Veja os países onde as brasileiras mais sofreram violência em 2023
Europa concentra 60,7% dos casos registrados no último ano
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Mais de 1,5 mil mulheres brasileiras que residem no exterior registraram casos de violência de gênero nos consulados do Brasil durante o ano de 2023. Segundo o Mapa Nacional da Violência de Gênero, realizado pelo Observatório da Mulher Contra a Violência (OMV), do Senado Federal, 60,7% das ocorrências foram registradas na Europa.
Atualmente, mais de 2,5 milhões de mulheres brasileiras residem no exterior de forma documentada, segundo as estimativas do Itamaraty. A Itália é o país que revela a maior discrepância entre a propensão do número de mulheres do Brasil que moram fora e o número de casos registrados. Em 2023, eram 112,3 mil brasileiras residentes no país e 350 casos de violência doméstica e/ou de gênero.
O ranking que relaciona as maiores comunidades de brasileiras e as ocorrências atendidas segue com os Estados Unidos da América em segunda posição, com 240 casos, Reino Unido, com 188, Portugal, com 127, e Espanha, com 94.
Já o Egito e a Irlanda se destacam com 64 e 50 solicitações de pedido de ajuda, respectivamente. No entanto, estes países abrigam uma quantidade de brasileiros estimados consideravelmente menor em comparação com os demais países da lista. Por exemplo, no Egito, eram 2,5 mil brasileiros registrados como residentes.
A plataforma interativa do Mapa reúne os principais dados nacionais públicos e indicadores de violência contra as mulheres do Brasil. Este é um projeto viabilizado também pelo Instituto Avon, incorporado pelo Instituto Natura em julho deste ano, e pela associação sem fins lucrativos Gênero e Número, que é dedicada à produção, análise e disseminação de dados especializados sobre gênero, raça e sexualidade.
A plataforma apresenta uma nova seção repleta de dados sistematizados pela primeira vez em um painel e de forma atualizada, disponibilizados pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE).
Os novos dados foram possibilitados por meio de uma colaboração entre o MRE e o Senado Federal. As informações foram coletadas em 186 repartições consulares, incluindo embaixadas com serviços consulares, consulados-gerais, consulados e vice-consulados.
Esta é a primeira vez que os dados sobre a comunidade brasileira no exterior são disponibilizados por gênero, permitindo, assim, o acesso à informação sobre os pedidos de ajuda realizados pelas brasileiras.
Mais de metade dos casos correspondem a violência vicária
Dentre os casos contabilizados pelos consulados brasileiros, 58% correspondem a violência vicária, que é a violência contra a mulher por meio da agressão a terceiros. Durante o ano de 2023, foram registradas 904 ocorrências deste tipo de violência.
Em 2023, as repartições consulares ao redor do mundo registraram 808 casos de disputa de guarda e 96 casos de subtração de menores, ambos classificados como violência vicária.
Os dados revelam um ranking com os números de atendimentos registrados por país, que leva em consideração os países com as maiores comunidades de brasileiras.
Entre os casos de subtração de menores, Portugal lidera o ranking com 18 registros, seguido de Estados Unidos, com 13, Itália, com 11, Líbano, com 5, e Alemanha, com 4.
Já com relação ao índice de disputa de guarda, as comunidades brasileiras na Alemanha saem na frente com 200 registros. Na sequência, estão Portugal, com 181, Itália, com 110, Reino Unido, com 52, e Estados Unidos, com 48 casos.
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O conceito de violência vicária, introduzido em 2012 pela psicóloga argentina Sonia Vaccaro, refere-se à prática de prejudicar terceiros, geralmente filhos, com o objetivo de causar sofrimento à mulher. Este é um tipo de violência contra a mulher que muitas vezes não é discutido, mas que permeia em diversos contextos.
Alguns sinais que podem indicar o início de violência vicária incluem ameaças de retirada da guarda dos filhos, recusa no pagamento de pensão sob a alegação de que o dinheiro não beneficia a criança e chantagens emocionais que usam a criança como instrumento.
Falta de informação nos consulados e embaixadas
O Mapa Nacional da Violência de Gênero ainda indica que 48,8% das repartições consulares ao redor do mundo não tiveram registros de casos em 2023. Essa estatística pode sugerir que a informação adequada sobre a possibilidade de denúncias e solicitações de ajuda em situações de violência doméstica não alcança as cidadãs brasileiras, ou que estas não buscam auxílio nas unidades consulares.
Essa falta de informação pode resultar na insuficiência das políticas de prevenção e apoio às vítimas, além de mascarar a real situação da imigrante e contribuir para a perpetuação deste tipo de violência. É fundamental que essas repartições estejam equipadas com as informações necessárias para proteger e apoiar a comunidade.