Do bairro Areia Branca, na Zona Noroeste de Santos, para o sofá do Encontro, na TV Globo, Valéria Almeida, de 41 anos, sente ter vivido duas vidas na mesma história. Crescida na cidade dos canais de 1 a 7, da orla mais bonita da América Latina, do futebol de Pelé e do repertório de Chorão, a jornalista mudou seu endereço no currículo para superar o preconceito com a região periférica que não está nos cartões postais do DDD 13. Além disso, provou a resiliência cedo, com a perda da mãe aos 33 e o pai aos 53, e hoje realiza a meta de que não viveria uma história com final triste.
Em 2024, ela celebra as colheitas de uma trajetória televisiva iniciada no Profissão Repórter, em 2011. Oportunidade que mudou a sua vida, tanto na transição da Baixada Santista para São Paulo, quanto nos caminhos para chegar às manhãs de Bem-Estar, quadro da atração de Patrícia Poeta onde hoje traz informações cruciais para o público de todas as idades. Além de, eventualmente, assumir o papel de apresentadora por completo, ao lado de Tati Machado, com entretenimento, serviço social e muito carisma reconhecido pelo público.
O que não mudou desde os primeiros passos na telinha foi a parceria com Perterson Gomes, com quem vive um relacionamento há 15 anos e divide o amor por Lucas, 18, que chegou aos 2 anos de idade em sua vida. O enteado entrou na sua vida no dia em que conheceu o marido, em um dia de praia despretensioso ao final dos anos 2000, e hoje seu maior incentivador, companheiro de vida pessoal e profissional.
"Em 2024, consegui dar tempo para as pessoas que amo, cultivar coisas que são importantes para mim nas relações e na dinâmica acelerada de trabalho. Tive tempo de qualidade com a família, consegui fazer viagens, comecei indo pra África do Sul, fui para Nova York a convite da ONU, depois tirei férias. Consegui estar com pessoas legais no trabalho, projetos legais, já chego ao final com o convite para apresentar o Carnaval em 2025. Um ano bonito de colheitas", conta.
Valéria reflete sobre as motivações para se tornar comunicadora, a importância de ocupar um espaço determinante em rede nacional para inspirar tanta gente e a representatividade marcada em seu corpo, imagem e fala. Além do processo de ressignificar a maternidade após um aborto, a expectativa para assumir a transmissão do Carnaval 2025 e o sonho de um programa solo.
Você teve um ano intenso, de muito trabalho e conquista. Quais foram os aprendizados de 2024?
Respeitar o meu tempo, dizer alguns nãos foi importante, porque, quando a gente também está envolvida com coisas legais, quer abraçar tudo. Mas esse ano consegui dizer alguns nãos que foram importantes para conseguir ter tempo para curtir minha família, cuidar de mim, da minha cabeça, fazer minha terapia, ir para academia, porque é o mesmo tempo para tudo. Foi um exercício e um aprendizado, principalmente de estabelecer limites naquelas relações que você vê que não são mais legais, como ter aquele amigo que era da vida toda, mas que não condiz mais, e no trabalho também.
Em que momento que pensou nesse limites para si? Houve algum estopim na sua vida?
Sou uma pessoa muito observadora e, apesar de falar muito, observo muito também. Vejo pessoas reclamando da falta de tempo, mas se envolvendo com um milhão de coisas. Tem coisas que a gente se envolve porque é obrigado, porque a vida demanda, não é uma alternativa, mas não é o caso. Quando você vê as pessoas no entorno adoecendo, tenta não repetir padrões. Perdi muita gente da minha família muito jovem. Minha base familiar toda já foi embora. Minha mãe morreu muito nova, aos 33 anos, meu pai morreu aos 53. Todo mundo foi partindo. Fico com um pouco de receio do que pode levar a doenças, que a falta de limite pode fazer com que a gente pife. Tem coisas que a gente vai viver porque não tem alternativa, está na nossa história, mas não gostaria de passar por situações e me sentir culpada por não ter parado antes.
Qual filme que passa na sua cabeça pensando na sua história, desde a vida na periferia de Santos, as perdas, os primeiros trabalhos, as conquistas na TV e onde está hoje?
