em tempo real, de dentro e de fora do Fórum de Contagem, em Minas Gerais. Conheça os réus, entenda o júri popular, relembre os momentos marcantes e acesse reportagens, fotos e infográfico sobre o crime envolvendo o goleiro Bruno.)
Durante a sessão, a juíza Marixa Fabiane determinou que Quaresma se limitasse apenas a perguntar. A magistrada considerou que o advogado estava argumentando. A juíza também reclamou que Quaresma, em alguns momentos, fazia perguntas repetitivas. Ela ainda se queixou de questões argumentativas que poderiam induzir respostas.
Sobre a presença do réu no momento da execução de Eliza, Quaresma disse que há uma lista de chamada da faculdade, confirmando a presença de Bola em sala de aula. Ele questionou ao ex-delegado se ele sabia onde Marcos Aparecido estava nesta hora. "Estava executando Eliza Samudio como testemunhou o Jorge", respondeu o vereador.
Os ânimos entre o promotor de Justiça Henry Wagner e Quaresma também ficaram alterados. "Eu quero dizer ao doutor Ércio Quaresma que a zombaria não me atingiu", disse Wagner sobre o uso da palavra "animal", que, supostamente, o advogado teria usado para descrever o promotor.
Quaresma explicou que não se referiu desta forma ao promotor e que foi um “equívoco” da imprensa.
Em outro momento da oitiva, o promotor xingou Quaresma. "O senhor é um canalha mentiroso". E o advogado revidou. "O senhor que é um canalha, e eu vou provar isso".
Reagentes químicos
Muitos questionamentos foram feitos por Quaresma. O advogado perguntou em quais locais foram feitas buscas pelo "suposto corpo de Eliza". O atual vereador listou alguns dos locais como a casa de Bola, o sítio de goleiro Bruno e em uma lagoa.
Com relação ao luminol - substância usada pela perícia para identificar vestígios de sangue - , Quaresma queria saber do ex-delegado por quanto tempo o reagente químico poderia identificar sangue. Moreira disse que em um prazo entre 40 a 60 dias. Moreira pediu para registrar que na segunda perícia feita no sítio de Bruno, em Esmeraldas, os policiais encontraram vestígios de sangue feminino, mas que não de Eliza. Ele contou que na primeira diligência o material não foi encontrado, e concluiu que foi ele colocado no travesseiro para atrapalhar o trabalho da perícia.
Quebra de sigilo
Quaresma queria saber sobre a quebra de sigilo telefônico feito em dezembro de 2012. Moreira disse que já estava afastado do cargo delegado à época. Quaresma insistiu e perguntou se ele ficou sabendo e Moreira afirmou que depois de ser eleito vereador não procurou saber sobre o andamento de investigações policiais.
O defensor questionou por que à época dos fatos não foi pedida a quebra de sigilo bancário de Bruno, Macarrão e Marcos Aparecido dos Santos. O ex-delegado disse que, em 2010, por volta de agosto ou setembro, pediu ao Ministério Público uma suplementação das investigações. O pedido foi motivado pela "desconfiança" de que José Lauriano era o "intermediário” entre Bruno, Macarrão e Bola. Lauriano, conhecido como Zezé, é um ex-policial atualmente sob investigação da polícia a respeito de seu envolvimento na morte de Eliza.
O MP informou à época que "em tempo oportuno" seria feita a suplementação. "O tempo passou, outros casos apareceram, eu tive férias e depois me afastei", disse Moreira. Quaresma questionou se o pedido foi formal ou verbal e Moreira falou que foi em conversa com o promotor Gustavo Fantini, que à época estava no caso. Mas Moreira confirmou que houve ligações telefônicas do Rio de Janeiro, de Bruno ou Macarrão, para o celular de Bola em fevereiro de 2010. "Salvo engano", reforçou.
Quaresma pergunta como Moreira sabe da ligação feita em fevereiro. O vereador diz que a informação é fruto da quebra de sigilo telefônico. Quaresma disparou: "Ou esse moço [o ex-delegado] fez alguma coisa ou não fez nada, só apareceu na televisão para dar entrevista". Neste momento, Moreira reforçou que está se sentido ofendido pelas perguntas da defesa. "Eu vou pedir que o senhor não argumente, que pergunte", disse a magistrada a Quaresma.
‘Zezé’
Quaresma perguntou se Edson Moreira sabe o que são "Os Neguinhos". O vereador pediu para fazer um esclarecimento e contou como a polícia chegou a José Lauriano. Ele disse que era o nome de uma banda de pagode ligada a Zezé que foi convidada a tocar no Rio de Janeiro, a convite de Macarrão ou Bruno. Quaresma relembrou o interrogatório de Dayanne, quando ela afirmou se sentir ameaçada por Zezé.
Terceiro dia
O ex-delegado Edson Moreira falou por mais de cinco horas no terceiro dia de julgamento de Marcos Aparecido dos Santos – o Bola –, acusado de matar e ocultar o cadáver de Eliza Samudio. A sessão com a testemunha de defesa começou por volta das 13h30 e foi suspensa às 18h50 desta quarta-feira (24). Durante o depoimento, Moreira afirmou que acredita ser uma “simulação” por parte do assassino a versão de que a mão da ex-amante do goleiro Bruno Fernandes foi jogada a cachorros.
