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Duarte de Lemos

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Duarte de Lemos
3.º Senhor da Trofa e Senhor da ilha de Santo Antônio, no Brasil
Duarte de Lemos
Duarte de Lemos, 3.º Senhor da Trofa (estátua do séc. XVI, no Panteão dos Lemos)
Nascimento c. 1480
Morte 1558 (78 anos)
Pai João Gomes de Lemos, 2.° Senhor da Trofa
Mãe Violante de Sequeira
Título(s) Senhor da ilha de Santo Antônio, na Capitania do Espírito Santo, Brasil

Capitão-mor do mar da Arábia

Ocupação Fidalgo, Militar, Donatário
Filho(s) João Gomes de Lemos, 4.º senhor da Trofa
Religião Católica
Brasão

Duarte de Lemos (c. 148027 de junho de 1558), 3.º Senhor da Trofa, etc, foi um fidalgo, militar e donatário português do século XVI. No Brasil, foi senhor da ilha de Santo Antônio, atual ilha de Vitória, onde veio a ser fundada a capital do estado do Espírito Santo.

Capelas funerárias de Duarte de Lemos e sua mulher, D. Joana de Melo, no Panteão dos Lemos, Igreja da Trofa do Vouga

Filho de João Gomes de Lemos, 2.° Senhor da Trofa, Álvaro, Pampilhosa, Jales e Alfarela de juro e herdade, e de sua mulher Violante de Sequeira; e irmão mais velho de Fernão Gomes de Lemos,[1] embaixador à Pérsia em 1515[2] e capitão-mor de Ceilão em 1522. Era também primo direito do 1.º marquês de Cenete e do 1.º conde de Mélito, dois titulares da primeira plana de Espanha, filhos de sua tia Mécia de Lemos[3] e do célebre cardeal Pedro González de Mendoza.

Duarte de Lemos iniciou aos vinte e poucos anos de idade a sua carreira militar e partiu pela primeira vez, em 1505, para o Índia na armada de D. Francisco de Almeida.

Em 1508, já rondando os 30 anos,[4] regressou à Índia como capitão de uma das 13 naus da armada da Índia comandada por seu tio materno, Jorge de Aguiar, que deveria substituir Afonso de Albuquerque na capitania-mor do mar da Arábia (cabo Guardafui), numa continuação do modelo de comando bicéfalo no Índico, iniciado em 1506 com a nomeação de Albuquerque para esse cargo.[5]

Porém, Jorge de Aguiar faleceu no naufrágio da sua nau São João, ao largo das ilhas Tristão da Cunha,[6] pelo que, abertas as vias de sucessão designadas por D. Manuel I, Duarte de Lemos sucedeu-lhe como capitão-mor do Mar e da Costa da Etiópia e da Arábia, ou seja, de todo o terço ocidental da governação portuguesa no Oceano Índico.[7]

O despacho original da nomeação de Jorge de Aguiar pelo rei D. Manuel I, transcrito pelo cronista João de Barros, deixava bem clara a plena separação de jurisdições no Índico pretendida pelo monarca, que iria assim anular pelo menos parte do protagonismo de Albuquerque, na gestão dos interesses portugueses no Oriente:[8]

"[D. Manuel I] ordenou que Afonso de Albuquerque, que andava na costa da Arábia, se passasse à Índia, cada um com o seu regimento, sem um se meter nem entender na governança do outro, com novo título por si: cá o primeiro [Aguiar] se intitulava capitão-mor do Mar da Etiópia, Arábia e Pérsia, de Sofala até Cambaia, e o outro [Albuquerque] da Índia"

Ao chegar a Socotorá, onde ficou baseada a sua frota, Duarte de Lemos, como sucessor de Aguiar, foi patrulhando os mares da costa oriental da África até Sofala, tendo "no caminho bombardeado Mogadíscio" e ainda capturado "uma nau do Rei de Cambaia, que foi das mais ricas presas que naquelas partes se fizeram ... e que importou mais do que quantas Duarte de Lemos em seu tempo fez".[9]

Entretanto, a relativa escassez de meios miltares ao seu dispor ("andava mui pobre de gente por lhe ser morta de doença e singelo de navios")[9] fê-lo enviar o seu capitão Vasco da Silveira ao Malabar, para reclamar de Albuquerque o envio de recursos adicionais, que lhe permitissem o pleno desempenho da sua missão. Perante a não resposta de Albuquerque, o próprio Duarte de Lemos viajou até à costa do Malabar, em agosto de 1510, apresentando-se em pessoa ao governador da Índia para lhe exigir o envio de mais meios para a costa da Arábia, sem que Albuquerque, que priorizava ações como um próximo ataque que já tencionava fazer a Calecute bem como uma futura expedição ao Mar Vermelho, lhe desse satisfação.

