Dérbi do Merseyside
Dérbi do Merseyside | |||||||||||||
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Everton vs Liverpool | |||||||||||||
Informações gerais | |||||||||||||
Everton | 68 vitória(s), 269 gol(s) | ||||||||||||
Liverpool | 99 vitória(s), 346 gol(s) | ||||||||||||
Empates | 77 | ||||||||||||
Total de jogos | 244 | ||||||||||||
Total de gols | 615 | ||||||||||||
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O Dérbi do Merseyside (em inglês: Merseyside derby) é o clássico de futebol entre Everton e Liverpool, ambos da cidade de Liverpool, Inglaterra. Nomeado em homenagem ao condado de Merseyside, no qual a cidade está localizada, é o dérbi local de primeira divisão mais longo da Inglaterra e tem sido jogado continuamente desde a temporada de 1962–63. Parte da rivalidade se deve ao fato de os dois clubes terem menos de uma milha de distância entre eles e estarem à vista um do outro no Stanley Park, com o Everton no Goodison Park e o Liverpool em Anfield.
Os dois clubes chegaram a ser precisamente os dois maiores vencedores do Campeonato Inglês de Futebol até a década de 1990.[1] Inicialmente, o clube azul deteve a supremacia, só revertida a partir da década de 1960,[2] a ponto de a torcida dos Reds passar a nutrir mais rivalidade com o Manchester United.[3] Mas antes mesmo disso o Merseyside Derby, ainda considerado um dos maiores clássicos do mundo, já era uma rivalidade sui generis: sempre foi marcado pelas torcidas tratarem-se bastante cordialmente, a ponto de o duelo ser chamado também de Friendly Derby ("clássico amistoso").[2]
Dentre outros elementos peculiares da rivalidade, está os fatos de Anfield Road, visto como o mítico estádio do Liverpool, já ter sido a casa do Everton, e de inicialmente o Liverpool ter usado a cor azul como o rival e chamar-se de "Everton Athletic";[2] também é comum que alguns ídolos de um clube sejam ou tenham sido na intimidade torcedores do rival, incluindo quem mais jogou e mais marcou gols pelos Reds no clássico com os Toffees.[4] A proximidade também ocorre na distância entre os estádios: Anfield situa-se a 1.100 metros de Goodison Park, o estádio do Everton, no que é a décima menor distância entre dois estádios de clubes rivais no mundo.[5]
A fraternidade incomum, porém, não impede que os encontros sejam jogos bastante acirrados: lendário treinador do time vermelho, Bill Shankly teria cunhado sua célebre frase "futebol não é questão de vida ou morte, é mais importante que isso" para referir-se a esse clássico,[3] que é precisamente a partida que mais reúne expulsões na história da Premier League - em 2016, constatou-se que desde 1992 haviam sido aplicados 25 cartões vermelhos em 48 jogos, quantidade cinco vezes acima da média de confrontos alheios.[6] Ao longo da rivalidade, apenas dois treinadores trabalharam nos dois rivais, em experiências separadas por cerca de 130 anos.[7]
Introdução
[editar | editar código-fonte]O Liverpool foi criado em 1892 pelo proprietário do estádio de Anfield Road, o escocês John Houlding, em resposta à renúncia do Everton àquele lugar. Criado em 1878, o Everton originalmente instalara-se no Stanley Park, passando em 1882 a alugar Anfield, em terreno vizinho. A saída deveu-se à não-aceitação dos Toffees com a quintuplicação do preço do aluguel. Foi quando o clube mudou-se para Goodison Park, na ponta oposta ao Stanley Park;[2] por conta disso, a expressão "atravessar o Stanley Park" passaria a ser utilizada como sinônimo de quem deixa um dos clubes para atuar no rival. O primeiro a fazê-lo era daqueles primórdios: Duncan McLean, um dos primeiros jogadores alinhados pelo clube novo, era do Everton e permaneceu em Anfield. No mesmo ano de 1892, Tom Wyllie tornou-se outro Evertonian a se incorporar aos novatos.[8] Também data daquela época o treinador William Edward Carclay, técnico do Everton em 1888 e do Liverpool em 1892. Carclay foi por cerca de 130 anos o único a treinar os dois rivais, até a contratação de Rafa Benítez pelos azuis em 2021.[7]