Olho para mim hoje, a mulher de 41 anos, parecem duas vidas. Primeiro, porque tem toda uma questão social. Nasci e cresci na Zona Noroeste de Santos, na Areia Branca, logo atrás do cemitério. Todo mundo se orienta pelos canais e é a maior favela de palafitas do país. Socialmente, já era um lugar que dificilmente daria para imaginar essa adulta de hoje. A estrutura familiar sempre foi muito boa até minha mãe morrer, e aí as coisas desandaram. Tinha uma família com quatro pessoas - pai, mãe, irmãos - numa periferia, uma vida simples, mas uma família estruturada. De repente, você não tem mais pai e mãe, desequilibra emocionalmente, passa ser criada por avós, que não tiveram acesso à educação. Nordestinos que vieram para São Paulo para tentar uma vida, mas passaram o tempo inteiro trabalhando em subemprego e acreditaram muito na educação. Conseguir sair deste lugar e chegar até aqui já é uma história.
Você diz que não foi passe de mágica, nem sorte, com muitos desafios emocionais e sociais. Como foi essa virada de chave?
Desde a ajuda da pessoa que ajudou com o transporte, alimentação, pagar a mensalidade, a rematrícula. Tiveram barreiras, olhando para as pessoas que eram o meu suporte indo embora sem alternativa, as questões financeiras foram ficando piores. De repente, era uma menina, que deixou de ser uma criança, virou uma adolescente para ajudar a cuidar. Olho para a vida que consegui conquistar com o apoio da família com o que puderam, amigos, professores e de pessoas que foram cruzando o meu caminho. Não vou dizer um final feliz, porque quero mesmo estar sambando com 80, mas já é uma história muito feliz, impensada por muita gente. Acho que só deu muito certo, porque dentro da minha realidade, meu universo muito lúdico de menina, criava realidades paralelas para acreditar que teria uma vida mais bonita. Nunca acreditei que o meu final seria triste, que não teria a oportunidade e a possibilidade de uma vida bonita. Não sabia exatamente como seria a minha vida, mas desejei, projetei e fiz o meu caminho. Fui aceitando as mãos que se estenderam para poder estar aqui hoje. É um filme bem longo com muitas vidas vividas.
“Via na televisão os jornalistas viajando e pensava que meu trabalho me levaria para viajar, conhecer cultura e contaria histórias boas para inspirar pessoas”
Sua opção na faculdade foi jornalismo nas três possibilidades de escolha da inscrição do vestibular, mas o que te tornou jornalista?
Querer ser livre e contar histórias bonitas do bairro em que eu morava e que precisavam ser modificadas, porque só estava no jornal nas páginas policiais. Ninguém contava histórias das pessoas boas que viviam no entorno. Como toda periferia, fica extremamente estigmatizada. Passei muito tempo procurando emprego, colocando o endereço que morava e sendo rejeitada por todo mundo. Passei a conseguir vagas colocando endereços que não eram meus, que eram dos meus colegas de faculdade, que moravam nos bons pontos de Santos. Isso me fez ter que trabalhar e me virar para pagar a passagem porque as pessoas já achavam que morava perto do trabalho e não precisaria do transporte. No começo da minha adolescência, não conseguia acreditar, não tinha referência de pessoas que trabalhavam e ganhavam um bom salário para poderem viajar, estudar, fazer outras coisas. Via na TV jornalistas viajando e pensava que meu trabalho me levaria para viajar, conhecer cultura e contaria histórias que eram boas para inspirar pessoas. Acreditei tanto nesse mundo que criei que eu fui.
Tem um serviço social importante ali no Encontro à frente do Bem-Estar, né? Um programa de entretenimento com a função de servir também. Qual a importância disso?
O Bem-Estar é um quadro que trata de saúde e que muitas vezes é a oportunidade da pessoa se identificar. É um programa de rede nacional que está em todos os lugares. Não importa em que realidade social a pessoa esteja, a gente chega com uma informação que, muitas vezes, é o que vai fazer com que aquela pessoa perceba o que ela tem. Os sinais que estou falando para ela vão fazer com que ela procure ajuda, saber quais são os direitos e como acessar alguns serviços. A gente tem um serviço de saúde que é uma referência de serviço público para todo mundo, porque ainda que você pague o seu convênio, você tem essa possibilidade de ser atendido. O fato é que a gente tem questões políticas e econômicas que ainda fazem o sistema precisar de muitos ajustes. Mas entendo que também estou ajudando essa pessoa a ter uma vida com qualidade, ter uma alternativa de estar sambando com 80 anos, caso ela queira.
E a diferença quando está no comando do programa, ao lado de Tati, nas substituições da Patrícia?
