A terra indígena Marãiwatsédé, de mais de 165,2 mil hectares no nordeste de Mato Grosso, já teve mais de 47% de sua área - mais de 78 mil hectares - consumidos pelas queimadas este ano. A constatação é das organizações não-governamentais Operação Amazônia Nativa (Opan) e Instituto Socioambiental (ISA) com base em dados obtidos por satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
De ocupação xavante e localizada entre os municípios de Alto Boa Vista, Bom Jesus do Araguaia e São Félix do Araguaia, Marãiwatsédé tem se mantido, desde o início do ano, na liderança das terras indígenas em número de queimadas, segundo dados do Inpe. Marãiwatsédé tem registrado mais focos de calor que terras indígenas como Cana Brava (MA), Kraolândia (TO), Pareci (MT) e Porquinhos dos Canela-Apãnjekra (MA).
De acordo com relatório da Opan e do ISA, entre o final de julho e agosto houve um aumento significativo do número de queimadas em Marãiwatsédé. Até 24 de julho, elas haviam consumido 23,5 mil hectares da vegetação. Depois, até o dia 9 de agosto, foram consumidos outros 55,3 mil hectares da área.
Só o período mais crítico deste ano até agora – entre os dias 7 de julho e 9 de agosto – teve registro de 3.036 focos de calor na terra xavante, número que supera o total do ano passado em pouco mais de 9%.
Segundo ambas as organizações autoras do relatório, os incêndios têm características de origem criminosa. Eles se localizam nas proximidades das estradas que cortam a região, como a rodovia federal BR-158, e em áreas pouco acessadas pelos xavantes da terra indígena.
posseiros e Funai. (Foto: Reprodução/TVCA)
Fogo criminoso
A situação de fogo com suspeita de origem criminosa é recorrente desde que a terra indígena passou pelo processo de desintrusão, concluído em 2013. Disputada judicialmente por produtores rurais e pela Fundação Nacional do Índio (Funai), a área teve de ser desocupada à força pelos posseiros. Desde então, incêndios têm sido registrados na área, sobretudo em períodos de seca.
Em agosto de 2013, mais de 31 mil hectares de vegetação foram destruídos pelo fogo em Marãiwatsédé. Brigadistas que atuavam no local chegaram a ser ameaçados por pessoas em caminhonetes, reforçando os indícios da origem criminosa dos focos de queimada.
À época foi solicitada escolta para os brigadistas do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo) poderem atuar com segurança. Já em 2014 o número de queimadas em terras indígenas em Mato Grosso teve aumento de 68%.
De acordo com a Funai, a instituição não tem função de realizar o controle das queimadas, mas sempre aciona o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) para esta função. Como o último censo indígena no país foi realizado em 2004 (anos antes da desintrusão e devolução de Marãiwatsédé para os xavantes), a fundação não tem número fechado do total de indígena que atualmente habitam o local.
Por sua vez, a assessoria do Ibama em Mato Grosso informou que uma equipe de brigadistas estava na região de Marãiwatsédé fazendo aceiros para proteger as áreas de lavoura e de gado das queimadas. Entretanto, por falta de segurança para combater o fogo, os brigadistas já deixaram a região.