Saltar para o conteúdo

Tele Sena

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Tele Sena

Logotipo da Tele Sena
Região  Brasil
Chefe executivo Grupo Silvio Santos
Regulada por Superintendência de Seguros Privados
Chance de premiação 1 em 5 milhões[1]
Website https://www.telesena.com.br/

Tele Sena é um título de capitalização de pagamento único (PU), lançado em novembro de 1991 pela Liderança Capitalização S/A, uma empresa do Grupo Silvio Santos.[2]

O consumidor adquire o produto em casas lotéricas, agências dos Correios e canais eletrônicos e, após um ano, pode resgatar 50% do valor pago, com juros de 0,16% ao mês e correção monetária pela TR[3]. Caso deseje, o consumidor poderá completar o valor e trocar pela Tele Sena em vigor.

Cada título terá impresso um conjunto exclusivo com 35 dezenas, distintas entre si, dentre as dezenas de 01 a 52.

Os títulos participarão de 05 sorteios realizados ao longo do primeiro e do segundo mês de vigência, nas datas previamente especificadas no título.

Serão sorteadas 30 dezenas no total, sendo 06 dezenas sorteadas em cada um dos cinco sorteios.

A partir deste conjunto, serão distribuídos os seguintes prêmios, conforme regulamento de agosto/2024[4]:

Premiação Descrição
Mais Pontos Os títulos que tiverem o maior número de dezenas sorteadas dividirão o prêmio de 88.888,89 vezes o valor do título.
Pela Boa Os títulos com uma dezena sorteada a menos que os vencedores do prêmio "Mais Pontos" dividirão o prêmio de 44.444,44 vezes o valor do título.
Menos Pontos Os títulos que tiverem o menor número de dezenas sorteadas dividirão o prêmio de 44.444,44 vezes o valor do título.

Há também outras duas modalidades de premiação, chamadas de "Grana Todo Dia" e "Ganhe Já".[5]

A premiação "Grana Todo Dia" provê 1 050 sorteios de sequências de 0.000.000 a 4.999.999, conferidos conforme o "Número da Sorte", impresso no interior do título. O valor pago por este prêmio é de 95,24 vezes o valor do título.

A premiação "Ganhe Já" é uma espécie de raspadinha, com películas raspáveis, com possibilidade de premiação entre 15 e 200.000 reais.

Os sorteios da Tele Sena são realizados e transmitidos pelo Sistema Brasileiro de Televisão, no decorrer da programação da emissora.[6]

Controvérsias

[editar | editar código-fonte]

Em 19 de agosto de 1994, a SUSEP, órgão regulador de previdência, seguros e capitalizações, declarou não encontrar irregularidades no Papa-Tudo e na Tele Sena[7]. No entanto, em maio de 1992, o ex-deputado estadual José Carlos Tonin (PMDB-SP) ajuizou uma ação popular, representado pelo advogado Luiz Nogueira, alegando que a Tele Sena funcionava como uma cartela de jogo disfarçada de plano de capitalização. A ação argumentava que a Tele Sena devolvia aos compradores apenas metade do valor pago (R$ 3) um ano depois, o que contrariava o decreto 261/67, que estabelece que as sociedades de capitalização devem operar como poupança. Os réus foram condenados a recolher R$ 50 milhões aos cofres públicos.[8]

Em 1997, a Folha de S.Paulo noticiou que o juiz João Batista Gonçalves, da 6ª Vara Federal de São Paulo, em uma decisão relacionada à mesma ação popular, anulou o ato administrativo da SUSEP que autorizava a Liderança Capitalização S/A a emitir cartelas de jogo disfarçadas de título de capitalização. Segundo o juiz, a Tele Sena "não é capitalização. É jogo camuflado. Lesa o consumidor e os Correios"[9]. Ele também considerou que os contratos de comercialização da Tele Sena pelos Correios eram prejudiciais à União, sendo feitos a custo irrisório. O magistrado destacou ainda que a Tele Sena foi adaptada para ser vendida às classes menos favorecidas como uma loteria, com valor de devolução reduzido à metade após um ano, iludindo os consumidores com propaganda enganosa.[9]

Em 2001, desembargadores do Tribunal Regional Federal de São Paulo iniciaram uma ação pedindo o fim da Tele Sena.[8] Em uma carta manuscrita, enviada para sensibilizar os desembargadores que analisavam a apelação cível da ação popular que questionava a legalidade da Tele Sena, Silvio Santos revelou como conseguiu evitar a falência do SBT quase dez anos antes.[8] Ele admitiu ter criado a Tele Sena em 1991 para cobrir os prejuízos do SBT, que não conseguia se sustentar e crescer apenas com publicidade e os lucros do carnê Baú da Felicidade.

Silvio Santos defendeu a legalidade da Tele Sena, argumentando que seu fim poderia levá-lo à falência, prejudicando o SBT e favorecendo a Globo. Segundo ele, até o pacote de filmes da Warner e da Disney, que o SBT exibia e que superava a Globo em audiência, foi viabilizado pela Tele Sena. Ele afirmou ainda que a Tele Sena gerou, em oito anos, um lucro que sustentava todas as empresas do grupo, que enfrentavam prejuízos devido aos altos investimentos na rede de TV e na abertura de novos negócios, como Internet, TV a cabo e banco.[8]

A carta foi enviada à desembargadora federal Therezinha Cazerta, que interpretou o conteúdo como uma confissão de que a Tele Sena é uma "loteria disfarçada de título de capitalização". A desembargadora votou contra a Tele Sena, argumentando que o documento, "em vez de socorrê-lo, acaba por ratificar ainda mais que a Tele Sena é ilegal e lesiva à moralidade administrativa", concluindo que "Na verdade, a Tele Sena somente enriquece o senhor Silvio Santos".[8]