Quando estou na apresentação do Encontro, também entendo como uma possibilidade de falar de cultura, fazer entrevistas sérias, porque a gente consegue. É um programa que você fala de grandes dores, denúncias e, ao mesmo tempo, traz música, arte, algo que considero importante para toda a vida. Vou me realizando enquanto apresento e não importa o quadro, o programa que eu esteja ocupando e fazendo, sempre penso que é uma chance de levar alguma coisa boa, útil e feliz ou com uma informação, muitas vezes dura, mas que vai servir para aquela pessoa ter uma vida com qualidade.
"Presto atenção no que visto, como uso meu cabelo, porque sei que vai honrar muita gente"
Como mulher, preta, de origem periférica, em rede nacional, tem noção da sua relevância na representatividade para outras mulheres?
Bate em mim de um jeito muito bonito, me sinto muito honrada. Recebo mensagens dizendo que honro a história de quem batalhou tanto para que pudesse estar aqui. As pessoas mais novas chegam para dizer que se encorajam e foram fazer faculdade. A mulher que vem me mostrar que fez uma transição capilar, é foto de criança me imitando, colocando a mesma roupa. É muito bonito. A gente vai fazendo o nosso trabalho da melhor forma possível, mas não consegue saber o quanto está tocando as pessoas. Como uma mulher negra, ajo com intenção em todo momento, porque é uma sociedade que exige muito das pessoas negras, olha pra gente com uma lupa, que a gente sabe que socialmente não tem margem para erro. Tenho tentado ser mais leve comigo para não me cobrar tanto, já que a sociedade cobra tanto.
E é uma intenção que se materializa na reação de quem assiste. Como é esse retorno de identificação do público?
Presto atenção na roupa que visto, na forma como uso meu cabelo, porque sei que isso vai honrar muita gente, vai inspirar outras tantas pessoas a acreditarem que é possível trilhar a jornada que elas quiserem. Não necessariamente é uma vida na televisão, mas é saber que projetei essa vida para mim e deu certo mesmo com muitas dificuldades. Espero que elas também olhem e se imaginem, consigam ter referência para poder sonhar como um dia sonhei para também terem suas histórias modificadas, acreditem que vai valer a pena estudar, insistir, mesmo que o mundo diga que não. Faço o meu trabalho ciente de que vou mexer com as pessoas positivamente. Ainda assim, toda vez que alguém vem e me fala, me emociono porque é entender que de fato está chegando nelas.
Você é uma figura que inspira numa sociedade pautada na população negra à margem socialmente após a libertação da escravidão e carrega consequências disso até hoje. Como se sente nesse lugar?
Tem uma perpetuação da nossa imagem em lugares que são ruins, estigmatizadas, muito conectados à violência, miséria que não passa. É muito difícil criar um repertório e acreditar numa vida bonita, quando você passa uma vida inteira sendo alimentado de informações como se a vida bonita não fosse para você, aquilo ali nem valesse a pena ou que nem adiantaria nada batalhar porque aquilo nunca vai chegar. Tenho ciência de que o meu corpo, minha imagem e minha fala vão fortalecer pessoas na caminhada. Ao mesmo tempo, vou agradecendo e fazendo meu trabalho para honrar quem já caminhou muito para eu poder estar aqui. Não naturalizo, toda vez que alguém fala, a ficha cai. Realmente, estou fazendo isso, neste momento da história, plantando sementes.
"Tenho ciência de que meu corpo, imagem e fala vão fortalecer pessoas na caminhada"
E seu grande parceiro de vida é o Peterson, seu marido, que te acompanha em tudo o que pode, trabalham juntos, curtem juntos. Como é essa história de 15 anos de relacionamento?
Além de ser o amor da minha vida, ele é um grande parceiro de jornada. É a pessoa que estimula, acredita. A gente se conheceu na praia mesmo, num dia qualquer, uma amiga chegou para me fazer companhia, um amigo ligou para ela para perguntar onde ela estava e chegou o Peterson com o Lucas, que é o meu filho que veio pronto. Quando conheci o Peterson, o Lucas tinha dois anos e meio. Aí a gente saiu à noite, foi no samba, ficou e nunca mais se desgrudou. Estamos juntos há 15 anos e casados há 14. Temos uma relação de parceria. Quando recebi o convite para ir para TV, trabalhava numa revista e ia fazer um ano que a gente estava casado. Era uma vaga com uma possibilidade de ser definitiva, para cumprir uma licença. A gente morava em Santos e eu trabalhava em São Paulo, na Carta Capital, subia e descia a serra todo dia, há quatro anos. Recebi uma ligação que muda tudo e o apoio dele foi fundamental. Ele fez uma transição de carreira, trabalhava na Baixada Santista, na Petrobras, se formou em administração, estudou marketing e a gente montou uma agência, focada na diversidade de profissionais negros e nasceu muito desse trabalho dele começar a me agenciar.
