Edição do dia 25/11/2016

25/11/2016 08h03 - Atualizado em 25/11/2016 10h31

Calero aponta pressão de Temer no caso Geddel, que vai parar no STF

Caso do empreendimento imobiliário ligado ao ministro Geddel Vieira Lima causa terremoto no Planalto. PF pediu autorização ao STF para investigar.

O depoimento do ex-ministro da Cultura Marcelo Calero à Polícia Federal já foi enviado ao Supremo Tribunal Federal. Calero disse que foi pressionado e enquadrado pelo presidente Michel Temer para intervir em um processo em favor do ministro Geddel Vieira Lima.

O caso do empreendimento imobiliário em Salvador que tem ligações com a família de Geddel agora provoca um terremoto no Planalto.

O ex-ministro da Cultura Marcelo Calero afirmou, no depoimento, que no dia 6 de novembro recebeu a mais contundente das ligações realizadas pelo ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima. E que Geddel disse, sempre de maneira muito arrogante, que se fosse preciso, pediria a cabeça da presidente do Iphan e que falaria até com o presidente da República.

O Iphan é o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - que embargou a obra do prédio onde Geddel comprou um apartamento em Salvador, e que também é administrado por parentes dele.

O projeto é de alto padrão. Tem 30 andares e 24 apartamentos com valores entre R$ 2,6 milhões e R$ 4,5 milhões. Geddel comprou um dos apartamentos na planta.

Marcelo Calero afirmou que, em outro dia, recebeu uma ligação do ministro da Casa Civil. Eliseu Padilha argumentou que, se a questão estava judicializada, não deveria haver decisão administrativa definitiva a respeito e que Calero tentasse construir essa saída com a Advocacia-Geral da União.

O ex-ministro da Cultura também afirmou, no depoimento, que no dia 16 de novembro compareceu a um jantar oferecido pelo presidente aos senadores no Palácio da Alvorada. E que após contar-lhe toda a história, o presidente disse a Calero para que ficasse tranquilo, pois, caso Geddel lhe procurasse, ele diria que não havia sido possível atender a seu interesse por razões técnicas.

Calero afirmou que, no dia seguinte, foi convocado pelo presidente Michel Temer a comparecer no Palácio do Planalto. E que nesta reunião o presidente disse a ele que a decisão do Iphan havia criado dificuldades operacionais em seu gabinete, já que o ministro Geddel encontrava-se bastante irritado, e que o presidente disse para que Calero construísse uma saída para que o processo fosse encaminhado à AGU, porque a ministra Grace Mendonça teria uma solução. Calero afirmou que, no final da conversa, o presidente disse que a política tinha dessas coisas, esse tipo de pressão.

O ex-ministro da Cultura disse que ao final da conversa com o presidente, ficou bastante desapontado, uma vez que foi advertido em razão de ter agido sem cometer qualquer tipo de irregularidade, que sentiu-se decepcionado também pelo fato de não ter mais a quem reportar-se a fim de solucionar esta situação, uma vez que o próprio presidente da República o havia enquadrado.

Marcelo Calero disse ainda, no depoimento, que no dia seguinte recebeu uma nova ligação do secretário de Assuntos Jurídicos da Casa civil, Gustavo Rocha.

Segundo o ex-ministro da Cultura, Gustavo Rocha disse que também havia conversado com o presidente e que seu intuito era o de que Calero encaminhasse os autos para a Advocacia-Geral da União.

O ex-ministro da Cultura disse que este último episódio foi determinante para a saída dele do governo, pois demonstrava a insistência do presidente em fazer com que ele interferisse indevidamente no andamento do processo. No mesmo dia, 18 de novembro, ele telefonou para o presidente e entregou o cargo.

A Polícia Federal pediu ao Supremo Tribunal Federal autorização para abrir inquérito sobre o caso e espera a decisão da corte.

O Palácio do Planalto reconheceu as conversas entre o presidente Michel Temer e Marcelo Calero. Mas segundo o porta-voz do Planalto, o objetivo do presidente era arbitrar conflitos entre os ministros.

“O presidente Michel Temer conversou duas vezes com o então titular da Cultura para solucionar impasse na sua equipe e evitar conflitos entre seus ministros de Estado. O presidente da República trata todos os seus ministros como iguais e jamais induziu algum deles a tomar decisão que ferisse normas internas ou suas convicções. É a mais pura verdade que o presidente Michel Temer tentou demover o ex-ministro de seu pedido de demissão e elogiou o seu trabalho à frente da pasta. O ex-ministro sempre teve comportamento irreparável enquanto esteve no cargo, portanto, estranha sua afirmação, agora, de que o presidente o teria enquadrado ou pedido solução que não fosse técnica”, disse o porta-voz, Alexandre Parola.

Depois do depoimento, a Polícia Federal pediu autorização ao Supremo Tribunal Federal para abrir inquérito sobre o caso.

Na quinta-feira (24), o depoimento do ex-ministro foi confirmado pelo Bom Dia Brasil. Só não se imaginava ainda o tamanho do estrago que ia causar.

E está tudo gravado. O ex-ministro da Cultura Marcelo Calero registrou as conversas com Michel Temer. O Palácio do Planalto já tinha conhecimento de que Calero gravou o diálogo com Temer, que inclui também o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha.

Há uma semana, quando fez as primeiras acusações de que Geddel Vieira Lima o pressionou para liberar uma obra na Bahia, Calero deu um sinal: disse que temia estar sendo gravado. Quem gravava era ele.

O depoimento de Calero foi espontâneo. Ele procurou a Polícia Federal. A polícia já pediu a abertura de inquérito. E mandou o pedido para a presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia, porque envolve autoridades com foro privilegiado. O Supremo já encaminhou o pedido para ser analisado pela Procuradoria-Geral da República.

O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse que falou com o ex-ministro Calero para que, na forma da lei, buscasse a solução junto à AGU.

A advogada-geral da União, Grace Mendonça, afirmou que jamais recebeu orientações sobre o empreendimento imobiliário e que tampouco aceitaria qualquer tipo de interferência na AGU.

Gustavo Rocha, secretário de Assuntos Jurídicos da Presidência, disse que sua conversa com Calero foi no mesmo sentido, de encaminhar a questão para a AGU, em decorrência da competência constitucional do órgão.

A reação no Congresso foi de tensão. A oposição quer o aprofundamento das investigações e considerou as denúncias muito graves. O presidente da Câmara defendeu o governo e disse que não pressiona aliados.

Quando perguntado se tinha feito as gravações, Calero não negou, disse que não pode falar sobre o assunto.

 

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