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Segundo o ex-delegado, em depoimento, Jorge Luiz Lisboa - primo de Bruno - disse que Bola falou "olha a mão dela aí" indo em direção ao canil e teria jogado a parte do corpo de Eliza para os animais. "Aquilo lá foi uma dissimulação do autor", disse Moreira. Para ele, Bola não queria que os presentes na cena do crime soubessem o que seria realmente feito com o corpo, e deu a entender que jogaria para os cachorros.
Inicialmente, Moreira seria ouvido como informante policial. Mas, antes de começar o depoimento, a defesa de Marcos Aparecido pediu para ele ser ouvido como testemunha, alegando que Moreira não é mais policial. A juíza deferiu o pedido. O ex-delegado, hoje é vereador em Belo Horizonte.
Jornalista ouvido
O jornalista José Cleves, testemunha de defesa no Caso Eliza Samudio, foi o primeiro a entrar no plenário nesta quarta-feira (24), em depoimento à Justiça, no Fórum de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Silva, que foi arrolado pela defesa de Marcos Aparecido dos Santos, o Bola – acusado de matar Eliza Samudio e ocultar o corpo dela – disse à juíza Marixa Fabiane que conheceu o réu por meio das notícias publicadas pela imprensa.
Ele negou conhecer o goleiro Bruno; Luiz Henrique Romão, o Macarrão, Wemerson Marques, Elenílson Vítor da Silva, Dayanne Rodrigues e Fernanda Castro – todos réus no caso. Disse, também, que nunca morou em Vespasiano ou Esmeraldas, sempre em Belo Horizonte.
Cleves foi chamado pela defesa porque, em 2000, foi acusado pela Polícia Civil de ter assassinado a própria mulher. Ele foi absolvido por unanimidade. Naquela época, o inquérito foi conduzido pelo delegado Edson Moreira. Perguntado pelo assistente de acusação, José Arteiro, ele disse que acompanhou a carreira de Moreira, tendo boa convivência com ele. Cleves também disse não saber de nenhum caso em que o delegado tenha agido com má-fé. Disse, apenas, saber que muitos inquéritos que ele conduziu "não deram em nada".
No plenário, o advogado Ércio Quaresma perguntou se os assassinos da mulher da testemunha foram presos e indiciados e Cleves contou que um deles foi morto 30 dias depois do crime, e que o outro suspeito já havia morrido.
(Foto: Ramon Faria/TV Globo)
Segundo dia
O segundo dia de julgamento do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, terminou por volta das 19h35 desta terça-feira (23), após o depoimento do delegado-geral da Corregedoria de Polícia Civil – Renato Patrício Teixeira. Ele foi ouvido como testemunha de defesa. Outras duas testemunhas foram ouvidas nesta terça-feira: Jaílson Alves de Oliveira, arrolado pela acusação, e o deputado estadual Durval Ângelo (PT), arrolado pela defesa.
O policial falou sobre dois procedimentos da corregedoria relativos ao delegado Edson Moreira, que conduziu as investigações do caso Eliza Samudio e hoje é vereador em Belo Horizonte. Segundo Teixeira, um dos casos seria sobre agressão e o outro sobre o pedido de R$ 2 milhões para arquivar o inquérito de Bruno. O delegado afirmou que nestes casos, não houve nenhum indiciamento contra Moreira por falta de provas.
Ele também foi perguntado pela defesa sobre a morte de Sérgio Rosa Sales – primo de Bruno, que também era réu no caso – que foi investigada pela corregedoria. O delegado destacou que o motivo da morte do primo de Bruno foi esclarecido. Segundo ele, as investigações apontaram que Sérgio Rosa Sales foi morto por ter feito ‘gracejos’ à amante de um traficante.
O Ministério Público questionou o corregedor se ele sabia o motivo pelo qual Bola não havia seguido carreira como policial civil. Segundo Renato Teixeira, o motivo da exoneração da polícia mineira foi "falta de idoneidade moral".
Testemunha de acusação
O presidiário Jaílson Alves de Oliveira, que foi ouvido como testemunha de acusação disse, nesta terça-feira (23), que sofre ameaças “quase todos os dias”. A resposta foi dada depois de ser questionado pelo promotor de Justiça Henry Wagner sobre ameaças dentro da penitenciária. Os problemas acontecem, segundo Oliveira, desde que depôs contra o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, acusado de matar Eliza Samudio e ocultar o cadáver dela.
Primeiro dia
A delegada Ana Maria Santos, que participou das investigações do caso na época do inquérito policial, foi ouvida por cerca de seis horas no primeiro dia do júri. Ela afirmou que Jorge Luiz Rosa – primo do goleiro Bruno Fernandes, e adolescente na época do crime – disse em um dos depoimentos que o executor de Eliza seria branco, "patolinha", com falhas nos dentes e responderia pelo apelido de Neném. Segundo a delegada, por medo, Jorge deu outra descrição do executor de Eliza quando ouvido no Rio de Janeiro, dizendo que era pessoa "alta e negra". "Ele disse que o fizera porque estava com medo", relatou a delegada. O medo, conforme ela, era do executor de Eliza.
Na segunda-feira (22), foi formado o Conselho de Sentença. Quatro homens e três mulheres julgarão o ex-policial pelos crimes de assassinato e ocultação de cadáver de Eliza Samudio, ex-amante do goleiro Bruno Fernandes – já condenado pelos crimes.
Antes disso, a juíza Marixa Fabiane indeferiu pedidos da defesa para desconsiderar a certidão de óbito de Eliza Samudio e de adiamento do julgamento pela ausência de duas testemunhas: a delegada Alessandra Wilke e de Jorge Luiz Rosa, primo de Bruno.