Convinha de facto ao governador, não enviar auxílios a Socotorá, como solicitado por Lemos, mas sim usar as seis velas com que este havia chegado ao Malabar, para - juntando-as aos 23 navios e 1800 homens já sob o comando direto de Albuquerque - as usar nos seus ambiciosos projetos imperiais. Porém, Duarte de Lemos não se prestou a isso e manteve a sua insistência no envio de mais meios de apoio para Socotorá.[10]

As relações de Lemos com Afonso de Albuquerque ficaram assim muito tensas,[2] não apenas pela recusa sistemática do último em enviar recursos para a parte ocidental do Índico como também porque Duarte de Lemos se revelou, afinal, um defensor da chamada visão comercial do império, propugnada desde o início por D. Francisco de Almeida, que se contrapunha à estratégia imperial, mais militarizada, aplicada por Albuquerque.[2]

Por pressão deste, Duarte de Lemos acabou por ter que voltar para o Reino. Pois a 12 de setembro de 1510 chegou à Índia a armada ordinária vinda do Reino, comandada por Gonçalo de Sequeira, que trazia novas instruções régias, concentrando o poder em Albuquerque e determinando o regresso a Portugal de Duarte de Lemos. O governador tinha vencido a disputa com o capitão-mor da Arábia.

Porém, embora a sua estadia no Estado da Índia tenha sido relativamente curta, Duarte de Lemos ainda conseguiu por lá deixar a reputação de ter sido "o mais eficiente colector de impostos que D. Manuel mandou ao Oriente".[4]

Regresso a Portugal

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Deve ter chegado de regresso a Lisboa no ano de 1511, pois uma carta de Afonso de Albuquerque para D. Manuel I, datada de 19.10.1510, informa o Rei que lhe está enviando, ao cuidado de Duarte de Lemos, "algumas peças (..) juntamente com o aljôfar do tributo de Ormuz".

Em Portugal, foi confirmado como 3.º senhor da Trofa, em 08.07.1514,[4][11] sendo-lhe o padroado da respectiva Igreja confirmado em 30.10.1520.[12] Sucedeu também a seu pai como 5.º morgado do Calhariz; e foi ainda senhor da honra e torre de Silva,[13] situada nas margens do Rio Minho, na antiga freguesa de S. Julião da Silva, entre Valença e Vila Nova da Cerveira, solar de origem da família e da Casa de Silva (a torre de Silva entrara na posse da família de Duarte de Lemos através de sua trisavó, Joana Gomes da Silva, que a recebera em dote de casamento).[14][15]

Era moço fidalgo desde 1489 e foi depois cavaleiro fidalgo da Casa Real. Foi também cavaleiro da Ordem de Cristo (desde 1512) e nesta ordem comendador de Castelejo.[4] Em 1518, já pertencia ao Conselho de Dom Manuel I, cargo que manteve com o novo rei Dom João III, que o fez capitão-mor de uma rica armada.

Entre 1518 e 1520, esteve envolvido em um conflito com a Abadessa do Lorvão, por causa de uma doação que recebera do conde de Faro e depois de Odemira,[16] D. Sancho de Noronha, senhor de Aveiro.

O Conde havia doado a Duarte de Lemos, em 09.03.1518, as ilhas da Maia, dos Ovos, e outras, bem como as marinhas de Vilarinho e do Esteiro Covo, na região de Aveiro. O Mosteiro do Lorvão, porém, contestou essa doação, alegando que as terras lhe pertenciam. D. Manuel I, por sentença de 01.02.1520, decidiu contra Duarte de Lemos nesse pleito, escrevendo que este "sendo pessoa poderosa forçara e esbulhara as ditas ilhas, indo a ellas tomando posse".[4] A Abadessa retomou assim posse dessas ilhas e marinhas, em 18.02.1520.

