22/04/2013 21h58 - Atualizado em 23/04/2013 14h09

Bola foi ‘escolhido’ como réu por ser ‘inimigo’ de delegado, diz advogado

Segundo defesa, desavença aconteceu em SP, quando trabalhavam juntos.
Ex-policial é acusado de matar e ocultar o cadáver de Eliza Samudio.

Pedro CunhaDo G1 MG

Advogado de defesa de Bola conversa com a imprensa na porta do Fórum de Contagem (Foto: Pedro Cunha / G1)Um dos advogados de defesa de Bola - Fernando
Magalhães - conversa com a imprensa na porta do Fórum
de Contagem (Foto: Pedro Cunha / G1)

Fernando Magalhães, advogado de Marcos Aparecido dos Santos – o Bola –, afirmou, na noite desta segunda (22), em frente ao fórum de Contagem (MG), que Bola somente está no banco dos réus por ser inimigo do delegado Edson Moreira, responsável pelas investigações do caso. “Eu tenho prova de que foi escolhido Marcos Aparecido para ser réu. Ele é inimigo da autoridade policial que presidiu as investigações, Edson Moreira”, disse. Bola é acusado de matar e ocultar o cadáver de Eliza Samudio – ex-namorada do goleiro Bruno Fernandes.

(A partir de segunda, dia 22, acompanhe no G1 a cobertura completa do julgamento do caso Eliza Samudio, com equipe de jornalistas trazendo as últimas informações, em tempo real, de dentro e de fora do Fórum de Contagem, em Minas Gerais. Conheça os réus, entenda o júri popular, relembre os momentos marcantes e acesse reportagens, fotos e infográfico sobre o crime envolvendo o goleiro Bruno.)

Segundo Magalhães, as desavenças entre os dois começaram quando Bola e Moreira trabalhavam juntos no estado de São Paulo. “Isso remonta lá em São Paulo, quando os dois trabalhavam na Polícia Militar, juntos, na cavalaria, ou alguma coisa parecida”.

Fernando Magalhães disse, ainda, que “terceiros foram beneficiados” por serem “próximos” de delegados que investigaram o caso.

“A delegada de polícia, primeiro, esclareceu que todos os delegados participaram da colheita de todas as provas. E perguntada porque outros números que estavam ali inseridos na quebra do sigilo não foram investigados e porque os números de dois policiais que tinham ligações em maior quantidade para Luiz Henrique Ferreira Romão – no caso, o Ministério Público diz ser Gilson Costa e José Laureano –, ela não soube responder porque a autoridade policial resolveu retirá-los”, concluiu.

O delegado Edson Moreira foi procurado pelo G1, mas não quis comentar as acusações do advogado de Bola.

Primeiro dia
A sessão desta segunda-feira (22) começou durante a manhã, onde foram ouvidas as preliminares da defesa de Marcos Aparecido dos Santos e da Promotoria. Após um intervalo para almoço, o Conselho de Sentença foi definido: quatro homens e três mulheres julgarão o ex-policial pelos crimes de assassinato e ocultação de cadáver de Eliza Samudio, ex-amante do goleiro Bruno Fernandes – já condenado pelos crimes.

A juíza Marixa Fabiane indeferiu pedidos da defesa para desconsiderar a certidão de óbito de Eliza Samudio e de adiamento do julgamento pela ausência de duas testemunhas: a delegada Alessandra Wilke e de Jorge Luiz Rosa, primo de Bruno.

A primeira pessoa a ser ouvida no plenário do júri é a delegada Ana Maria Santos - que participou das investigações do caso. Segundo a assessoria do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), a policial fala como informante. Ela havia sido arrolada como testemunha de defesa e de acusação, porém, Ana Maria pediu que fosse ouvida apenas como informante e a solicitação foi deferida pela juíza, conforme o TJMG.

Júri

Cronologia caso Eliza Samudio (Foto: Arte/ G1)

Sete jurados decidirão o destino do réu no Fórum de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (MG), no júri presidido pela juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues. A previsão é que o julgamento dure três dias, segundo o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). Bola está preso desde 2010, acusado de ser o executor da jovem. Uma propriedade dele, em Vespasiano (MG), foi um dos locais vaculhados pela policia.