E você ganhou um filho como madrastra, sempre compartilhando conquistas e vivências com o Lucas. Como é essa relação?
É o amor da minha vida. Ele é um grande presente. A gente se conheceu e simplesmente fiquei apaixonada por ele. Sempre tivemos essa conexão muito forte. Desde que casei, ele passou a viver em guarda compartilhada. Peterson tinha já uma convivência de todos os dias com ele e, depois que casamos, a gente só teve a formalização. Essa convivência, ver o Lucas crescendo, hoje tem 18 anos, quer me levar para o trabalho, ser o motorista da rodada, é uma relação bonita, ele é meu amigo. Ligo para compartilhar as coisas com ele. Quando fui chamada para o reality Expo Favela, a gente ia fazer uma viagem em família. Compramos a passagem no domingo e na segunda me chamaram. Liguei e falei que não ia conseguir fazer a viagem, contei o motivo e e ele surtou de alegria, vibrou um monte e quis esperar para a gente fazer uma viagem em família.
E o que faz essa conexão maternal com Lucas?
É uma relação que é construída, porque é uma escolha. Escolho viver essa maternidade como madrasta, escolho participar de todas as coisas dele, escolhi estar nas festinhas da escola, nas atividades fora da escola, estar junto. Na formatura dele do Ensino Médio, ele me escolheu para entrar com ele, foi lindo demais. Pensa numa pessoa que chorou. Ele fez uma surpresa, já tinha falado para mãe e para o pai, ele só não tinha falado para mim. Fui para assistir e de repente, chego lá e ele fala que eu iria entrar com ele. Foi muito bonito porque tem a ver com a nossa conexão. Eu falava para ele: 'Você não é meu filho de sangue, não é meu filho por adoção, mas é meu filho do coração, essa é a minha escolha. A gente vai trocar, porque tem vezes que posso errar e posso te magoar sem saber, tem vezes que você pode errar e me magoar sem perceber, o que a gente vai fazer é sempre trocar se um fizer alguma coisa que deixa o outro chateado e gente seguir juntos na vida'.
Como é pessoalmente ter se tornado mãe de uma forma fora dos padrões, de não ter laço sanguíneo, também não ser uma adoção, ser uma relação construída?
Tinha 26 anos quando conheci o Lucas e não tinha a ideia de uma maternidade, não tinha um sonho de uma gravidez. Sempre achei que teria filho por adoção, depois que conheci o Lucas, as pessoas perguntavam quando teria o meu e eu falava que já estou feliz. Falaram uma vez para mim: 'No dia que você tiver o seu filho, vai saber o que é o amor de verdade'. E eu pensei: 'Como assim amor de verdade? O que eu tenho é amor de verdade'. Não é uma relação de que um dia vai substituir esse amor, porque acredito muito nesse amor de alma mesmo. Não à toa, a gente vê histórias de filhos por adoção e são amores de alma, não tem a ver com vínculo de sangue.
E você ressignificou a maternidade ao não ter filhos além da relação com Lucas?
Depois de uns dois anos, quis tentar engravidar e aí descobri que tinha endometriose extremamente séria, passei por muita cirurgias, tive uma única gestação, um aborto e nunca mais engravidei. Ao mesmo tempo, o lugar do meu filho Lucas sempre esteve aqui, seria um segundo filho, que chegaria de uma outra forma. Não chegou e foi doloroso, foi um processo de muita terapia, de muito choro, muita dor até conseguir também ressignificar isso em mim, para conseguir ser grata à vida pelo que tenho. É o que já faço, desde que sou criança, porque, caso contrário, ficaria lamentando as minhas perdas. Poderia ficar chorando as minhas dores e também estaria tudo bem assim, se fosse a minha escolha. Foram dores muito grandes, perder uma mãe, um filho, um pai. Perdi grandes amores. Não foi um processo fácil entender o não gestar novamente, porque uma coisa é você escolher, outra coisa é você não poder. Mas consegui separar muito bem o que era uma segunda gestação do que era a minha forma de gestar o Lucas no meu coração.