Houlding, por sua vez, tinha tamanha obsessão com seus antigos inquilinos que seu clube chamou-se primeiramente Everton Athletic, mas a tentativa de registra-lo foi negada pela Football League, que tinha o clube original como um dos membros-fundadores. Houlding então optou pelo nome Liverpool, mas inicialmente manteve a mesma cor azul do vizinho. Somente dois anos depois, em 1894, o vermelho foi adotado.[2] Nesse mesmo ano, ocorreu o primeiro clássico, com vitória do Everton por 3-0 no Goodison Park.[9][10]
Os estádios da dupla estão entre os dez mais próximos do mundo entre dois rivais; a distância de 1.100 metros é justamente a décima menor, sendo a menor da elite inglesa; a segunda menor entre os estádios ingleses (abaixo dos 700 metros entre as casas de Nottingham Forest e Notts County); a terceira menor no Reino Unido (abaixo também dos cem metros que separam os clubes escoceses Dundee e Dundee United, dos estádios mais próximos do mundo); e a quarta menor na Europa, abaixo de 700 metros entre os sérvios Partizan e Estrela Vermelha. Além destes, apenas Remo e Paysandu (250 metros, segunda menor), Racing e Independiente (350 metros, terceira menor), Santos e Portuguesa Santista (400 metros, quarta menor), Al-Merrikh Sporting Club e Al-Hilal Omdurman (550 metros, quinta menor), Estudiantes e Gimnasia y Esgrima (650 metros, sexta menor) e Guarani e Ponte Preta (800 metros, nona menor) têm estádios mais próximos que os Merseysiders.[5]
O "Clássico Amistoso"
[editar | editar código-fonte]O clássico é marcado pelo grande respeito mútuo entre as torcidas.[2] Nesse contexto, uma curiosa estatística está nos dois maiores artilheiros dos Reds no clássico. Eles são, em primeiro lugar, Ian Rush (25), e depois Steven Gerrard (dez). Ambos também estão entre os seis únicos jogadores do Liverpool, e os dois únicos desde a década de 1930, a conseguirem o chamado três gols em um só duelo - Rush na realidade, conseguiu quatro,[11] e é também o jogador do Liverpool com mais partidas no duelo (36).[12] No curioso contexto do clássico, porém, Rush é um dos ídolos da torcida vermelha que torcem ou torciam pelo rival, já tendo confessado que era frequentador assíduo do Goodison Park junto com o irmão.[4] Gerrard, por sua vez, sempre se declarou torcedor Red, mas na infância foi fotografado trajando o uniforme completo do Everton em uma armação de um tio.[13]
Outros exemplos de Evertonians que defenderam os Reds são Michael Owen, que sonhava na infância em ser como o artilheiro azul Gary Lineker, Robbie Fowler, Steve McManaman, Jamie Carragher e Adam Lallana. Carragher ocasionalmente chegava a treinamentos trajando vestimentas Toffees.[4] Quando completou 16 anos como profissional do Liverpool, foi contemplado com um amistoso das duas equipes, alinhadas com amigos. Ele fez um dos gols da vitória vermelha por 4-1, mas também marcou o único gol azul, em circunstância curiosa: ele cometeu um pênalti e, antes que o cobrador rival chutasse-o, correu para cobrar a penalidade, explicando que "como torcedor do Everton quando criança, eu sempre sonhei em marcar um gol contra o Liverpool. Por isso, resolvi fazer isso". O gol contra insolitamente intencional terminou aplaudido por todos.[14]
Fowler, por sua vez, protagonizou em clássico travado em 2 de abril de 1999 uma das comemorações de gol mais polêmicas do futebol, "cheirando" a linha de fundo em resposta às acusações rivais de que seria usuário de cocaína. O Liverpool venceu por 3-2,[15] encerrando jejum de vitórias que perdurava no clássico desde a temporada 1993-94.[16] Fowler, porém, recebeu quatro jogos de suspensão e multa equivalente a 44 mil euros pela atitude.[15]
