O Rio viu mais três inocentes morrerem vítimas da violência da cidade. São moradores do Complexo do Alemão que ficaram no meio do fogo cruzado entre bandidos e policiais militares. Entre os mortos, o menino Benjamin de apenas um ano e sete meses.
A família acusa a polícia de agir com violência. Especialistas em segurança questionam como a polícia deve reagir a ataques de traficantes em locais movimentados.
Um menino inocente, alegre. Benjamin, de 1 ano e sete meses, morreu com um tiro na cabeça na noite desta sexta-feira (16) no Complexo do Alemão. Imagens feitas por um morador mostram a avó do menino desesperada, segurando o carrinho vazio. Ele e a mãe voltavam para casa e pararam para comprar algodão doce, quando se viram no meio do fogo cruzado entre policiais militares e bandidos.
“Eu acordei de manhã, ele sorrindo para mim e me dando um beijo. E quem vai fazer isso? Ninguém, porque meu filho morreu. E quem está sofrendo sou”, afirma Paloma Maria Novaes. A mãe se feriu com dois tiros de raspão na barriga e no braço.
Outra vítima foi Maria Lúcia da Costa. Ela tinha 58 anos. Era mãe, trabalhadora, e morreu baleada quando descia de um ônibus. Maria Lúcia tinha ido comprar um vestido para usar numa festa na noite deste sábado (17).
José Roberto Ribeiro da Silva, de 58 anos, era pai de família, trabalhador, apaixonado por música. Foi atingido no peito quando voltava de um curso.
Três pessoas que nasceram, cresceram e morreram no Complexo do Alemão. Três histórias interrompidas de repente. Três inocentes mortos enquanto tentavam levar a vida em meio à violência do Rio.
“Meu filho só tinha um aninho. Com tanta vida pela frente, infelizmente ele não morreu de velhice, não. Interromperam a vida dele estupidamente, simplesmente por um sistema falido”, desabafou o pai de Benjamin, Fábio Antonio da Silva.
Os policiais militares disseram que estavam em deslocamento de rotina pela comunidade quando viram um carro suspeito. No momento da abordagem, os bandidos atiraram e os policiais revidaram. Houve um intenso confronto. O comando da UPP informou que os policiais agiram em legítima defesa e que a abordagem seguiu o protocolo da Polícia Militar.
A orientação dos especialistas em segurança é que os policiais devem sempre analisar o risco de trocar tiro perto de moradores. “O policial não tem como prever se a abordagem vai ter uma resposta pacífica ou não. Se houver uma reação armada, o policial deve avaliar se a resposta dele, armada também, vai elevar ou não o risco para as pessoas que estão no entorno”, explica o especialista em segurança Fernando Veloso.
A família de Benjamin acusa a PM pela morte do menino. “Eu vi a morte do meu neto”, diz a avó.
“Eles não querem nem saber, vão largando o dedo em cima dos moradores, para cima dos caras. Eles não querem nem saber”, diz um homem.
E reclama da truculência dos policiais. “O outro rasgou a minha blusa e deu um tapa na minha cara, moça”, afirma a avó de Benjamin.
O caso está sendo investigado pela Divisão de Homicídios, que agora vai tentar descobrir como exatamente esse confronto aconteceu e de quais armas partiram os tiros que mataram as vítimas.
Um menino de 11 anos, que também foi baleado, está no Hospital Souza Aguiar, no Centro do Rio. O quadro de saúde dele está estável. Um suspeito se feriu e está internado sob custódia. Os outros bandidos fugiram.
Durante a manhã deste sábado (17), as famílias dos mortos se encontraram no IML para liberar os corpos. “A gente nasce, cresce, estuda e sonha. Quando você tem um histórico... Eu sou filho de ex-traficante do morro do Turano. Minha mãe teve 13 filhos. Então, basicamente, para eu conseguir chegar onde eu cheguei com 38 anos, pai de 10 filhos... Infelizmente, o paraíso que aqui tem é para poucos. Se isso não mudar, infelizmente muitos Benjamins vão padecer”, avalia Fabio Antonio da Silva, pai do Benjamin.