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Música afro-brasileira

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Berimbau, um instrumento afro-brasileiro

A música afro-brasileira consiste em uma mistura de influências musicais e culturais da África subsaariana, de Portugal e, em menor escala, da música ameríndia, criando uma grande variedade de estilos. As letras, os instrumentos e até mesmo as melodias geralmente têm conexões com a cultura africana e até mesmo influenciam a cultura e a música em outros países atualmente. Ela é fortemente influenciada pelos ritmos africanos. Os subgêneros mais conhecidos dos gêneros musicais afro-brasileiros são o samba, o marabaixo, o maracatu, o ijexá, o coco, o jongo, o carimbó, a lambada, o maxixe e o maculelê.

Como em todas as outras partes do continente americano onde havia escravos africanos, a música feita por afrodescendentes foi inicialmente negligenciada e marginalizada, até que ganhou reputação no início do século XX e se tornou extremamente popular na cultura contemporânea.[1] Esse avanço veio em parte dos instrumentos exclusivos usados na música afro-brasileira, incluindo afoxé, agogô, alfaia, atabaque, berimbau e tambor.[2]

Quase toda a música brasileira é influenciada por traços da música afro-brasileira, tanto que o artista afro-brasileiro Letieres Leite dizia que toda a música brasileira é afro-brasileira.[3]

Há muitos artistas que influenciaram a música e a cultura afro-brasileira. Gilberto Gil é um dos artistas afro-brasileiros mais conhecidos, não só por sua música premiada, mas também por seu ativismo político. Em sua carreira, ele ganhou dois Grammys na categoria Melhor Álbum de World Music e recebeu sete indicações ao Grammy. Outros artistas e grupos populares incluem Pixinguinha, Abigail Moura, Nei Lopes, Agnaldo Timóteo, Racionais MC's e muitos outros. Esses artistas tocam muitos gêneros diferentes, incluindo, mas não somente, samba, rap, jazz, rock, funk, reggae e disco. A música afro-brasileira foi influenciada por instrumentos, ritmos, culturas e crenças africanas que continuam presentes na cultura cotidiana do Brasil.

Os instrumentos usados na música afro-brasileira variam conforme o gênero que está sendo tocado. Sendo assim, existe uma grande quantidade de instrumentos que são exclusivos da música afro-brasileira. Esses instrumentos incluem:

  • Afoxé - O nome desse instrumento é de origem iorubá e se traduz literalmente como "a língua que faz acontecer". O afoxé estava extremamente ligado às cerimônias africanas e ao candomblé, tanto que as apresentações que o utilizam são frequentemente chamadas de "candomblé de rua".[4]
  • Agogô - Instrumento semelhante a um sino agudo que se destaca durante uma apresentação de capoeira. É usado para complementar o ritmo de uma partida de capoeira e pode ser ouvido em muitas variações de samba.[5]
  • Alfaia - A alfaia é usada predominantemente nas batidas do maracatu e do mangue. Originário de Pernambuco, esse tambor é diferente de outros semelhantes porque o aperto das cordas nas laterais muda o seu tom.[6]
  • Atabaque - Há três tipos diferentes de atabaque. O rum alto, o rum-pi de tamanho médio e os menores tambores Le. O atabaque é frequentemente usado em danças de capoeira e maculelê.[6]
  • Berimbau - O berimbau é um instrumento de uma corda só que está ligado à forma de arte marcial afro-brasileira da capoeira e também pode ser ouvido no jazz e na música folclórica tradicional. Ele produz um som ressonante único.[7]
  • Ganzá - Outro instrumento percussivo de origem africana. O ganzá é um instrumento de chacoalhar tipicamente feito de estanho, comparável ao maracá indiano ou à cabaça africana. Embora seja um instrumento muito simples, ele pode executar ritmos tão complexos quanto a bossa nova.[8]
  • Pandeiro ou adufo - O pandeiro é muito semelhante a um tamborim, com símbolos na lateral e uma tampa de tambor esticada em torno de sua face. A face do tambor do pandeiro pode ser afinada para soar como um tambor em uma bateria. É usado principalmente em músicas de samba, choro, coco e capoeira.[9]
  • Reco-reco - O reco-reco é um instrumento de percussão com forte influência africana que é muito semelhante ao instrumento americano apelidado de "fish-scales". Muito usado no samba, era tradicionalmente feito de varas de bambu.[10]

Os instrumentos e ritmos que o constituem vieram diretamente das tradições africanas dos escravos trazidos para o Brasil. O candomblé é uma tradição que se tornou uma das religiões nativas mais antigas do Brasil e é um dos usos originais que os escravos deram aos instrumentos e ritmos que hoje identificamos como afro-brasileiros. Na tradição do Candomblé, há uma grande reverência pelos instrumentos e ritmos afro-brasileiros. Durante as cerimônias do Candomblé, instrumentos como o atabaque e o agogô são usados para apaziguar os Orixás. Acredita-se que esses instrumentos e ritmos tenham um poder espiritual que faz com que o ouvinte fique mais disponível para comungar com os Orixás. Há também padrões e ritmos específicos de tambores que podem ser usados para chamar, banir e interagir com os Orixás.[11]