Na via oposta, dentre os torcedores ou ex-torcedores confessos do Liverpool que fizeram sucesso no rival estão Peter Reid, que assumiu já ter nutrido momentaneamente ódio pela própria mãe ao vê-la infância comemorando vitória azul no clássico, sem imaginar que viraria uma lenda toffee na década de 1980,[17] sendo descrito como a principal contratação que o Everton já fez após a Segunda Guerra Mundial; e Dave Watson, jogador azul do fim da década de 1980 até o início da década de 2000,[18] capitão e melhor em campo na conquista Copa da Inglaterra de 1995,[19] último troféu do clube. Reid foi na época a contratação mais cara da história do Everton e ambos integraram o último título do time também no campeonato inglês, em 1987.[1] Um mais recente torcedor Red a ser incorporado ao Goodison Park é Theo Walcott.[20]
O beatle Paul McCartney chegou a ponto de torcer pelos dois clubes, embora nos clássicos opte pelo Everton, pelo qual era fanático na infância até reconhecer-se sem habilidade para o futebol e focar-se na música. Ele assim explicou em 2008: "depois de um concerto em Wembley, eu peguei amizade com Dalglish, que estava na plateia, e pensei comigo: ‘Quer saber? Vou torcer pelos dois times, porque todos são de Liverpool. Eu não me importo com essa coisa entre protestantes e católicos’. Então, tive uma dispensa especial do Papa para fazer isso. Torço para ambos. São dois grandes clubes. Mas, se houver um clássico, sou Everton, por causa da minha família",[21] ainda que seu irmão Mike sempre tenha apoiado os vermelhos.[22] Baterista original da banda, Pete Best é outro confesso Evertonian,[23] embora tenha se permitido a parabenizar o rival quando este sagrou-se campeão inglês em 2020.[24] O baixista original, Stuart Sutcliffe, teve sua preferência vermelha sugerida no filme Backbeat. Os demais membros, por sua vez, preferiram seguir a recomendação empresarial de Brian Epstein de serem discretos quanto ao time pelo qual torciam para não desapontar o público adepto do rival; deduz-se que George Harrison preferisse os Reds apenas por este ser o time assumido pelo filho Dhani, pois o guitarrista chegava a declarar que há três times em Liverpool (cuja região metropolitana também abriga o Tranmere Rovers) e torceria "pelo outro". John Lennon e Ringo Starr, por sua vez, seriam torcedores de equipes forasteiras - Newcastle United, no caso do guitarrista (com a maior sugestão nesse sentido advindo de um desenho infantil seu), e Arsenal, no do baterista (cujo padrasto era londrino), embora acredite-se que eles dois também guardassem simpatia pelo Liverpool; no caso de Lennon, as indicações nesse sentido viriam da conhecida paixão de seu pai pelos Reds e por ter partido de John a inclusão do antigo artilheiro vermelho Albert Stubbins como único futebolista presente na capa de Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, além de mencionar outro ex-jogador do clube, Matt Busby, na canção Dig It.[22][25][26][25]
Nesse contexto peculiar, os clubes já prestaram tributos a torcedores um do outro. Em 2007, o assassinato do garoto Rhys Jones, detentor de carnê que lhe permitia acompanhar todos os jogos do Everton como mandante, levou a diretoria dos Reds a, antes de uma partida, homenageá-lo na presença da família dele com o sistema de som de Anfield Road tocando a canção "Johnny Todd", normalmente usada nas entradas de campo do rival.[27] Já na temporada 2012-13, após ser esclarecido que a torcida vermelha não havia sido a própria responsável pelo desastre de Hillsborough que a acometera e sim as autoridades policiais, o Everton, em clássico na sua casa, homenageou as vítimas com a entrada de duas crianças uniformizadas por cada um com a numeração nas costas referindo-se aos 96 mortos, sob a música "He ain't heavy, he's my brother" ("ele não é um fardo, ele é meu irmão"), do grupo The Hollies. No clássico seguinte, a plateia do Liverpool retribuiu com a palavra "Thanks" ("obrigado") em mosaico nas cores azul e vermelha.[28] Na temporada 2015-16, quando a inocência dos Reds no desastre foi corroborada em júri, os vizinhos (antes de partida contra o Bournemouth) voltaram a prestar homenagem com a mesma música, dessa vez levando familiares dos mortos ao gramado, sob ovação da plateia Toffee - onde havia faixa com os dizeres "justiça finalmente, irmãos em armas".[29]
