A nefasta aliança entre políticos e criminosos

A nefasta aliança entre políticos e criminosos

O objetivo das facções é aliciar grupos políticos, financiar campanhas e obter, em troca, vantagens financeiras diversas e ilícitas. Uma traição sem tamanho conosco, uma prostituição moral que não podemos aceitar. Tudo que não precisamos é ficar sem nossos direitos básicos porque nossos impostos engordam bandidos da pior espécie.

Oscar Bessi

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Há que se admitir: a política brasileira nunca foi considerada um parâmetro de ética e integridade moral. Longe disso. O humor brasileiro há décadas brinca com a ausência de honestidade nas gestões públicas diversas e nossa literatura (de ficção ou não) está recheada de personagens envolvidos em tramoias diversas. Agora, quando o Ministério Público (MP), através de seu procurador-geral, nos alerta de que foi identificado o crescimento da presença de facções criminosas na prestação de serviços públicos, bom, aí o pavoroso alarme que tudo está indo por água abaixo grita em alto e bom tom. A declaração do Dr. Alexandre Saltz após megaoperação, desencadeada em uma prefeitura do interior gaúcho, com foco no envolvimento de uma facção criminosa, que lida com tráfico de drogas e armas, no apoio a grupos políticos em troca de favorecimentos e corrupção.

No mesmo dia da operação gaúcha, a Polícia Federal prendeu, numa cidade de Roraima, o presidente da Câmara de Vereadores e, pasmem, até um oficial da PM por envolvimento com facção do tráfico de drogas, e isto em troca de apoio político nas eleições locais, com esquema de compra de votos e por aí vai. Novidade? Nenhuma. Em abril deste ano, o MP paulista desencadeou uma operação que apurava envolvimento de prefeituras num esquema de fraudes de licitações associadas à facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Fatos semelhantes já haviam sido levantados em outra grande cidade do interior paulista um ano antes. Estes criminosos, aliás, já no caso da execução do delator no aeroporto de Guarulhos mostraram o quanto têm seus tentáculos espalhados pelo setor público. Quantos políticos? Difícil de saber. Mas investigações mostraram que um banco digital ligado ao PCC movimentou impressionantes R$ 8 bilhões apenas para financiamento de campanhas políticas este ano. É mole ou quer mais?

Gabriel Feltran, autor do livro “Irmãos: uma história do PCC”, diz que o objetivo das facções não é formar candidatos entre os seus integrantes, mas aliciar grupos políticos e, com isto, financiar campanhas e ter, em suas mãos, estes políticos mercenários que vendem, tudo para obter, em troca, vantagens financeiras diversas e ilícitas. O poder público vira balcão de negócios. O dinheiro? Nosso. Seu, meu, de todos nós. O dinheiro suado que damos todos os dias em forma de impostos com o nosso trabalho para que exista uma gestão coletiva que atenda nossas necessidades, porém, acaba é nas mãos do crime. Uma traição sem tamanho conosco, meus caros leitores (e eleitores). Uma prostituição moral que não podemos aceitar, pois esses sujeitos, que têm a cara-de-pau de pedir nosso voto, não estão nem aí por serem patrocinados por um dinheiro que pinga o sangue de nossa gente, nossos filhos, nossa desgraça. Abominável. Que bom que há quem esteja atento e agindo contra esses bandidos inescrupulosos. E que ninguém aceite e se cale perante esse absurdo. A vida neste país já é bem difícil, desde sempre, para o nosso povo. Tudo que não precisamos é ficar sem nossos direitos básicos, como atendimento de saúde, só porque nossos impostos engordam bandidos da pior espécie.


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