A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central desta quarta-feira (18) de baixar os juros básicos da economia brasileira para 9% era esperada pela maior parte dos especialistas e entidades civis, mas começa a surgir a preocupação de que as taxas estejam chegando a um patamar baixo demais.
A redução de 0,75 ponto percentual foi o sexto corte seguido e o segundo com essa intensidade. Com isso, os juros básicos da economia ficam no patamar mais baixo desde março de 2010 -- quando estavam em 8,75% ao ano. Na época, começou uma onda de elevação das taxas que persistiu até julho ao ano passado.
A redução da taxa Selic começou em agosto, quando houve quatro cortes seguidos de 0,5 ponto percentual. A redução da reunião desta quarta foi a segunda seguida em 0,75 ponto percentual.
Veja o que analistas de mercado e entidades civis acharam da decisão do Copom:
Nicola Tingas, economista chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi)
"Era a expectativa porque o Banco Central sinalizou que estaria indo nessa direção. Acredito que a tendência de que haja mais um novo corte existe, é razoável como perspesctiva, apesar de saber da restrição do rendimento da caderntea. O momento da conjuntura do Brasil requer movimentos mais fortes para fazer sinalizações para colocar o país num ritmo de cerscimento maior. Evidente que existe risco de haver crescimento da inflação, mais não é o principal dentro da faixa que a inflação está hoje. Acho que o BC tem que, dentro do arcabouço de poíticas monetárias, continuar cortando. Provalemente será menos, mas o fundamental não é quanto se corta, e sim até onde se vai (em termos de corte) este ano."
Silvia Matos Pessoa, economista Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV)
"O BC ressaltou que no curto prazo a inflação está boa e que o 9% é consistente. Não está claro sobre os próximos passos, o que será feito. A inflação de abril deve ser maior e a economia deve estar um pouco melhor já em março, por isso há alguns riscos de a economia a começar a acelerar demais. O BC deveria parar os cortes e dar uma avaliação do efeito que esse corte vai ter. Tivermos esse patamar em 2010, há muito tempo, então é preciso observar o que vai ocorrer coma economia. Já está havendo corte há muito tempo, é melhor esperar e aguardar um pouco mais."
Otto Nogami, professor de economia do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper)
"Havia certa corrente que achava que poderia ficar até num patamar mais baixo (o juros). O BC está se arriscando um pouco, sendo um pouco agressivo porque começa a colidir com natureza do poupador e dos agregados macroeconômicos. Os cortes têm de parar porque se o BC baixar para 8,75% ao ano, os títulos públicos vão perder em rendimentos para a caderneta de poupança. O título de renda fixa dos bancos já está perdendo."
Keyler Carvalho Rocha, professor de finanças da Fundação Instituto de Administração (FIA) e presidente do conselho de administração do Instituto Brasileiro de Executivos e Finanças (Ibef-SP)
"Já se esperava a redução porque o BC prenunciou isso, dizendo que haveria a redução até próximo ao mínimo, que foi de 8,75% (em março de 2010). Daqui para a frente não se tem mais certeza de qual vai ser o ação do BC, a probabilidade maior é a de que mantenha o patamar de 9% e vá apreciando os acontecimentos recentes e os cenários, por exemplo da inflação."
Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp)
“O Banco Central vem baixando os juros há seis meses. Nesse contexto, os bancos devem baixar a taxa de juros para as pessoas físicas e jurídicas. É preciso estimular o crédito para sustentar o crescimento econômico e a geração de empregos no Brasil”.
Confederação Nacional da Indústria (CNI)
"Com a taxa de juros no patamar de 9% ao ano, o próximo passo é atuar na redução dos spreads bancários. Retomar essa agenda é crucial para que o custo do capital aos tomadores de empréstimos seja menos punitivo à produção e para que a economia brasileira se aproxime dos padrões internacionais de financiamento. "
Carlos Cordeiro, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT)
“Embora a nova queda da Selic seja um passo positivo, o Brasil continua com uma das maiores taxas de juros do mundo. Em 2011, o Tesouro desembolsou R$ 236,6 bilhões para pagar os juros da dívida pública, o que é o maior programa de transferência de renda do governo, beneficiando os mais ricos."
Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical
"A Força Sindical lamenta, e considera extremamente tímida, a queda de apenas 0,75 ponto percentual na taxa básica de juros. Entendemos que, com esta queda conta-gotas, o Banco Central perdeu uma ótima oportunidade para fazer uma drástica redução na taxa de básica juros, que poderia funcionar como um estímulo para a criação de novos empregos e para o aumento da produção no País."
Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP)
"A FecomercioSP esclarece que o movimento (de corte da Selic) não poderia ser outro, já que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado para medir a inflação oficial, vem registrando arrefecimento ao longo do ano. A FecomercioSP acredita que há espaço para o BC realizar novos cortes na Selic ao longo do ano."
Orlando Diniz, presidente da Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ)
“A Fecomércio-RJ concorda com a decisão do Banco Central em reduzir a Selic em 0,75 p.p. Esperamos que esta redução, somada aos efeitos cumulativos das decisões anteriores, permita uma retomada mais vigorosa da economia brasileira ao final do segundo trimestre, especialmente no que diz respeito ao mercado de trabalho e ao desempenho do comércio de bens, serviços e turismo.”
Roque Pellizzaro Junior, presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL)
“Com as condições que se criaram hoje, com inflação sob controle e cenário externo ainda em fraca expansão, temos o melhor momento para reduzir as taxas de juros, e é isso o que o Banco Central está fazendo. A depender do que será feito na próxima reunião, em maio, o Copom estará a um passo de fazer história.”
Rogério Amato, presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp)
"Acreditamos haver espaço e necessidade para a continuidade da queda da SELIC, que deve ser complementada pela redução de "spread" bancário para que a economia possa crescer no ritmo esperado pelo governo e pela população."