Mesmo na época da tragédia, erroneamente atribuída na ocasião à ação de hooligans, a torcida azul uniu-se em apoio à rival, e sua posterior homenagem em 2012 foi reconhecida pelos torcedores vermelhos como mais bela que a própria homenagem oficial do Liverpool. A cidade inteira também uniu-se em perpétuo boicote ao tabloide The Sun, veículo londrino que disseminara inverdades desfavoráveis aos torcedores dos Reds. As provocações utilizando as mortes em humor negro são mais frequentes vindo de torcedores insensíveis do Manchester United.[30] Quando as informações falsas ainda eram vistas como procedentes, Paul McCartney foi um dos artistas a prestar solidariedade, regravando para fins beneficentes às vítimas o single "Ferry Cross the Mersey", canção ligada à região e cujo conteúdo fala sobre superação.[21] Uma das vítimas, precisamente a mais jovem, falecendo com dez anos de idade, era justamente um primo de Steven Gerrard: Jon-Paul Gilhooley,[31] a quem Gerrard viria a dedicar a autobiografia, com as palavras "Eu jogo por Jon-Paul".[32]
A tragédia de Hillsborough ocorreu pelas semifinais da Copa da Inglaterra, cuja decisão deu-se exatamente entre Liverpool e Everton. O torcedor toffee Ian Rush fez os dois gols que deram na prorrogação o título aos Reds, na vitória por 3-2.[33] Duas semanas antes da tragédia, Rush inclusive se permitira protagonizar uma brincadeira pelo Dia da Mentira, fotografando-se com a camisa do Everton para uma publicação humorada que sugeriria sua contratação pelo rival.[34]
A temporada 2019-20 rendeu no primeiro duelo, em Anfield, uma nova homenagem das duas torcidas às vítimas de Hillsborough, dias após a absolvição judicial da chefe de polícia responsável pela segurança do estádio na ocasião da tragédia. O tributo incluiu uma bandeira nas cores azul e vermelha com a mensagem de que todos os merseysiders saberiam "da verdade", clamando então por "justiça para os 96" mortos.[35] Vencido por 5-2 pelos anfitriões, o dérbi entrou para as estatísticas ao registrar a maior quantidade de gols desde um 4-4 em 1991 pela quinta rodada da Copa da Inglaterra - e o terceiro a, válido pelo campeonato inglês, passar da barreira dos seis gols, após um 7-4 dos Reds em 1933 e um 5-2 dos Toffees em 1904. O triunfo, além de estender para vinte jogos a invencibilidade contra o vizinho, também fez o Liverpool superar seu próprio recorde geral de invencibilidade no campeonato, que eram as 31 partidas travadas entre maio de 1987 e março de 1988, em tempos áureos do clássico.[36]
Estatísticas
[editar | editar código-fonte]A dupla chegou a ser líder e vice-líder na quantidade de títulos ingleses quando o Everton, ao acumular em 1987 seu nono e último título, ultrapassou o Arsenal, enquanto o Liverpool já tinha dezesseis.[1] Na altura de 2018, os Reds são os segundos maiores vencedores, com dezoito conquistas, e os Toffees estão no quarto lugar, ao passo que o Arsenal tem treze e o Manchester United, com vinte, é o maior vencedor.[carece de fontes] Ambos também lideravam na soma de pontos de todas as edições do campeonato inglês.[2] Em 2018, o Liverpool segue em primeiro com 4836 pontos, com o Arsenal tomando a segunda colocação, com 4780, dez a mais que a do Everton, atual terceiro colocado.
