Débora Elisa

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Débora Elisa é especialista em voleibol e outros esportes olímpicos em O Tempo, temas que cobre diariamente em diversas plataformas

VALOR INEGOCIÁVEL

Conheça o Laguna, primeiro time de futebol 100% vegano do Brasil

CEO Gustavo Nabinger falou com a coluna em entrevista exclusiva

Por Débora Elisa
Publicado em 15 de outubro de 2024 | 13:37
 
 
 

Esporte de alto rendimento e alimentação vegana combinam? Popularmente, as questões são sempre as mesmas. E a proteína? E os músculos? E a força? Muitas pessoas acreditam que é impossível ser um atleta de alto nível sem consumir carne, e disseminam esse pensamento.

Na prática, porém, exemplos no mais alto desempenho mostram que isso está bem longe da verdade. Aqui no Brasil podemos citar Macris e Carolana, medalhistas olímpicas com a seleção se vôlei, que seguem um estilo de vida vegano e falam abertamente sobre alimentação. Outros nomes conhecidos que vivem o veganismo, vegetarianismo ou dietas plant-based são Lewis Hamilton, Messi, Chris Paul, Venus Williams, Novak Djokovic e Alex Morgan, que cravaram seus nomes no esporte mundial.

No Brasil, um time de futebol nasceu com o veganismo como valor inegociável. O Laguna SAF, do Rio Grande do Norte, tem dois anos de existência e já disputa a segunda divisão do Campeonato Potiguar. Toda operação é vegana, começando pela alimentação disponível no CT à suplementação, produtos de limpeza, etc.

O CEO do Laguna, Gustavo Nabinger, conversou com a coluna sobre a fundação do time, a relação íntima com o veganismo e o alto desempenho dos atletas após mudança na alimentação.

Entrevista com Gustavo Nabinger, CEO e sócio-fundador do Laguna, primeiro time de futebol vegano do Brasil

O TEMPO: O time já se fundou vegano ou essa mudança veio posteriormente? Qual foi a motivação (ideológica ou houve uma melhora no desempenho dos atletas)?

Gustavo Nabinger: O clube já foi fundado sendo vegano desde o início. Está no estatuto, inclusive. Nós somos três sócios, dois são veganos, um é vegetariano, então, para nós, não fazia sentido ter uma empresa que não fosse vegana. Foi essa a grande motivação. Na verdade, a gente criou um clube de futebol que o slogan é: 'A alegria de jogar futebol'. Acreditamos que o futebol é entretenimento, valorizar a essência do futebol brasileiro, aquilo que o brasileiro tanto gosta, que é drible, técnica, um jogo ofensivo...acreditamos que o futebol é uma grande ferramenta de impacto socioambiental, então nós também temos essa pegada. A origem do clube foi um projeto social entre 2011 e 2012, chamado Laguna, por isso o nome, e obviamente que o veganismo foi um valor que não tinha como negociar.

OT: Além da alimentação, o time segue o veganismo em outros aspectos?

GN: Além da alimentação, toda a nossa operação, dentro do possível praticável, é do conceito do veganismo criado pelo The Vegan Society lá, creio que nos anos 30, se não me engano. Somos veganos, então, todos os produtos de limpeza, alimentação, suplementação, o bar do estádio, a alimentação durante a viagem, os uniformes... tudo aquilo que é possível que seja vegano, é vegano.

OT: Como é o acompanhamento nutricional e de preparação física?

GN: Temos uma parceria com a SVB, que é a Sociedade Vegetariana Brasileira, e eles nos apoiam na parte nutricional, toda a parte de alimentação no caso. Nosso cardápio é feito por uma chef vegana, a Mirna Ribeiro, que está desde o início, em parceria com um grupo de nutricionistas também veganos da SVB. A Marcela Wartsman, que é quem encabeça, também faz o acompanhamento nutricional individualizado dos atletas, e a cada período determinado, geralmente a cada cinco, seis meses, eles vêm in loco para o clube para verificar um andamento, dar treinamento para as cozinheiras, conversar com os atletas pessoalmente, e dessa forma eles conseguem nos dar o apoio necessário.

OT: Vocês repararam algum impacto em alguns atletas? 

GN: O que ficou mais evidente desde o início da operação, com o feedback dos atletas (e passaram diversos atletas aqui), tanto de base quanto profissional, é uma melhora significativa na recuperação entre um treino e outro e no pós-jogo. Também, uma disposição maior para o treinamento da tarde, especialmente, após o almoço, e na redução significativa de lesões musculares, porque tu reduz a inflamação do corpo e isso tanto ajuda a recuperação, quanto previne lesões musculares.

OT:  Alguns deles passaram a seguir a dieta vegana posteriormente?

GN: Alguns atletas adotaram, de fato, a alimentação vegana no período que estavam aqui no clube. A gente tem o Mangabeira, que foi nosso primeiro capitão, que ficou sendo vegano aqui durante todo o período de contrato. O Gabrielzão ficou um ano e meio conosco e, nos primeiros seis meses, não como vegano. Ele foi emprestado para outro clube e, quando retornou, nos relatou que tinha sentido uma melhora importante nesses quesitos que eu já mencionei e, por conta disso, ele ia adotar o veganismo até o final da temporada.

Agora, nessa temporada aqui no profissional, a gente tem o França, que é o nosso capitão, que também tem se mantido fiel ao veganismo durante o período de contrato dele e tem relatado coisas interessantes. Temos outros atletas que não são veganos, mas que acabam ficando e adotando uma alimentação vegana na maior parte do tempo, e alguns outros que não, que não se adaptam ou que não gostam, enfim, e que acabam comendo fora do clube eventualmente em algumas refeições.