A música afro-brasileira feita nos círculos de candomblé acabou se espalhando e ajudando a criar o samba. O candomblé era visto como uma prática inadequada pelos proprietários de escravos e pela maioria do Brasil. No Candomblé, a dança e a música são sagradas, por isso as reuniões eram disfarçadas de festas para evitar intervenções. Foi nessas festas organizadas por Tios e Tias (sacerdotes do Candomblé) que surgiram as primeiras batidas e danças do samba nas periferias do Rio de Janeiro.[12]

A influência da capoeira na música afro-brasileira é ampla. Há muitos tipos de apresentações de capoeira, cada uma com uma batida diferente para acompanhar a arte marcial. Algumas dessas batidas são:

  • Tradicional Candomblé - Uma canção religiosa tradicional do candomblé, que se concentra nas danças e cerimônias tradicionais que desempenham um grande papel na religião. Na criação da capoeira regional, Mestre Bimba removeu muitos dos rituais e práticas religiosas originais da Capoeira.[13]
  • Samba de roda - Utiliza algumas das primeiras versões do samba para combinar com danças folclóricas da África e do Brasil.[13] Caracteriza-se por uma roda em que as mulheres, e também os homens, começam a dançar o samba de tal forma que todos os capoeiristas presentes acabam se juntando a eles. As rodas são sempre animadas e cheias de alto astral e, nelas, as mulheres mostram toda a sua sensualidade de forma graciosa. O samba de roda geralmente começa após o término das rodas de capoeira.[14]
  • Benguela da Regional - Essa é uma batida criada por Mestre Bimba para imitar o estilo da "capoeira de Angola". Esse tipo de apresentação é feito com batidas muito mais lentas e baixas e também é usado para acalmar os nervos dos jogadores quando o combate fica acirrado.[15]
  • Os Toques da Regional - As batidas (toques) variam conforme o mestre e o tipo de capoeira. Entre os toques da capoeira regional estão: Hino da Capoeira Regional, Benguela, Cavalaria, Santa Maria, Pequeno, Idalina e Amazonas.[16] A inclusão de muitas batidas diferentes em uma única apresentação é considerada um microcosmo do Brasil como um todo.
  • As quadras e os corridos da Regional - Esses tipos de músicas incluem muito mais cantos do que os estilos anteriores. As "quadras" são cantos que iniciam a apresentação e os "corridos" são cantos que mantêm a intensidade e o ritmo da apresentação rápidos e enérgicos.[13]
  • O Hino do Grupo Ginga - Mestre Itapoan, fundador da Ginga Associação de Capoeira e aluno do venerado Mestre Bimba, tornou-se uma das maiores autoridades em capoeira regional e na história da Capoeira por sua devoção ao estudo e à prática durante toda a vida.[13] Segundo a Associação, O Hino do Grupo Ginga "tocado no ritmo tradicional da Regional, 'São Bento Grande', é o hino da Ginga Capoeira. Conta as origens do ginga capoeira, celebra nossa presença no mundo da Capoeira e conclama a todos que nos apoiam e nos desafiam".[13]

Referências

  1. «Portal da Cultura Afro-Brasileira». www.faecpr.edu.br. Consultado em 18 de janeiro de 2024 
  2. «Exposição de Instrumentos Afro-Braasileiros chama atenção no SESC» (PDF). Prefeitura do Município de Maringá. Secretaria de Comunicação. 14 de novembro de 2013. Consultado em 18 de janeiro de 2024 
  3. Cassaletti, Danilo (20 de novembro de 2022). «Dia da Consciência Negra: artistas dão luz às origens dos ritmos brasileiros». Terra 
  4. «The Popular Brazilian Rhythms Afoxe and Ijexa». Aventura do Brasil (em inglês). Consultado em 30 de novembro de 2022 
  5. «Agogo». lalaue (em inglês). Consultado em 30 de novembro de 2022 
  6. a b «Brazilian Musical Instruments - Brazil Music». CelebrateBrazil.com (em inglês). Consultado em 30 de novembro de 2022 
  7. «Berimbau: The Icon of Brazilian Musical Culture» (em inglês). 17 de maio de 2020. Consultado em 21 de novembro de 2022 
  8. «The Brazilian percussions: the ganza». www.marcdedouvan.com (em inglês). Consultado em 1 de dezembro de 2022 
  9. «pandeiro» (em inglês). Grinnell College Musical Instrument Collection. Consultado em 24 de abril de 2023 
  10. «reco-reco» (em inglês). Grinnell College Musical Instrument Collection. Consultado em 24 de abril de 2023 
  11. «Religious Rhythms: The Afro-Brazilian Music of Candomblé» (em inglês). Sounds and Colours. 19 de abril de 2011. Consultado em 30 de novembro de 2022 
  12. Elias, Vinicius (22 de junho de 2012). «Social Exclusion, Candomblé And The Origins Of Samba In Rio De Janeiro». Culture Trip (em inglês). Consultado em 1 de dezembro de 2022 
  13. a b c d e «The Music and Song of Capoeira» (em inglês). Ginga Capoeira Regional. Consultado em 1 de dezembro de 2022 
  14. Milani, Luciano (31 de janeiro de 2005). «Samba de Roda | Portal Capoeira». Consultado em 18 de janeiro de 2024 
  15. «Toques de Capoeira». www.arteculturacapoeira.com.br. Consultado em 18 de janeiro de 2024 
  16. Afonso, Lucas. «Capoeira: história, tipos, golpes, instrumentos». Brasil Escola. Consultado em 18 de janeiro de 2024