O estádio de Anfield Road, casa do Liverpool que anteriormente foi utilizada por dez anos pelo rival, é precisamente o campo que mais recebeu partidas na primeira divisão inglesa, enquanto o Everton é o clube que mais partidas jogou na elite - só tendo passado duas temporadas na segunda divisão em sua história.[2]
A dupla já realizou finais ou liderou o pódio do campeonato inglês nos seguintes anos: em 1966, o Liverpool venceu por 1-0 a Supercopa da Inglaterra; em 1984, os Reds venceram por 1-0 a final da Copa da Liga Inglesa, enquanto o Everton venceu por 1-0 a Supercopa; em 1985, o Everton venceu o campeonato e o rival foi vice; em 1986, ocorreu o inverso, com o Liverpool campeão inglês deixando os Toffees em segundo, além de vencer o rival também na final da Copa da Inglaterra (por 3-1), enquanto a a Supercopa foi dividida após empate em 1-1; em 1987, os azuis novamente foram os campeões ingleses com os vermelhos de vices; por fim, em 1989 o Liverpool venceu a final da Copa da Inglaterra por 3-2,[carece de fontes] em conquista dedicada às vítimas da tragédia de Hillsborough, ocorrida na semifinal da competição.[33]
Ambos os clubes estiveram na mesma temporada em finais continentais, na de 1984-85. Os azuis ganharam a Recopa Europeia, enquanto os vermelhos foram derrotados na final da Liga dos Campeões da UEFA,[carece de fontes] partida esta marcada pela tragédia de Heysel, esta de fato provocada por hooligans do Liverpool. Indiretamente, os Reds acabaram responsáveis por impedir que os vizinhos pudessem brilhar na Liga dos Campeões na segunda metade da década de 1980, quando o Everton tinha um dos melhores elencos de sua história: como punição, todos os clubes ingleses foram banidos por cinco anos das competições continentais.[2]
Em fevereiro de 2009, os clubes protagonizaram um clássico curioso: em duelo pela Copa da Inglaterra, empatavam em 0-0 até o fim da prorrogação, quando a emissora ITV, que exibia a partida, acionou o intervalo comercial. Quando a exibição da propaganda encerrou, as imagens do jogo já mostravam as comemorações dos jogadores do Everton com o gol da vitórias aos 13 minutos do segundo tempo extra. A emissora assumiu que seu sistema cometeu uma falha ao inserir de modo automático os comerciais.[37] Naquele torneio, o Everton pôde chegar à final[carece de fontes] e aquela foi precisamente uma das últimas vitórias azuis no clássico: à altura de 2018, o último triunfo do Toffees ainda datava de 2010.[38]
Em 2018, um encontro em janeiro marcou a estreia promissora do zagueiro neerlandês Virgil van Dijk, que marcou nos minutos finais o gol de vitória vermelha por 2-1 válida pela Copa da Inglaterra após ter uma atuação defensiva também soberba - fazendo o treinador Jürgen Klopp admitir ser preferível "mudar de opinião do que não ter opinião", em referência à postura declarada de outrora de que preferiria abandonar o futebol a pagar 100 mil libras por um único jogador (o patamar usado para contratar Van Dijk).[39] Outro duelo daquele ano, em dezembro, foi cenário do gol que rendeu ao Red Mohamed Salah a vitória no Prêmio Puskás para gol mais bonito da temporada.[40]
Em 2019, embora não evitasse o prolongamento de um jejum de quase dez anos sem vencer o rival, o Everton foi indiretamente responsável para manter um jejum desfavorável ao próprio Liverpool. Sem conquistar a liga inglesa desde a temporada 1989-90, o clube de Anfield liderava a edição de 2018-19 até um clássico disputado em março. O empate sem gols foi suficiente para os vermelhos perderem a liderança para o Manchester City e adiante terminarem com o vice-campeonato por um ponto a menos que este clube.[41]
Após o dérbi influir na decepção dos Reds com a perda da liga inglesa de 2018-19, estes enfim puderam encerrar o jejum de três décadas na temporada seguinte, cerca de cinco anos depois de contratarem seu treinador Jürgen Klopp após terem demitido o antecessor Brendan Rodgers exatamente após outro 0-0 no clássico, em outubro de 2015.[39] Houve inclusive a possibilidade de a conquista ser matematicamente assegurada em clássico em pleno Goodison Park, caso os vermelhos triunfassem na casa rival e o concorrente (novamente, o Manchester City) perdesse uma partida prévia contra o Arsenal, mas nada dessa combinação ocorreu. O duelo quase decisivo, aguardado sob espera especial também por retomar o campeonato após suspensão de meses decorrente da pandemia de COVID-19 (o que fez com que a partida fosse disputada sem torcidas, após uma frustrante anulação da temporada inteira chegar a ser debatida), foi outro finalizado em 0-0, com os azuis obtendo as possibilidades mais concretas de vitória. Carlo Ancelotti, técnico toffee na ocasião,[42] era justamente o outro principal candidato a assumir o Liverpool na época da contratação de Klopp.[39]