Em 1534, Duarte de Lemos mandou erigir o famoso Panteão dos Lemos,[17][6] junto à sua casa na vila da Trofa, no termo de Águeda.

No ano seguinte, começou a dedicar a sua atenção ao Brasil, onde já se encontrava a 5 de maio de 1535, data de uma procuração que de lá enviou a D. Diogo da Silveira.[4]

A 15 de junho de 1537, recebeu como doação a ilha de Santo António, a atual cidade de Vitória, no Brasil, do donatário da capitania do Espírito Santo, Vasco Fernandes Coutinho:

“Ao Senhor Duarte de Lemos a ilha grande que está da barra para dentro, que se chama de Santo António, completamente livre e isenta para si e seus descendentes, por o muito que lhe devo e por me vir ajudar a suster a terra que sem a sua ajuda o não fizera.”[4]

Como senhor da ilha, doou a alguns moradores sesmarias das terras da dita ilha que futuramente seria capital da capitania do Espírito Santo.

A Capela de Santa Luzia, mandada construir por Duarte de Lemos, é a mais antiga construção da cidade de Vitória, capital do estado do Espírito Santo

Duarte de Lemos adentrou-se num mangal e num morro construiu a sua residência e a capela de Santa Luzia, considerada a construção mais antiga da atual cidade de Vitória.[18]

Em 1549, estava de regresso a Lisboa, onde recebeu a confirmação da doação da ilha pelo rei D. João III, em 08.01.1549, e regressou ao Brasil, de imediato, como capitão de uma das três naus da armada que levou o 1.º governador-geral, Tomé de Sousa - que no novo continente o fez capitão-mor da Capitania de Porto Seguro (1550), onde sucedeu a Pero do Campo Tourinho.

De lá escreveu ao Rei, em 14 de abril de 1550, relatando que na dita terra de Porto Seguro "havia ouro" e comunicando-se disposto a organizar uma expedição para o encontrar, para o que solicitava apoio da Coroa, acrescentando que o gentio "estava em paz" e era "muito nosso amigo".[4]

Estátua orante

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Morreu no dia 27 de junho de 1558, já perto dos oitenta anos de idade. Seus restos mortais encontram-se no Panteão dos Lemos, na Igreja da Trofa,[19] na cidade homónima. Lá jaz em túmulo armoriado (as armas dos Lemos, em pleno) com a sua estátua orante em tamanho natural e o seguinte epitáfio: "Aqui jaz Duarte de Lemos filho que foi de Joiam Gomes de Lemos e neto de Gomez Miz o qual por serviço de Ds por onra de sua linhagem mãdou fazer esta capela pera seu pai e avoos e pera si pera sua molher e foi feita esta capela na era de mil e 534 anos o qual faleceu ao vinte sete dias de Junho ano de 1558".[4]

A estátua orante de Duarte de Lemos, notável exemplo de escultura renascentista em Portugal, é contemporânea e de estilo artístico muito semelhante à escultura representando o seu parente, D. Luís da Silveira, 1.º Conde da Sortelha, na Igreja Matriz de Góis.[20]

Casamento e descendência

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Duarte de Lemos casou, cerca do ano de 1503, com D. Joana de Melo (1478 - 12.10.1529), filha herdeira e sucessora de Álvaro de Brito, fidalgo da casa real, e de Isabel Pacheco. Este Álvaro de Brito (ou Álvaro de Brito Nogueira) era filho segundogênito de Mem de Brito, senhor do morgado de Santo Estêvão, em Beja e de S. Lourenço ou Santa Ana,[21] em Lisboa, e de sua mulher Guiomar de Melo, da casa dos senhores de Melo.

D. Joana de Melo jaz no Panteão da Trofa, em túmulo com as suas armas (lisonja partida de Lemos e Melo), com a seguinte inscrição: "Aqui jaz dona Joana de Melo molher que foi de Duarte de Lemos a qual faleceu ao doze dias do mês doutubro ano de mil 529"

Duarte de Lemos e D. Joana de Melo tiveram geração, 2 filhas e 4 filhos, entre os quais João Gomes de Lemos, que sucedeu na casa do pai e veio a ser 4.º senhor da Trofa.[22]

