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Perfuração por arma de fogo

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Perfuração por arma de fogo
Perfuração por arma de fogo
Crânio com uma perfuração por arma de fogo
Especialidade Medicina de urgência, traumatologia, cirurgia geral, medicina militar
Sintomas Hemorragia, traumas, desmaios, vômitos, fraturas... (Sintomas variam)
Complicações Região onde a vitima for acertada pelo disparo
Causas Violência e guerras
Método de diagnóstico Auto diagnosticável após receber o disparo
Mortes 47 000 (2019) no Brasil
Classificação e recursos externos
CID-10 W34
DiseasesDB 5480
MeSH D014948
A Wikipédia não é um consultório médico. Leia o aviso médico 

Uma perfuração por arma de fogo (PAF), também conhecida popularmente como ferimento por arma de fogo, ferimentos por tiro ou ferimento a bala, é um ferimento causado pela perfuração de tecidos por um projétil de arma de fogo que causa um trauma perfuro-contuso.

Danos graves possíveis

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Hemorragias externas (exsanguinação)

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A perfuração por arma de fogo pode entre outras lesões causar uma hemorragia externa, isto se deve normalmente quando o projétil passa de raspão na vítima porem com força o suficiente para causar algum dano em áreas vascularizadas, assim causando uma hemorragia externa que se não prontamente tratada pode causar a morte.[1]

Traumatismo muscular

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O traumatismo muscular ocorre quando o disparo acaba por romper músculos o que pode causar graves problemas como o mal funcionamento do músculo o que pode demandar procedimentos cirúrgicos para reconstrução do tecido rompido. Além de longos períodos de fisioterapia em caso de necessidade para reabilitação muscular.[2]

Hemorragia interna

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A hemorragia interna ocorre quando o projétil perfura alguma área vital do enfermo assim causando o "vazamento" excessivo de sangue. Sendo este vazamento oriundo de uma artéria, veia ou até a perfuração de algum órgão interno.[3]

As fraturas podem ocorrer quando o projétil atinge algum osso, assim podendo causar danos mais graves caso o osso em questão esteja próximo a áreas vitais (como as vertebras ou costelas por exemplo). Mesmo com o uso de colete balístico, o impacto de um projétil pode causar fraturas.[4][2]

Primeiro atendimento

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Médico militar dos Estados Unidos presta primeiros socorros a um civil ferido no Iraque

O primeiro atendimento deve ser feito utilizando a técnica padrão para traumas descritas no ATLS, que se trata da técnica da mnemônica do XABCDE:

  • X - Hemorragia exsanguiante - Avaliação de possível hemorragia externa grave e com a existência confirmada a tomada da decisão de como conter o sangramento (torniquete ou outra forma de contenção menos invasiva).
  • A - Airway - Via Aérea: Proteção da via aérea contra obstrução (vômito, corpo estranho, desabamento da língua, etc.) e controle da coluna cervical (imobilização temporária, que pode ser realizado simplesmente segurando a cabeça do paciente);
  • B - Breathing - Respiração: Avaliação da expansibilidade pulmonar, que pode estar prejudicada por hemotórax, pneumotórax, fraturas múltiplas de costelas (tórax instável) etc.;
  • C - Circulation - Circulação Sanguínea: Avaliação e (se possível) controle de perda sanguínea por hemorragias, lesões cardíacas e outras causas de baixo débito cardíaco;
  • D - Disability - Déficit Neurológico: Avaliar lesões de tecido nervoso (intracraniano prioritariamente). Nessa fase já pode se avaliar a Escala de coma de Glasgow;
  • E - Environment - Ambiente e exposição: Avaliar outras lesões que ainda não foram avaliadas e proteger o paciente contra hipotermia (retirando roupas molhadas, aquecendo,...).[5][6]

Exames clínicos

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Médico americano presta primeiro atendimento a militar australiano durante a guerra do Vietnã

Os exames clínicos devem ser feitos na chegada da vítima no hospital, visando sempre estabilizar a vítima para posteriormente submeter a mesma a algum procedimento cirúrgico caso necessário, nesta etapa são tomados os seguintes passos:[7][8]