Na temporada 2020-21, em 20 de fevereiro de 2021, o Everton quebrou dupla sequência notável sem vitórias no duelo. O triunfo azul por 2-0 encerrou dez anos sem vitórias dos Toffees no clássico e também vinte e dois anos sem que o clube derrotasse o rival dentro de Anfield - que, não recebeu público em função dos cuidados contra a mesma pandemia.[43]
Lusófonos no dérbi
[editar | editar código-fonte]Abel Xavier
[editar | editar código-fonte]O último jogador a ter trocado um diretamente pelo outro na rivalidade é o luso-moçambicano Abel Xavier, que "atravessou o Stanley Park" ao rumar do Everton ao Liverpool em 30 de janeiro de 2002. Identificado mais com os azuis, ele declararia a respeito, em 2018, que "foi muito difícil. Eu queria ficar mais, mas não foi possível. O Everton não era tão economicamente forte como é hoje e eu não fui capaz de prolongar meu contrato, que tinha seis meses restantes. Quando nós decidimos que eu deveria ir sair, eu pensei que tudo foi feito corretamente. O Liverpool me queria demais e eu era um profissional. Mas você sempre deve respeitar a opinião dos torcedores. Eu posso olhar os Evertonians no olho e dizer que fiz meu melhor até meu último dia no clube. Eu posso ir à cidade e circular de cabeça erguida. Sou muito orgulhoso por ambos os clubes, espero, me respeitarem e pelas pessoas terem boas lembranças de mim. Isso não ocorre frequentemente. No Everton, você se sente tão próximos dos torcedores... você está jogando por eles. Eles tornaram especial o período para mim. Por causa dos torcedores, você sentia 'eu estou no lugar certo'. Eu sempre me senti bem vindo no Everton - como uma pessoa e um jogador. Eu era feliz indo treinar todo dia. E me senti importante como um jogador do Everton e creio que deixei um impacto".[44]
Abel Xavier foi também precisamente o primeiro lusófono nos dois clubes, ingressando nos Toffees em 1999. Por eles, disputou cinco vezes o clássico, vencendo o primeiro, em 26 de setembro daquele ano (1-0), empatando o segundo e perdendo os outros três onde defendeu o lado azul.[carece de fontes] A única vitória dele permanece à altura de 2019 como a última vez em que o Everton pôde vencer o duelo dentro de Anfield Road. Pelos Reds, ele jogou uma única vez o clássico, já em 22 de fevereiro de 2002, menos de um mês após a troca. A partida terminou empatada em 1-1.[carece de fontes] Como recém-chegado ao Liverpool, foi chamado à Copa do Mundo FIFA de 2002.[45]
Outros lusófonos pelo Everton
[editar | editar código-fonte]Defendendo o Everton, o brasileiro Rodrigo "Beckham" registrou somente quatro partidas no geral pelo clube, entre agosto e setembro de 2002, não chegando a figurar no clássico. O português Nuno Valente jogou duas vezes o duelo, ambos na temporada 2005-06, com uma vitória e uma derrota. O brasileiro Anderson Silva foi utilizado uma única vez no geral pelo Everton, em abril de 2007, sem participar do clássico. O português Manuel Fernandes jogou um único dérbi (em derrota em 2008), assim como o brasileiro Jô (em derrota em novembro de 2009). O português Marco Silva foi treinador em três ocasiões, entre 2018 e 2019, registrando um empate e duas derrotas. Concomitantemente, entre 2018 e 2020, o português André Gomes jogou três vezes, com dois empates e uma derrota; e os brasileiros Bernard e Richarlison disputaram cinco vezes cada um - ambos registrando dois empates e três derrotas. Richarlison marcou um gol, na derrota de 5-2 em dezembro de 2019.
Outros lusófonos pelo Liverpool
[editar | editar código-fonte]Após Abel Xavier, o lusófono seguinte a participar do dérbi pelo Liverpool foi o brasileiro Fábio Aurélio, que estreou com derrota de 3-0 em 9 de setembro de 2006 antes de registrar três vitórias e um empate nos outros clássicos em que atuou, o último em 6 de fevereiro de 2010. Seu conterrâneo Lucas Leiva disputou dezessete vezes o duelo, entre 2007 e 2017, com nove vitórias, seis empates e duas derrotas.
