Tendências para o Futuro


 — Foto: Getty Images
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Desde que o ChatGPT se popularizou, no fim de 2022, muito se fala em como o futuro do trabalho está intimamente ligado ao uso e desenvolvimento de tecnologias de inteligência artificial e os hardwares necessários para que se siga avançando nessa área.

Apesar da "novidade", já é possível ver o impacto das novas tecnologias na forma como o brasileiro pensa e percebe as opções de carreira para o futuro. Segundo a pesquisa State of Science, encomendada pela 3M e feita pela Morning Consult em dezembro de 2023, 83% dos brasileiros consultados acreditam que a IA irá mudar o mundo. Para 84% dos entrevistados, posições em ciências aplicadas e STEM (ciências, tecnologia, engenharia e matemática) serão o futuro do trabalho.

Mas o ChatGPT e a inteligência artificial não são os únicos temas fazendo a cabeça dos trabalhadores no Brasil e no mundo. As mudanças climáticas deixaram de ser uma “ameaça” do futuro para se tornar uma realidade, com eventos extremos de frio e calor cada vez mais frequentes – e que podem se tornar grandes episódios de calamidade pública.

Nas últimas décadas, a responsabilidade pela mitigação dos danos passava pelos governos e suas metas de descarbonização e sustentabilidade impostas por acordos internacionais. Segundo a pesquisa da 3M, 96% da população brasileira diz que enfrentar as mudanças climáticas é importante em um nível pessoal, e 90% apontam que a ciência pode desempenhar um papel essencial no combate às mudanças climáticas.

Apesar da falta de sucesso dos tratados internacionais, hoje a cobrança feita por consumidores, investidores e os próprios governos para a adoção de práticas mais sustentáveis e capazes de desacelerar a degradação ambiental criou uma indústria bilionária: a da economia verde.

Alguns dos braços dessa indústria são óbvios, normalmente ligados a setores mais intuitivos quando se fala em economia sustentável, como empresas de energia alternativa (solar e eólica) ou com ações voltadas à redução da pegada de carbono. Outros, no entanto, estão inseridos dentro de negócios mais tradicionais, em que as empresas — e os seus colaboradores — buscam exercer as suas atividades com o menor impacto possível. Nasce, assim, uma nova classe de postos de trabalho: os empregos verdes.

Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho, a transição climática pode gerar até 103 milhões de novos empregos até 2030 e eliminar outros 78 milhões, tendo um saldo positivo de 25 milhões.

Segundo a pesquisa State of Science, 88% dos brasileiros acreditam que o mercado de trabalho verde crescerá nos próximos cinco anos: 85% do total acredita que os “green jobs” proporcionam novas e emocionantes oportunidades de trabalho com um impacto positivo na sociedade e impõem respeito por aqueles que os desempenham (90%).

O estudo também mostra que o interesse em aprender novas competências para não ser deixado para trás pelo mercado de trabalho é grande — 84% das pessoas gostariam de aprender habilidades sustentáveis que as pudessem ajudar a conseguir um green job. Além disso, o crescimento do pensamento estratégico-sustentável abre o leque do que pode ser considerado economia verde e 71% acreditam que não precisam de uma mudança de carreira para desempenhar algum papel na área.

Uma análise do Boston Consulting Group (BCG) confirma a tendência dos empregos verdes. Segundo pesquisa realizada em parceria com o Fórum Econômico Mundial (WEF), 48% dos respondentes apontaram que não aceitariam uma oferta de emprego caso os produtos ou serviços tivessem impactos negativos na sociedade ou se a companhia não tivesse iniciativas de sustentabilidade em prol do meio ambiente (27%).

"É essencial que os empregadores reconheçam essas tendências e ajustem suas estratégias de recrutamento e retenção. Investir em tecnologia, capacitação e criar um ambiente de trabalho seguro e equilibrado são passos fundamentais para o sucesso no mercado atual", aponta Santino Lacanna, sócio do BCG.