E você frisa que a relação é uma escolha, você escolhe estar com ele sempre?
A minha relação com ele é algo muito sagrado, valorizo muito e agradeço ao universo pela possibilidade de viver isso. Falo que é uma escolha porque sou uma madrasta. Sou mãe do coração, mas é madrasta, né? Poderia escolher ter uma relação distante, mas perderia a possibilidade de viver esse amor. Acho um privilégio. Brinco com ele: 'Filho, quando você estiver mais velho, se você quiser, se for casar ou ficar um solteirão, não importa, você pode estabelecer para sempre uma guarda compartilhada? Sempre ter uma data para a gente fazer uma viagem'. Não consigo visualizar a vida longe dele, curto muito estar com ele, a gente faz tudo muito juntos.
"Tive uma única gestação e nunca mais engravidei. Foi um processo de muita terapia, choro e dor até conseguir ressignificar isso em mim"
E você estará na transmissão do Carnaval 2025, ao lado de Everaldo Marques e Aílton Graça. O que isso significa para você, que ama samba e se identifica com esse universo?
Fiquei muito feliz com esse convite. Amo o Carnaval, acho que é uma cultura nacional, de origem negra, uma festa que encanta o mundo todo, dedicação de um ano todo das comunidades, uma grande competição. Tem a euforia da festa e o comprometimento que todo mundo tem de competição. Poder viver isso apresentando, falando da cultura dessa manifestação popular, mas também dessa energia de uma competição, é incrível. A gente sabe na hora da apuração tudo conta, são pontinhos ou décimos ali que fazem toda a diferença. É de uma responsabilidade imensa porque são horas de transmissão ao vivo. Também tenho a sorte de estar muito bem acompanhada, com muito comprometimento profissional, mas também de uma alegria e energia de vida que me encanta, dois profissionais que admiro.
E é mais um sonho realizado?
Um convite para fechar o ano com chave de ouro e também dizer que está tudo certo, que estou no caminho certo, porque acho que essa é uma relação que tenho com a vida, de celebrar o que a gente pode celebrar, lutar na hora que precisar lutar, entender que a gente é tudo isso junto. Passamos muito tempo da vida dedicados ao trabalho, então, também quero ser muito feliz enquanto estou trabalhando. É a realização de um sonho de menina. A mulher adulta aqui é feliz e agradece a menina que só sonhou, projetou, sem ter muita expectativa, perspectiva, mas fui uma boa sonhadora e ainda sou. Quando parece que está tudo sob controle, fico muito quietinha, parecendo criança aprontando, tem algum plano mirabolante acontecendo por aqui. Espero muito que esse ano comece nessa energia, porque vai ser uma energia de trabalho, de prosperidade.
E pensa em desfilar em escola de samba algum dia?
Amo muito, curto muito, acho que se desfilar, vou ser muito feliz desfilando. Tenho dificuldades de dizer, por exemplo, uma escola que desfilaria. Antes, já não falava, agora nem que me pague vou dizer qual é a minha escola do coração, não adianta. Mas ainda brinco que o problema é que meu coração é canceriano, tenho amor pra muita gente, muitas escolas, não vou escolher uma. Curto o Carnaval de várias formas, no barracão, no ensaio, na beirada torcendo para que as pessoas consigam cumprir o seu desfile no tempo. Toda vez que passa uma escola, que celebro que ela chegou no final, parece que sou torcedora daquela escola. Mas depois passa outra e faço a mesma coisa! Quando olho para uma escola, não vejo o nome, vejo o trabalho de muita gente, de uma comunidade, de gente que acredita muito, passa dia e noite projetando, costurando, montando a alegoria.
No futuro, então, talvez considere um desfile?
Torço pelo bom tempo, para que todo mundo consiga se desenvolver e fazer seu trabalho até o final, que os carros passem lindamente e vou me realizando. Agora, vou me realizar curtindo o Carnaval, juntando com o meu trabalho de a apresentadora. Depois, quem sabe, no futuro, vou desfilar. Ainda quero apresentar por muitos anos. Acho que o desfilar vai ficar bem para depois, eu lá sambando com 80 anos, como já falei (risos).
E um sonho que ainda queira realizar?
O meu programa, como um bom filho, gestado, cultivado com muito amor. Um programa que conecte as pessoas, que tenha cultura popular, essa nossa alegria de viver, a mistura dos povos brasileiros. Nós somos muitos povos dentro de um só. Então, que venha.