Iza Lourença

Iza Lourença

Vereadora em Belo Horizonte (PSOL)

IZA LOURENÇA

BH não está preparada para enfrentar a emergência climática

Impacto nas periferias e a defesa das matas, serras e águas

Por Iza Lourença
Publicado em 02 de janeiro de 2025 | 07:00
 
 
 

Belo Horizonte tem se tornado cada vez mais uma cidade de extremos: no último inverno, vivemos uma seca histórica, com baixíssima umidade do ar, queimadas que tornaram o ar irrespirável e um calor insuportável. Agora, que entramos no verão, já estamos vivenciando os efeitos das chuvas intensas, como alagamentos, e das altas temperaturas que colocam em risco, principalmente, crianças e pessoas velhas. Esses extremos são efeitos da crise climática que assola o mundo todo, visto que o ano de 2024 foi o mais quente da história do planeta, de acordo com observatório europeu do clima Copernicus.

No entanto, sabemos que quem realmente sofre com os efeitos da emergência climática são as populações que vivem nas regiões mais vulneráveis e nas periferias das grandes cidades. Essas pessoas são negras, indígenas, quilombolas e ribeirinhas, e na maioria das comunidades, são as mulheres as mais atingidas pelos desastres ambientais. O racismo ambiental é parte estruturante da crise climática. Obviamente porque os bairros e regiões nobres são projetados para garantir uma melhor qualidade de vida para seus habitantes.

São as periferias urbanas e rurais que convivem cotidianamente com a falta de água, de saneamento básico, de transporte público e de direitos de um modo geral. Sem contar que a especulação imobiliária vai empurrando as famílias mais pobres para cada vez mais longe, obrigando que elas morem afastadas do centro e em áreas de risco. Em Belo Horizonte, por exemplo, o aluguel está impraticável, cada vez mais absurdo. Em novembro de 2024, de acordo com o Grupo Quinto Andar, o preço médio do metro quadrado em BH foi calculado em R$ 37,88, ou seja, um apartamento de 60 metros quadrados pode custar mais de R$ 2200. 

Fato é que garantir moradia, transporte, acesso a água potável, ao saneamento básico, são medidas, que associadas a políticas ambientais efetivas, são fundamentais para enfrentar a emergência climática. Um plano de arborização decente; a retirada do excesso de asfalto para aumentar a drenagem das águas da chuva; a preservação dos parques da cidade, assim como a ampliação das áreas verdes; a criação de refúgios climáticos nas regionais; a recuperação dos rios e córregos; educação ambiental; ampliação da coleta seletiva de lixo nas periferias são somente algumas ações que devem ser tomadas imediatamente.

Outras medidas urgentes são a proibição da mineração nas serras que cercam BH e o combate efetivo da mineração ilegal na Serra do Curral. As mineradoras estão destruindo nosso patrimônio e colocando em risco o abastecimento de água de toda a região metropolitana. Muitas mineradoras, inclusive, não querem arcar com suas obrigações e recuperar as áreas destruídas, como é o caso da Lagoa Seca, área que fica perto da Vila Acaba Mundo. Depois de explorar a área por 50 anos, a mineradora ainda não criou um parque no local, gratuito e seguro, como prevê a decisão do Conselho Municipal do Meio Ambiente (Comam). Esse parque é um direito da população, principalmente de quem mora na Vila Acaba Mundo.

Na Câmara Municipal, nós criamos em 2023 a Frente Parlamentar em Defesa das Matas, Serras e Águas Belo Horizonte, articulação que pretendo priorizar nesta próxima legislatura, porque o tema ambiental e o enfrentamento da emergência climática serão decisivos para a disputa do modelo de cidade que acredito. Seja no inverno ou no verão, as catástrofes que colocam a vida das pessoas em risco são responsabilidades dos governos. É preciso colocar a vida e a justiça socioambiental acima do lucro das mineradoras e das construtoras.

Chega negacionismo climático. É hora de propor ações integradas e efetivas, que consigam dar conta da complexidade da nossa cidade e das necessidades da população belo-horizontina.