Referências

  1. Soveral, Manuel Abranches de. «João Gomes de Lemos 2º senhor da Trofa (1497)». Consultado em 23 de maio de 2017 
  2. a b c Pelúcia, Alexandra (2016). Afonso de Albuquerque - Corte, Cruzada e Império. Lisboa: Círculo dos Leitores. pp. 256, 208 – 209, 220 – 221. ISBN 978-989-644-337-5 
  3. Salazar y Castro, Luis de (1685). Historia genealogica de la casa de Silva, Parte II Por don Luis de Salazar (em espanhol). National Central Library of Rome. Madrid: [s.n.] p. 227 ("Mécia de Lemos, sendo dama da Rainha D. Joana de Castela (...) teve, com o cardeal D. Pedro González de Mendoza, [seus filhos] o marquês de Cenete e o conde de Melito, que são avós de quase todos os grandes senhores que há na Espanha") 
  4. a b c d e f g h i Abranches de Soveral, Manuel. «Duarte de Lemos 3º senhor da Trofa (1514)». www.soveral.info. Consultado em 5 de setembro de 2022 
  5. Alexandra Pelúcia, op. cit., p. 298
  6. a b Aarão de Lacerda (1928). O panteom dos Lemos na Trofa do Vouga. Porto: Edição do Autor (Tipografia da Companhia Portuguesa Editora). pp. 21–22, 91–92 
  7. Crowley, Roger (2015). Conquerors: How Portugal Forged the First Global Empire. New York: Random House. p. 227. ISBN 978-0812994001 
  8. Transcrito por Alexandra Pelúcia, op. cit., p. 208
  9. a b João de Barros (1554). «Biblioteca Nacional Digital. Da Ásia. Década II. Parte I. Livro IV. Capítulo II». purl.pt Lisboa, 1777, Regia Officina Typografica ed. pp. 389–390. Consultado em 28 de abril de 2024 
  10. Alexandra Pelúcia, op. cit., p. 211
  11. «A Duarte de Lemos, fidalgo da casa del-rei, confirmação, para logo serem trespassadas nele, das cartas confirmadas em Évora, a 7 de Novembro de 1497, a João Gomes de Lemos, seu pai, para as haver como haveria por seu falecimento. - Arquivo Nacional da Torre do Tombo - DigitArq». digitarq.arquivos.pt. Consultado em 29 de novembro de 2019 
  12. «Confirmação da doação do padroado da nossa igreja que he na sua terra da Trofa a Duarte de Lemos. - Arquivo Nacional da Torre do Tombo - DigitArq». digitarq.arquivos.pt. Consultado em 29 de novembro de 2019 
  13. «Casa da Trofa. Lemos. Genealogia. Duarte de Lemos, 3º senhor da Trofa (1514)». www.soveral.info. Consultado em 1 de abril de 2022 
  14. Freire, Anselmo Braamcamp (1921). Brasões da Sala de Sintra, Livro Segundo. Robarts - University of Toronto. Coimbra: Coimbra : Imprensa da Universidade. pp. 2–3 
  15. Soveral, Manuel Abranches de. «Lopo Dias de Azevedo e sua mulher D. Joana Gomes da Silva». Casa da Trofa. Consultado em 11 de setembro de 2022 
  16. Freire, Anselmo Braamcamp (1921). Brasões da Sala de Sintra, Livro Terceiro. Robarts - University of Toronto. Coimbra: Coimbra : Imprensa da Universidade. pp. 345–346 
  17. «Panteão dos Lemos». www.cm-agueda.pt. Consultado em 8 de setembro de 2022 
  18. «O primeiro "Dono da Ilha de Vitória" - Dom Duarte Lemos (1536)». De Olho na Ilha. www.soveral.info. Consultado em 23 de maio de 2017 
  19. «DGPC | Igreja da Trofa, compreendendo os túmulos dos Lemos.». www.patrimoniocultural.gov.pt. Consultado em 30 de novembro de 2019 
  20. «Monumentos - Igreja Paroquial de Trofa. Igreja de São Salvador e Panteão dos Lemos». www.monumentos.gov.pt (em inglês). Consultado em 9 de novembro de 2022 
  21. «Morgado de Santa Ana - Arquivo Nacional da Torre do Tombo - DigitArq». digitarq.arquivos.pt. Consultado em 30 de outubro de 2019 
  22. «Casa da Trofa. Lemos. Genealogia.». www.soveral.info. Consultado em 30 de outubro de 2019