Bola seria julgado em novembro do ano passado, porém, no primeiro dia do júri, seus advogados abandonaram o plenário e ele se negou a ser representado por um defensor público. Depois disso, teve seu julgamento desmembrado.

O ex-policial ainda responde pelo desaparecimento, tortura e morte de duas pessoas, em Esmeraldas (MG), em 2008, e pelo assassinato de um homem em 2009, em Belo Horizonte. Em novembro de 2012, ele foi absolvido, da acusação de ter assassinado um carcereiro no ano 2000, em Contagem.

Segundo o Ministério Público, nove acusados, sob ordens de Bruno, participaram do sequestro e desaparecimento de Eliza Samudio, entre eles o amigo Macarrão e uma ex-namorada do goleiro, ambos condenados em novembro. A acusação contra uma pessoa foi arquivada. Para a Promotoria, o jogador, que atuava no Flamengo, arquitetou o crime para não ter de reconhecer o filho que teve com Eliza nem pagar pensão alimentícia. Conheça todos os réus.

No dia 8 de março, o goleiro Bruno Fernandes foi condenado a 22 anos e 3 meses de prisão em regime inicialmente fechado por homicídio triplamente qualificado (por motivo torpe, asfixia e uso de recurso que dificultou a defesa da vítima), sequestro e cárcere privado e ocultação de cadáver. A pena foi aumentada porque o goleiro foi considerado o mandante do crime, e reduzida pela confissão do jogador.

Conforme a denúncia, Eliza foi levada à força do Rio de Janeiro para um sítio do goleiro, em Esmeraldas (MG), onde foi mantida em cárcere privado. Depois, foi entregue para o ex-policial Bola, que a asfixiou e desapareceu com o corpo.

O bebê Bruninho, filho de Eliza e de Bruno, que foi achado com desconhecidos em Ribeirão das Neves (MG), hoje vive com a avó em Mato Grosso do Sul. Um exame de DNA comprovou a paternidade.

Além do ex-policial, dois réus ainda vão ser julgados separadamente. No dia 15 de maio, vão a júri Elenílson Vitor da Silva e Wemerson Marques de Souza. Sérgio Rosa Sales, primo de Bruno, foi morto a tiros em agosto. Dayanne Rodrigues, ex-mulher do goleiro, foi absolvida durante o julgamento em março.

Investigações
A polícia encerrou o inquérito com base em laudos que atestam a presença de sangue de Eliza em um carro de Bruno, nos depoimentos de dois primos que incriminam o goleiro, em sinais de antena de celular e multas de trânsito que mostram a viagem do grupo do Rio de Janeiro até Minas Gerais e em conversas de Eliza com amigos pela internet, nas quais relata o medo que sentia.

Eliza também havia prestado queixa contra o atleta quando ainda estava grávida, dizendo que ele a forçou, armado, a tomar abortivos. Ela ainda deixou um vídeo dizendo que poderia aparecer morta se não tivesse proteção.

Apesar de os primos de Bruno terem alterado as versões, os depoimentos devem ser usados pela acusação no júri. Um deles, Jorge Luiz Rosa, adolescente à época, já cumpriu medida socioeducativa por atos análogos a homicídio e sequestro. Ele foi o primeiro a delatar o goleiro, confessando ter ajudado Bruno a levar Eliza ao sítio. O jovem contou que a vítima foi entregue a Bola e que ele presenciou a morte. Dias depois, negou tudo.

 O jovem, hoje com 19 anos, voltou a falar em entrevista ao 'Fantástico' neste ano. Ele disse que não tinha como Bruno não saber que Eliza seria morta.

O outro primo, Sérgio Rosa Sales, ajudou na reconstituição do crime, mas foi morto com seis tiros, em agosto deste ano. Ele também chegou a desmentir as acusações contra o goleiro, mas, em uma carta enviada por ele aos pais, incluída no inquérito, relatou ter sofrido ameaça de outros advogados para alterar o depoimento. À época, o advogado de Bruno, Francisco Simim, negou qualquer pressão.

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