Controle da pressão arterial

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Controle da pressão arterial é importantíssimo para um diagnóstico geral do estado do paciente, tendo em vista que, um paciente com hemorragia tende a ter batimentos acelerados e pressão arterial baixa, após constatado alguma mudança no quadro clinico da pressão do paciente, é feita a intervenção com soro e remédios para tentar manter a hemodinâmica do paciente em constante estado de funcionamento.[9]

Controle de vias aéreas

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O controle de vias aéreas é feito de forma a desobstruir as vias aéreas assim permitindo a entrada e saída do ar no organismo do paciente, nesta etapa é observada se o paciente em questão tem um ferimento de pneumotórax, assim conseguindo tratar de maneira intensiva para estabilizar o paciente.[10]

Raio-x e ultrassom

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Estes procedimentos são adotados principalmente quando o paciente possui apenas o orifício de entrada do projétil, assim presumindo que o projétil está alojado dentro do corpo do paciente. É feita a analise para ver os danos teciduais causados pelo impacto do projétil e a necessidade de um procedimento cirúrgico invasivo para parar sangramentos ou remover o projétil do corpo do paciente. Nem sempre o projétil é removido do corpo do paciente, principalmente caso a cirurgia cause mais riscos do que benefícios ao paciente.[11]

Avaliação AMPLA

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Esta avaliação é feita para medir o estado de consciência da vitima e obter mais informações, ela é feita após a escala de Glasgow quando a vítima estiver consciente e orientada para facilitar ao médico decisões como a utilização de medicamentos e também facilitar a investigação das autoridades através de informações passadas aos médicos. A avaliação segue os seguintes critérios:

  • A (Alergias) – Nega alergias;
  • M (Medicamentos de uso habitual) – Nega uso regular;
  • P (Passado Medico) – Nega cirurgias, internações e hemotransfusões previas;
  • L (Líquidos e alimentos ingeridos recentemente) – Nega ingestão de bebidas e líquidos nas últimas 8 horas;
  • A (Ambiente e eventos relacionados ao trauma) – Ferimento por arma de fogo em combate físico.[7]

Exemplos de possíveis procedimentos cirúrgicos

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Omar Khadr recebendo primeiros atendimentos em campo de batalha (mesmo com a gravidade dos ferimentos, Omar Khadr sobreviveu)

Laparotomia exploratória

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A laparotomia exploratória é um procedimento cirúrgico que visa remover da cavidade abdominal através de uma incisão partes do intestino para uma avaliação visual.[12]

O procedimento é adotado em vítimas de PAF que foram atingidas na região do abdômen assim procurando possíveis hemorragias internas e perfurações do tecido abdominal e em caso de não existir um orifício de saída, é utilizado também para encontrar o projétil que se encontra alojado no paciente.[13]

Reconstrução óssea

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A reconstrução óssea ocorre quando existe uma fratura grave causada pelo impacto de um projétil no corpo da vitima, assim é feita a reconstrução deste osso para garantir maior qualidade de vida para o paciente pós-trauma.[14]

Procedimentos estéticos

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Também são promovidos procedimentos estéticos de plásticos para garantir uma boa qualidade de vida para o paciente pós-traumático, tendo em vista que grande parte dos pacientes irão necessitar de acompanhamento psicológico. O cuidado estético é importante para a recuperação do paciente e sua reintrodução a vida normal.[15]

Estrutura do ferimento e a medicina forense

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Orifício de entrada

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Diferentes padrões de tiros marcados em ossos

O orifício de entrada é onde ocorre a entrada do projétil no corpo da vítima, assim causando uma laceração que deixa marcado sinais claros na pele:

  • Normalmente de forma arredondada (variando de calibre para calibre);
  • Diâmetro menor que o tamanho do projétil;
  • Bordas irregulares;
  • Gera um "tunel" dentro da vítima chamado de "orla equimótica".[16][17][18]

Orifício de saída

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O orifício de saída é o local onde ocorre a saída do projétil do corpo da vitima, caso inexistente, é possível que o projétil encontre-se alojado dentro do corpo da vítima. Os orifícios de saída normalmente tem as seguintes características:

  • Normalmente de forma irregular;
  • Diâmetro maior que o tamanho do orifício de entrada;
  • Maior sangramento que o orifício de entrada;
  • Bordas invertidas para dentro.[16][17][18]

O estudo da balística é importante para definir através dos ferimentos, o calibre e o tipo de arma utilizado para atingir a vítima. Com anos de estudo hoje sabemos que diferentes calibres, armas e distancias entre o atirador e a vitima deixam marcas diferentes. Assim permitindo um estudo avançado do caso.

