De acordo com a denúncia, Cláudia Cruz, mulher de Eduardo Cunha, foi beneficiária direta de parte da propina de 1, 5 milhão de dólares recebida pelo marido. O deputado, que foi afastado da presidência da Câmara, teria recebido o dinheiro para viabilizar a compra, pela Petrobras, de metade de um bloco para exploração de petróleo em Benin em 2011. O valor total do negócio foi de 34,5 milhões de dólares.
Segundo o Ministério Público, Cláudia Cruz gastou parte da propina, mais de meio milhão de dólares, com artigos de luxo em cidades como Paris, Roma e Dubai.
Em depoimento à Polícia Federal em abril, Cláudia Cruz disse que movimentava uma conta aberta única e exclusivamente para pagar despesas dos filhos no exterior. Disse também que nunca perguntou a origem do dinheiro e que era Eduardo Cunha quem abastecia a conta.
O juiz Sérgio Moro disse que a ocultação de valores em contas no exterior, a inconsistência dos gastos apontados pela investigação com os rendimentos lícitos do casal e o desinteresse de Cláudia Cruz de conhecer a origem do dinheiro são razões suficientes para a aceitação da denúncia. Os investigadores afirmam que Cláudia Cruz também recebeu no exterior dinheiro de outras contas controladas pelo marido.
Eduardo Cunha vem afirmando que não tem conta no exterior e argumenta que é apenas beneficiário de trusts, palavra inglesa usada para definir empresas particulares que administram bens e ativos de uma determinada pessoa.
No despacho desta quinta (9), o juiz Sérgio Moro afirmou que "esse álibi, de que os valores eram titularizados por trusts ou offshores é bastante questionável, já que aparentam ser apenas empresas de papel, sem existência física ou real".
Além de Cláudia cruz, se tornaram réus na ação desta quinta (9) o ex-diretor da Petrobras Jorge Zelada, o operador João Augusto Rezende Henriques, já condenados na Lava Jato e presos, e o empresário português Idalécio Castro Rodrigues de Oliveira. As defesas de João Augusto Henrique e Jorge Zelada afirmaram que vão se manifestar nos autos processo.
E o empresário português Idalécio de Castro Rodrigues de Oliveira ainda não apresentou um advogado de defesa. A defesa de Claudia Cruz afirmou que ela não tem qualquer relação com atos de corrupção ou de lavagem de dinheiro, não conhece os demais denunciados e jamais participou ou presenciou negociações ilícitas.
Eduardo Cunha afirmou, em nota, que a mulher possuia conta no exterior, dentro das normas e declaradas às autoridades no momento obrigatório. E que a origem do dinheiro não tem a ver com recursos ilícitos ou recebimento de vantagem indevida.
Um dos mais poderosos
Mesmo afastado da presidência da Câmara, Eduardo Cunha continua sendo um dos políticos mais poderosos no Legislativo em Brasília. E um hábil manipulador de todos os recursos regimentais, além de articulações políticas, para se livrar da cassação do mandato por quebra de decoro. Até chegar Sérgio Moro.
A denúncia contra Cláudia Cruz, a mulher dele, tira um pouco do fôlego de Cunha, que sente que a cada dia o cerco se aperta mais. Mas quem convive com Cunha disse que ele está muito longe de ser considerado um político derrotado.
E a prova é que, na Câmara, muitos deputados e assessores conversam com receio de que pudessem ser ouvidos por Cunha. Baixam a voz quando vão fazer alguma crítica a ele. Apesar disso, é fato que Cunha ainda tem uma grande capacidade para impor alguns partidos, o desgaste político, mesmo há 4 meses das eleições municipais.
Basta ver o PR (Partido da República), que trocou dois deputados da Comissão de Constituição e Justiça, onde há um recurso que, se aprovado, pode beneficiar Eduardo Cunha na votação final do pedido de cassação do mandato no Plenário da Câmara. O PR passou por uma saraivada de críticas e segurou a decisão e o caso do PRB, no qual o presidente licenciado do partido, Marcos Pereira, que também é ministro da Indústria e Comércio, passa mais tempo dando explicações sobre o voto da deputada Tia Eron do que falando sobre o Ministério.
Ao longo do dia, o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, tiveram que disparar telefonemas para aliados, deputados e assessores para dizer que não estão negociando à favor de Cunha.
Até o presidente em exercício, Michel Temer, foi cobrado nesta quinta (9) no Palácio do Planalto e por líderes de partidos governistas. Quando encerrava uma reunião com os líderes do PSDB, Democratas, PPS e PSB na Câmara o assunto veio à tona. Um sinal de que, mesmo quem está no governo, fica inseguro com as articulações de Cunha.
Cunha já está lutando agora em três frentes: Câmara, Curitiba e Supremo Tribunal Federal. Ele quer ter acesso ao pedido de prisão dele para se defender das acusações antes que o ministro do STF, Teori Zavaski, tome alguma decisão.
Ele quer fazer a defesa por escrito e oral no Tribunal. O procurador geral da República, Rodrigo Janot, acusa Eduardo Cunha de continuar interferindo no comando da Câmara, mesmo afastado da presidência.
A defesa afirma que ele tem se dedicado a defender o mandato no Conselho de Ética sem "qualquer influência indevida", inclusive dentro do Conselho. Na Câmara, depois de 7 meses de processo, há um consenso de que a sorte de Cunha estará decidida até o fim da primeira quinzena de julho, mesmo com novos recursos à Comissão de Constituição e Justiça, caso o Conselho de Ética aprove a cassação do mandato dele.