08/04/2016 19h10 - Atualizado em 08/04/2016 19h10

Concessionária de Belo Monte refuta acusação de propina em delação

Norte Energia diz que tem como princípios 'trabalhar dentro da legalidade'.
Delação de empreiteira relata propina para campanhas de Dilma.

Do G1, em São Paulo

A empresa Norte Energia, concessionária responsável pela usina de Belo Monte, afirmou nesta sexta-feira (8), em nota, desconhecer o teor das delações premiadas dos executivos da construtora Andrade Gutierrez, que apontam envolvimento do empreendimento em um esquema de propinas ligado à campanha de Dilma Rousseff à presidência em 2014.

Otávio Marques de Azevedo, ex-presidente da empreiteira Andrade Gutierrez, e Flávio Barra, ex-executivo da empresa, foram presos na Operação Lava Jato e atualmente cumprem prisão domiciliar. A delação premiada foi homologada na quinta-feira pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF).

"A Norte Energia desconhece o teor das delações que estão sob sigilo de Justiça. A Empresa reafirma que tem como princípios trabalhar dentro da legalidade e respeitando todas as normas vigentes", diz a companhia.

 

A empresa diz que adota "padrões rigorosos de gestão", e que "contratos e pagamentos passam por criteriosa análise de auditores internos e os pagamentos somente são realizados após as medições e atestes, inclusive de empresa externa contratada para esse serviço".

A Norte Energia diz, ainda, que não tem nenhuma empresa ligada ao ramo da construção civil entre seus acionistas, e que não há contratos individuais de construtoras com a empresa para a obra da usina.

"A Norte Energia lamenta que a Usina Hidrelétrica Belo Monte venha sendo citada em notícias levianas, frutos de vazamentos, sem comprovação legal, sem provas ou evidência de irregularidades na execução da obra e espera que os fatos sejam devidamente esclarecidos".

A delação
Em delação premiada, o ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio Marques de Azevedo e o ex-executivo Flávio Barra afirmaram que a empresa pagou propina em forma de doações legais para as campanhas da presidente Dilma Rousseff em 2010 e 2014. As informações foram publicadas pelo jornal "Folha de S. Paulo" nesta quinta-feira (7) e confirmadas pela TV Globo. 

A reportagem mostra que executivos da empreiteira, a segunda maior do país, relataram doações às campanhas de Dilma de 2010 e 2014, usando propinas que vieram de obras superfaturadas da Petrobras e do sistema elétrico. A informação está na delação do ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio de Azevedo, que apresentou os números em uma planilha à Procuradoria-Geral da República.

É a primeira vez que o esquema revelado pela Lava Jato, de financiamento de partidos por meio de contratos convertidos em doações legais, chega à campanha de 2014. Em 2014, a empreiteira registrou doações de R$ 20 milhões para a reeleição da petista. A propina estaria ligada a obras das usinas de Angra 3 e Belo Monte, além do Complexo Petroquímico do Rio, o Comperj.

A TV Globo confirmou que as delações dos ex-executivos da Andrade Gutierrez indicam que a propina revestida de doação legal foi para outras campanhas do PT e também do PMDB nos anos de 2010, 2012 e 2014.

Consta nos depoimentos, segundo a reportagem, que a obra da usina de Belo Monte, da qual a Andrade fez parte, envolveu pagamento de propina para os dois partidos. Ainda de acordo com o jornal, a negociação para estruturar o esquema teve participação dos ex-ministros Antonio Palocci  e Erenice Guerra.

R$ 150 milhões em Belo Monte
Os executivos disseram que o governo atuou diretamente, por meio do então ministro de Minas e Energia Edison Lobão (PMDB-MA), no leilão de Belo Monte. Segundo a delação, o ministro se reuniu com as empresas para fazer um acerto sobre a concorrência e deu orientações sobre a disputa para que fosse passada à opinião pública a ideia de que haveria uma concorrência de verdade na obra.

Otávio Marques de Azevedo disse ainda que foi orientado por Lobão a reunir outras empreiteiras, Odebrecht e Galvão Engenharia, que deveriam dar, juntas, 1% do valor total da obra para o PT e para o PMDB, cerca de R$ 150 milhões, ou seja, R$ 75 milhões para cada partido. Segundo a delação, o interlocutor para tratar desse assunto no PT era o ex-tesoureiro João Vaccari Neto, que está preso, e, no PMDB, o ex-ministro Lobão. De acordo com a delação dos executivos, Lobão pediu e recebeu R$ 600 mil em dinheiro vivo em 2011. Os recursos teriam sido entregues para um de seus filhos e abatidos na parcela destinada ao PMDB.

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