Tipos de projéteis

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Existem diversos tipos de projéteis letais para armas, cada tipo acaba por causar um dano específico, assim facilitando o trabalho do médico forense em determinar os tipos de projéteis utilizados no ato do crime, entre eles estão:[19]

Tipo do Projétil Utilização
Ogival É o mais comum, sendo usado para fins militares, policial e defesa
Canto-vivo Usado especificamente para tiro ao alvo
Semi-canto-vivo Uso geral para defesa, caça e tiro ao alvo
Ogival truncada Também para uso geral, tem muita aceitação entre praticantes de tiro prático esportivo
Cônica Uso bastante restrito
Ponta Oca Uso para caça ajuda na expansão do projétil quando este atinge o alvo provocando ferimentos graves e dolorosos, aumentando o sangramento
Encamisados Uso para defesa pessoal, construídos por um núcleo recoberto por uma capa externa chamada camisa ou jaqueta

Existem diversos tipos de calibres, e sua balística varia de calibre para calibre, entre eles estão:[20][21][22][23]

Calibre Armas Balística forense
9 mm Pistolas e revolveres No geral, disparos de 9mm deixam um orifício de entrada e saída similares, ao passar pelo tecido não sofre grande expansão assim não deixando "o efeito túnel".
30 mm Pistolas e submetralhadoras Disparos de 30 mm também deixam orifícios de entrada e saída similares, porem causam o efeito "túnel" que causa maiores sangramentos internos.
45 mm Rifles e metralhadoras Disparos de 45 mm causam um efeito "tunel" mais claro, assim causando um orifício de entrada regular porem um de saída enorme.
.45 Pistolas Disparos de .45 causam um efeito similar aos disparos de 30mm, assim deixando orifícios de entrada e saída similares porem com o efeito "túnel" interno grande.
.50 Rifles Disparos de .50 fazem um efeito similar aos de 45 mm, porem ao contrário dos disparos de 45 mm os de .50 deixam um orifício de entrada grande e um de saída maior ainda, assim deixando graves danos que causam grande sangramento.
Calibre 12 Escopetas Disparos de calibre 12 deixam um orifício de entrada enorme e com a expansão do projétil, acaba deixando diversos pequenos orifícios de saída e/ou deixam estilhaços alojados dentro do corpo da vítima.

