A empresa Norte Energia, concessionária responsável pela usina de Belo Monte, afirmou nesta sexta-feira (8), em nota, desconhecer o teor das delações premiadas dos executivos da construtora Andrade Gutierrez, que apontam envolvimento do empreendimento em um esquema de propinas ligado à campanha de Dilma Rousseff à presidência em 2014.
Otávio Marques de Azevedo, ex-presidente da empreiteira Andrade Gutierrez, e Flávio Barra, ex-executivo da empresa, foram presos na Operação Lava Jato e atualmente cumprem prisão domiciliar. A delação premiada foi homologada na quinta-feira pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF).
"A Norte Energia desconhece o teor das delações que estão sob sigilo de Justiça. A Empresa reafirma que tem como princípios trabalhar dentro da legalidade e respeitando todas as normas vigentes", diz a companhia.
A empresa diz que adota "padrões rigorosos de gestão", e que "contratos e pagamentos passam por criteriosa análise de auditores internos e os pagamentos somente são realizados após as medições e atestes, inclusive de empresa externa contratada para esse serviço".
A Norte Energia diz, ainda, que não tem nenhuma empresa ligada ao ramo da construção civil entre seus acionistas, e que não há contratos individuais de construtoras com a empresa para a obra da usina.
"A Norte Energia lamenta que a Usina Hidrelétrica Belo Monte venha sendo citada em notícias levianas, frutos de vazamentos, sem comprovação legal, sem provas ou evidência de irregularidades na execução da obra e espera que os fatos sejam devidamente esclarecidos".
A delação
Em delação premiada, o ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio Marques de Azevedo e o ex-executivo Flávio Barra afirmaram que a empresa pagou propina em forma de doações legais para as campanhas da presidente Dilma Rousseff em 2010 e 2014. As informações foram publicadas pelo jornal "Folha de S. Paulo" nesta quinta-feira (7) e confirmadas pela TV Globo.
A reportagem mostra que executivos da empreiteira, a segunda maior do país, relataram doações às campanhas de Dilma de 2010 e 2014, usando propinas que vieram de obras superfaturadas da Petrobras e do sistema elétrico. A informação está na delação do ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio de Azevedo, que apresentou os números em uma planilha à Procuradoria-Geral da República.
É a primeira vez que o esquema revelado pela Lava Jato, de financiamento de partidos por meio de contratos convertidos em doações legais, chega à campanha de 2014. Em 2014, a empreiteira registrou doações de R$ 20 milhões para a reeleição da petista. A propina estaria ligada a obras das usinas de Angra 3 e Belo Monte, além do Complexo Petroquímico do Rio, o Comperj.
A TV Globo confirmou que as delações dos ex-executivos da Andrade Gutierrez indicam que a propina revestida de doação legal foi para outras campanhas do PT e também do PMDB nos anos de 2010, 2012 e 2014.
Consta nos depoimentos, segundo a reportagem, que a obra da usina de Belo Monte, da qual a Andrade fez parte, envolveu pagamento de propina para os dois partidos. Ainda de acordo com o jornal, a negociação para estruturar o esquema teve participação dos ex-ministros Antonio Palocci e Erenice Guerra.
R$ 150 milhões em Belo Monte
Os executivos disseram que o governo atuou diretamente, por meio do então ministro de Minas e Energia Edison Lobão (PMDB-MA), no leilão de Belo Monte. Segundo a delação, o ministro se reuniu com as empresas para fazer um acerto sobre a concorrência e deu orientações sobre a disputa para que fosse passada à opinião pública a ideia de que haveria uma concorrência de verdade na obra.
Otávio Marques de Azevedo disse ainda que foi orientado por Lobão a reunir outras empreiteiras, Odebrecht e Galvão Engenharia, que deveriam dar, juntas, 1% do valor total da obra para o PT e para o PMDB, cerca de R$ 150 milhões, ou seja, R$ 75 milhões para cada partido. Segundo a delação, o interlocutor para tratar desse assunto no PT era o ex-tesoureiro João Vaccari Neto, que está preso, e, no PMDB, o ex-ministro Lobão. De acordo com a delação dos executivos, Lobão pediu e recebeu R$ 600 mil em dinheiro vivo em 2011. Os recursos teriam sido entregues para um de seus filhos e abatidos na parcela destinada ao PMDB.