Edição do dia 15/03/2018

15/03/2018 21h27 - Atualizado em 15/03/2018 21h28

Multidão emocionada se despede da vereadora Marielle Franco no Rio

Mulher negra, cria da Maré, defensora dos direitos humanos, era como a vereadora assassinada aos 38 anos se descrevia nas redes sociais.

Uma multidão foi se despedir de Marielle Franco na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. A vereadora era reconhecida como defensora da igualdade de direitos. E demonstrava orgulho da sua origem.

“Mulher negra, cria da Maré, defensora dos direitos humanos”. Era assim que Marielle se descrevia nas redes sociais. Era assim que ela vivia.

“Uma coisa é você nascer, crescer, viver na favela. Outra coisa é você reivindicar e usar desse lugar de favelada para estar fazendo política de outra maneira”.

Marielle Franco começou na militância política depois de perder uma amiga, vítima de bala perdida, num tiroteio entre policiais e traficantes na favela onde nasceu.

Estudou com bolsa integral. Era socióloga, mestre em administração, vereadora pelo PSOL. Marielle tinha só 38 anos.

“A gente mais uma vez sendo vítima da violência deste estado, desta ausência de segurança que a gente tem. Tentaram calar não só 46 mil votos, muito mais, várias mulheres negras. Foi um ato covarde”, disse a irmã Anielle Franco.

Na última imagem de Marielle, pouco antes de ser assassinada, ela participou de uma roda de conversa com mulheres negras, na Lapa, centro do Rio.

“Na minha fala do 8 de março, a gente terminou com uma frase da Audre Norde: Não sou livre enquanto outra mulher for prisioneira, mesmo que as correntes dela sejam diferentes das minhas”.

Se a morte de Marielle teve a intenção de calar a mulher que se fez ouvir além dos muros da favela, a partir de hoje, a voz dela vai estar ainda mais presente.

“A morte da Marielle é uma morte irreparável, uma mulher incrível guerreira, representativa das pautas populares. Marielle sempre radiante e firme, corajosa, perde a vida de uma forma terrível”, disse a socióloga Viviane Sales.

Um dos poucos rostos da renovação política do Rio, Marielle era voz forte em defesa dos jovens, das mulheres, dos negros, dos homossexuais. Era voz contra a violência e as desigualdades.

Ela entrou para a política como assessora do deputado estadual Marcelo Freixo, do PSOL, com quem trabalhou por dez anos. Em 2016, foi eleita vereadora com a quinta maior votação da cidade. Presidia a Comissão em Defesa da Mulher e participou da CPI dos Ônibus na Câmara Municipal.

Marielle também era uma das relatoras da comissão parlamentar que acompanha a intervenção federal na segurança pública do Rio. Ela foi contra a intervenção porque temia que as ações prejudicassem os mais pobres, moradores das comunidades carentes já submetidos ao tráfico. Ela também criticava a falta de uma definição sobre quem iria fiscalizar as ações.

Foram muitos os sentimentos que levaram uma multidão ao velório na Câmara de Vereadores, no Centro do Rio.

Os corpos de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes foram recebidos com muita emoção.

Depois, todos foram até o Cemitério do Caju, na zona portuária do Rio, para a última despedida.

“Eu acho que ela vai despertar uma coisa em todos nós que a gente vai todos os dias acordar para fazer alguma coisa”, disse a cantora e atriz Zezé Motta.

Marielle Franco tinha uma filha de 20 anos. Ela deixou uma mensagem numa rede social: “Mataram minha mãe e mais 46 mil eleitores. Nós seremos resistência porque você foi luta. Te amo”.

“É uma militante de direitos humanos assassinada. É uma militante de direitos humanos calada, silenciada. A resposta virá. Você não tenha dúvida que no Brasil inteiro hoje quem matou a Marielle achando que ia calar a Marielle transformou a Marielle num símbolo que vai fazer com que muitas Marielles brotem nas praças públicas a partir de hoje. Isso não vai ficar impune. Isso não vai provocar silêncio”, disse o deputado Marcelo Freixo.

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