Referências

  1. Freire, Marcelo Louzada Quintella (2020). «O controle emergencial de hemorragia resultante de lesão vascular causada por projétil de arma de fogo». EsSEX: Revista Científica (5): 34–45. ISSN 2675-1445. Consultado em 10 de julho de 2021 
  2. a b Domit, Kemal (1997). «Traumatismo músculo-esquelético por projétil de arma de fogo*». Revista Brasileira de Ortopedia (em inglês) (10). Consultado em 10 de julho de 2021 
  3. Jose., D'Acampora, Armando. Puncao e lavado abdominal no diagnostico do abdome agudo hemorragico pos-trauma abdominal. [S.l.: s.n.] OCLC 69807917 
  4. Hitoshi., Shinohara, Elio. Tratamento de fratura Mandibular por projetil de arma de fogo. [S.l.: s.n.] OCLC 69912919 
  5. «CONHECIMENTO DE GRADUANDOS EM ENFERMAGEM SOBRE SUPORTE BÁSICO DE VIDA». dx.doi.org. doi:10.18471/rbe.v29i2.12648.s3379. Consultado em 10 de julho de 2021 
  6. «PHTLS Basic and Advanced Pre-Hospital Trauma Life Support Third EditionPHTLS Committee of the NAEMT in Cooperation with The Committee on Trauma of The American College of Surgeons Mosby LifelinePHTLS Basic and Advanced Pre-Hospital Trauma Life Support Third Edition396pp£25.500-8151-6333-90815163339». Emergency Nurse (2): 26–26. Agosto de 1995. ISSN 1354-5752. doi:10.7748/en.3.2.26.s9. Consultado em 10 de julho de 2021 
  7. a b «Caso Clínico de Trauma por Arma de Fogo - Sanar Medicina». Sanar | Medicina. Consultado em 10 de julho de 2021 
  8. Sites, 170web-Criação e Gestão de. «O TRATAMENTO DE FERIMENTOS POR ARMA DE FOGO». CTTE - Centro de Treinamento de Técnicas e Táticas Especiais. Consultado em 10 de julho de 2021 
  9. Carreiro, Paulo Roberto Lima. «Hipotensão permissiva no trauma» (4): 515–519. doi:10.5935/2238-3182.20140144. Consultado em 10 de julho de 2021 
  10. Reinstein, Kliemann, Heck, Amanda, Fernanda, Jayme. «ABORDAGEM DE VIAS AÉREAS EM SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA» (PDF). Bvsalud. Consultado em 10 de julho de 2021 
  11. Cynthia., Lilja, G. Patrick, 1942- Lewin, (1978), Emergency management of abdominal trauma, Omnia Corp, OCLC 9285829, consultado em 10 de julho de 2021 
  12. «Quais os motivos para fazer laparotomia exploradora?». www.doctoralia.com.br. Consultado em 10 de julho de 2021 
  13. José., Rodríguez Gómez, (2009). El abdomen craneal. [S.l.]: Servet editorial - Grupo Asís Biomedia S.L. OCLC 993769195 
  14. ti_sbot. «Quando é necessário realizar uma reconstrução ou alongamento ósseo?». SBOT. Consultado em 10 de julho de 2021 
  15. «Cirurgia plástica reparadora devolve autoestima a pacientes de trauma». Secretaria da Saúde. 29 de agosto de 2019. Consultado em 10 de julho de 2021 
  16. a b Ribeiro, Adalgisa Peixoto; Souza, Edinilsa Ramos de; Sousa, Carlos Augusto Moreira de (setembro de 2017). «Lesões provocadas por armas de fogo atendidas em serviços de urgência e emergência brasileiros». Ciência & Saúde Coletiva: 2851–2860. ISSN 1413-8123. doi:10.1590/1413-81232017229.16492017. Consultado em 10 de julho de 2021 
  17. a b Maciel, Paulo Roberto; Souza, Marta Rovery de; Rosso, Claci Fátima Weirich; Maciel, Paulo Roberto; Souza, Marta Rovery de; Rosso, Claci Fátima Weirich (setembro de 2016). «Estudo descritivo do perfil das vítimas com ferimentos por projéteis de arma de fogo e dos custos assistenciais em um hospital da Rede Viva Sentinela». Epidemiologia e Serviços de Saúde (3): 607–616. ISSN 1679-4974. doi:10.5123/S1679-49742016000300016. Consultado em 10 de julho de 2021 
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  19. Hernandes, Rita (22 de março de 2019). «Balística Forense: perícia em armas de fogo e munições - Parte 2». Canal de Perícia. Consultado em 10 de julho de 2021 
  20. 1839-1907., Siacci, Francesco, (1888). Balistica ... [S.l.]: F. Casanova. OCLC 555817587 
  21. De la Cruz Lara, Perla Sofia (19 de abril de 2021). «Balistica forense (Balistica interior)». Anatomía Digital (2.1): 48–52. ISSN 2697-3391. doi:10.33262/anatomiadigital.v4i2.1.1675. Consultado em 10 de julho de 2021 
  22. «A liberação do 9mm e o besteirol dos "especialistas" brasileiros». Cadaminuto. Consultado em 12 de julho de 2021 
  23. «Núcleo de Balística dispõe de equipamentos de última geração para confecção de laudos». Perícia Forense. 17 de dezembro de 2018. Consultado em 12 de julho de 2021