Em novembro de 1999, o relator do processo, desembargador Newton de Lucca, já havia dado voto contra a Tele Sena, concluindo pela sua ilegalidade, embora tenha reformado a decisão sobre a multa de R$ 50 milhões. Em seu voto, o desembargador federal destacou que a Tele Sena representa um "desvio de finalidade" do decreto 261/67, não "cria poupança" e se aproveita do "apelo lúdico dos sorteios", promovidos pelo "homem de vendas mais prestigiado da TV brasileira".[8]

Em 2002, o Ministério Público Federal acusou a Liderança Capitalização de "apropriação indevida" de R$ 2,3 bilhões, de um faturamento total de R$ 5,75 bilhões obtido pela Tele Sena nos últimos 11 anos, com a venda de cartelas. A procuradora regional da República, Maria Iraneide Olinda Santoro Facchini, concluiu que a Tele Sena não funcionava como um título de capitalização, como havia sido inicialmente concebido e aprovado, mas sim como um jogo de azar comum. Segundo o parecer, a Tele Sena "é uma aventura que descapitaliza a população carente e enriquece o Grupo Silvio Santos". Embora a Tele Sena tenha sido condenada em primeira instância, a Justiça considerou legal o contrato de venda de cartelas entre o Grupo Silvio Santos e a ECT (Empresa Brasileira de Correios). No entanto, a procuradora afirmou em seu parecer que o contrato era lesivo.[10]

Em 2007, por decisão unânime, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) reconheceu a legalidade da Tele Sena.[11] Os ministros, seguindo o entendimento do relator, ministro Luiz Fux, anularam a decisão da Justiça Federal da 3ª Região, concluindo que o autor da ação popular não tinha legitimidade para propor ação visando à anulação de contratos entre uma pessoa jurídica e outras entidades, nem para pleitear a defesa de outros consumidores ou reivindicar valores obtidos com a venda dos títulos de capitalização.[12] Posteriormente, foi aberto um processo na Corte Especial do STJ para apurar possível parcialidade do ministro Luiz Fux em favor da empresa Liderança Capitalização S/A.[13]

Em novembro de 1994, uma vencedora queimou seu bilhete premiado, no valor de 50 mil reais, durante um culto em uma igreja Assembleia de Deus em Fortaleza. A mulher alegou que o pastor havia chamado a "Tele Sena" de "coisa do diabo" e a incitou a queimar o bilhete para "se salvar do fogo do inferno". Mesmo desempregada e com três de seus sete filhos doentes, ela destruiu o bilhete junto com seus documentos. Posteriormente, foi agredida pelo marido e tentou, em vão, reclamar o prêmio.[14][15][16][17]

Referências

  1. «Saiba quais são as chances de ganhar nas loterias do Brasil». Yahoo Finance. Consultado em 15 de abril de 2023 
  2. «Grupo Silvio Santos». gruposilviosantos.com.br. Consultado em 25 de agosto de 2024 
  3. Capitalização, Liderança. «Tele Sena - Título de Capitalização». Tele Sena. Consultado em 21 de agosto de 2024 
  4. Capitalização, Liderança. «Tele Sena - Título de Capitalização». Tele Sena. Consultado em 21 de agosto de 2024 
  5. Capitalização, Liderança. «Tele Sena - Título de Capitalização». Tele Sena. Consultado em 21 de agosto de 2024 
  6. Alves, Lucas (17 de março de 2020). «Tele Sena - O que é, história e curiosidades sobre o prêmio». Segredos do Mundo. Consultado em 26 de agosto de 2024 
  7. Fernando Rodrigues (20 de agosto de 1994). «Para governo, as cartelas de telebingos são regulares». Folha de S.Paulo. UOL. Consultado em 26 de julho de 2014 
  8. a b c d e f Daniel Castro e Rogério Gentile (13 de maio de 2000). «Silvio Santos diz que criou Tele Sena para livrar SBT da falência». Folha de S.Paulo. UOL. Consultado em 26 de julho de 2014 
  9. a b José Carlos Tonin (9 de julho de 1997). «Tele Sena carimbada». Folha de S.Paulo. UOL. Consultado em 26 de julho de 2014 
  10. Xico Sá (11 de março de 2002). «Parecer vê Tele Sena como "aventura"». Folha de S.Paulo. UOL. Consultado em 26 de julho de 2014 
  11. «EDcl no REsp 851090 SP 2006/0092669-7». Superior Tribunal de Justiça. JusBrasil. 3 de junho de 2008. Consultado em 26 de julho de 2014 
  12. «Para STJ, Telesena é legal». Expresso da Notícia. JusBrasil. Consultado em 26 de julho de 2014 
  13. Helio Fernandes (30 de agosto de 2010). «Ministro Luiz Fux, do STJ, salvou a TeleSena de Silvio Santos e agora está sendo processado». Tribuna da Internet. Tribuna da Imprensa 
  14. Fermino Araripe (2 de dezembro de 1994). «Crente queima uma fortuna». Jornal do Brasil, ano CIV, edição 238, página 12. Consultado em 16 de abril de 2022 
  15. «Preacher Orders Woman to Burn Winning Lottery Ticket». Associated Press. 2 de dezembro de 1994. Consultado em 16 de abril de 2022 
  16. «Brazilian woman burns winning ticket». United Press International. 2 de dezembro de 1994. Consultado em 16 de abril de 2022 
  17. LEIGH, Mark (2014). Epic Fail: The Ultimate Book of Blunders. [S.l.]: Virgin Books. p. 113. ISBN 978-0753541265 

Ligações externas

[editar | editar código-fonte]