Podcast Fofoca na Calçada traz uma nova abordagem a um dos atos mais humanos que temos
Programa foi um dos mais ouvidos da categoria humor e entretenimento do Spotify, e chama a atenção por valorizar nossos laços sociais
Quem nunca fez um julgamento (nada) silencioso sobre a vida de um vizinho, que atire a primeira cadeira de praia. É com essa premissa deliciosamente despretensiosa que o podcast "Fofoca na Calçada" tornou-se um dos mais ouvidos nas categorias de humor e entretenimento do Spotify, transformando o ato de compartilhar segredos alheios – ou como os hosts preferem chamar, "partilhas" – em um exercício de reflexão coletiva.
Apresentado pela publicitária Leila Germano e por seu co-host, o professor de arquitetura Glaudemias Junior, o programa combina narrativas bem-humoradas e sarcásticas para criar uma experiência que é tão íntima quanto universal. Afinal, como os próprios criadores dizem, "fofoca edifica" – mas, claro, sempre com respeito aos limites e à dignidade alheia.
Entre risadas, absurdos e análises antropológicas disfarçadas de humor, "Fofoca na Calçada" tem um propósito claro: provar que, mesmo na era das redes sociais, o velho hábito de contar histórias pode ser transformador – desde que a narrativa brilhe e o protagonista, mesmo anônimo, cative. Como bem explica Leila Germano:
“Uma fofoca (que na diversão damos o codinome de partilha) deve servir para informar, edificar e, assim sendo, encontrar seu limite, sua etiqueta. O fofoqueiro precisa saber seu lugar de escuta e os limites de dados que precisa repassar adiante. A dignidade humana sempre deve vir antes da fofoca, por essa razão o programa nunca revela nomes ou dados reais dos personagens. Para que todos sejam preservados e o ouvinte experimente o que realmente importa: o fato em toda sua essência de absurdo. As pessoas, no fundo, nem se importam com quem fez o quê, mas querem uma emoção para viver, ainda que por outros personagens. No fim, brincamos que temos a ética fluida, mas somos bem éticos mesmo”, conta a host do "Fofoca na Calçada".
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O formato de compartilhamento de histórias não é exatamente uma novidade, sendo amplamente explorado em programas de entretenimento e, mais recentemente, na podosfera. Porém, Leila resolveu ir além, focando nesse comportamento humano de absorver as lições que a vida alheia pode oferecer quando explorada de forma criativa e responsável.
Leila Germano e Glaudemias Júnior (Foto: Divulgação)
“Quando idealizei o Fofoca na Calçada, tive em mente o fator científico de que as pessoas fazem isso, acima de tudo, como um comportamento tribal, para se proteger e se inteirar sobre possíveis ameaças ou ganhos que possam ter coletivamente. Rimos, nos revoltamos, floreamos algumas vezes, repassamos, mas tudo sempre tem um propósito coletivo de evitar danos e construir algum legado. O formato de ler histórias alheias sempre existiu. Só que eu precisava dar uma narrativa para isso. Acredito muito no storybrand, que é a teoria de que o público/consumidor precisa se sentir o verdadeiro protagonista – ainda que a história não seja sobre ele. E por isso procurei entregar aos ouvintes uma atmosfera de calçada com cadeirinhas de macarrão, toda aquela sensação de que ele não está só ouvindo, mas fazendo parte de um grupinho que escuta e, no fundo, faz juízo de valor sobre a vida de desconhecidos para aprender algo com isso e, assim, se edificar”, afirma a publicitária.
Atualmente, o Fofoca na Calçada conta com mais de 16 milhões de plays somados e um número médio de ouvintes mensais que flutua entre 300 e 400 mil. O programa ganhou o carinho do público, aparecendo volta e meia nos stories de quem compartilhou seus dados na retrospectiva do Spotify. Mais do que isso, atingiu públicos outrora inimagináveis:
“Sabemos de autoridades, políticos, famosos que escutam a gente e até já foram citados. Todo mundo se diverte muito porque, justamente, nunca ninguém saberá que é sobre eles. Incrível, né?”, completa a fofoqueira e publicitária Leila Germano.