Onde estão as oportunidades?

"Temos visto essa discussão [dos green jobs] sendo amplificada no mercado", afirma Maria Emilia Peres, líder de Sustentabilidade e Inovação da Deloitte. "O fluxo muda de acordo com as pressões regulatórias. Então, em algumas partes do globo, essa pressão por empregos verdes é mais forte e há uma reação mais rápida".

Para Peres, falar em sustentabilidade está além de falar em empregos que sejam exclusivamente categorizados como "verdes" ou diretamente ligados a áreas como a de transição energética, por exemplo. Trata-se mais de competências que todo trabalhador do futuro terá que ter e que, de alguma forma, melhoram os resultados e práticas sustentáveis aplicadas hoje em seus respectivos setores.

Segundo a executiva da Deloitte, hoje um dos principais movimentadores da economia verde — em termos de movimentação de investimento — é o setor de energia sustentável, com o potencial de 24 milhões de novos projetos até 2030. “Quando falamos em projetos, estamos falando de competência humana e técnica também”, complementa.

De acordo com números da consultoria, a Europa viu um crescimento de 167% nos empregos do setor de energia solar entre 2010 e 2020, e estima que mais 1 milhão de postos sejam adicionados até 2030.

Segundo a pesquisa feita pela 3M, 63% da população brasileira procura consumir materiais sustentáveis ou de empresas com compromisso com o meio ambiente. Isso se reflete também nas soluções mais reconhecidas como parte da economia verde: transportes com energia limpa, além de geração de combustível e energia renovável.

Os transportes limpos (83%) são a solução mais reconhecida, com 73% dos brasileiros desejando saber mais sobre o assunto. A energia e os combustíveis renováveis (80%) têm o maior nível de conscientização, com 74% que querem expandir os conhecimentos sobre a solução, empatado com a energia e os combustíveis renováveis. E os edifícios e infraestruturas sustentáveis são a terceira solução mais reconhecida (66%), com o mesmo percentual que deseja aprender mais.

Segundo o BCG, os maiores afetados negativamente podem estar em comunidades que giram ao redor da exploração de recursos fósseis, o que exigirá resiliência econômica e requalificação profissional.

Apesar de Peres, da Deloitte, também enxergar a dificuldade que a transição trará para os modelos tradicionais de energia, ela acredita que 75% desses trabalhadores vão fazer a transição de competência técnica dentro das companhias de óleo e gás, que também buscarão alternativas para sobrevivência.

Especialização é necessária

No momento, um dos maiores desafios é semelhante aos enfrentados pela indústria de inteligência artificial e STEM: a falta de mão de obra especializada.

Segundo Marcia Ferrarezi, chefe brasileira da área de pesquisa e desenvolvimento da 3M, o interesse da população por novas oportunidades de carreira e a grande demanda vinda da indústria forçará diversos setores da sociedade a se movimentarem para fechar a lacuna existente entre oferta de empregos e mão de obra especializada.

“Eu acredito que, nos últimos anos, há pressão para que decisores governamentais e corporativos possam pivotar as suas atenções e fazer mudanças assertivas em seus negócios ou políticas públicas [para especialização]. A primeira barreira é que os cursos geralmente são mais caros, limitando o acesso àqueles com poder aquisitivo”, explica Ferrarezi.

“As universidades também precisam atualizar os seus currículos de graduação, de pós-graduação. Muitas vezes as pessoas começam um curso de engenharia e depois fazem uma pós-graduação complementar, um doutorado… Os currículos das universidades, das escolas técnicas também, precisam estar atualizados com as novas demandas da indústria e da sociedade como um todo."

"Vemos que pelo menos 35% das instituições educacionais do mundo vêm se preparando com currículos mais especializados, não apenas com especialização em gestão de sustentabilidade, mas também de tecnologias verdes”, explica a executiva da Deloitte.

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