Nesse período, o também brasileiro Diego Cavalieri defendeu esporadicamente os Reds entre 2008 e 2010, sem jamais enfrentar o rival, enquanto Raul Meireles foi o único português a participar do dérbi, com um empate (em 2-2, no qual marcou um gol) e uma derrota, ambos no ano de 2010. Seus conterrâneos João Carlos Teixeira (entre 2014 e 2016), Tiago Ilori (2016) e Rafael Camacho (2019) somaram poucas partidas no geral pela equipe vermelha, sem contabilizar participações no encontro com o Everton. O mesmo aplicou-se ao brasileiro Doni, que somou apenas quatro partidas no geral pelo Liverpool, todas em 2012, sem enfrentar os azuis.
Depois de Meireles, os lusófonos que enfrentaram o Everton pelos Reds foram todos brasileiros - Philippe Coutinho somou nove partidas, entre 2013 e 2017, com três gols, três vitórias e seis empates. Roberto Firmino acumula dez, a partir de 2016, com seis vitórias e quatro empates. Alisson jogou três clássicos, a partir de 2018, vencendo um e empatando os outros.
Torcidas
[editar | editar código-fonte]Segundo pesquisa divulgada pelo Instituto Roy Morgan em agosto de 2004, o Liverpool seria a segunda maior torcida da Inglaterra, com 3.133.000 torcedores e o Everton a nona maior torcida, com 628.000 torcedores.
O Everton, apesar de ser fundado por trabalhadores metodistas, tem mais torcedores entre os católicos da cidade e região (foi fundado na igreja metodista de Saint Domingo's) e o Liverpool tem sua imagem ligada aos protestantes da cidade, embora diferentemente do clássico de Glasgow, não haja sectarismo religioso envolvendo os torcedores.
O recorde de público do Merseyde Derby é de 78.299 espectadores, acontecido no dia 18 de setembro de 1948, em clássico disputado no Estádio Goodison Park, do Everton.
Em campo neutro, no Estádio de Wembley, por duas vezes este clássico alcançou a marca de 100.000 torcedores, em 18 de agosto e 25 de março de 1984, tendo chegado a 98.000 em 10 de maio e a 88.231 em 16 de agosto de 1986.
Maiores públicos
[editar | editar código-fonte]# | Data | Estádio | Placar | Público |
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1º | 18 de setembro de 1948 | Goodison Park | 1–1 | 78.599 |
2º | 22 de setembro de 1962 | Goodison Park | 2–2 | 73.000 |
3º | 16 de setembro de 1950 | Goodison Park | 3–1 Liverpool | 71.150 |
4º | 27 de agosto de 1949 | Goodison Park | 0–0 | 70.812 |
5º | 27 de setembro de 1947 | Goodison Park | 3–0 Liverpool | 66.776 |
6º | 8 de fevereiro de 1964 | Goodison Park | 3–1 Everton | 66.515 |
7º | 15 de outubro de 1927 | Goodison Park | 1–1 | 65.729 |
8º | 12 de abril de 1965 | Goodison Park | 2-1 Everton | 65.402 |
9º | 1 de outubro de 1938 | Goodison Park | 2–1 Everton | 64.977 |
10º | 3 de fevereiro de 1968 | Goodison Park | 1–0 Everton | 64.482 |
- Não incluídos jogos no Estádio de Wembley.
Médias de público por década
[editar | editar código-fonte]Período | Everton | Liverpool |
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2010– | 39.593 | 44.664 |
2000–09 | 40.020 | 44.360 |
1990–99 | 39.107 | 41.823 |
1980–89 | 49.529 | 45.240 |
1970–79 | 55.502 | 54.168 |
1962–69 | 64.606 | 53.805 |
1946–51 | 63.529 | 50.697 |
1931–39 | 49.444 | 45.423 |
1919–30 | 51.590 | 50.694 |
1905–15 | 41.600 | 37.600 |
1894–1904 | 39.888 | 28.444 |
- Não incluídos jogos no Estádio de Wembley.
Títulos
[editar | editar código-fonte]Listagem de competições oficiais, nos âmbitos nacional e internacional, e respectivo número de títulos conquistados por Liverpool FC e Everton FC.
Competições internacionais | Liverpool FC | Everton FC |
---|---|---|
Taça Intercontinental / Mundial de Clubes | 1 | - |
Taça dos Campeões Europeus / Liga dos Campeões da UEFA | 6 | - |
Taça das Cidades com Feiras / Taça UEFA / Liga Europa | 3 | - |
Taça das Taças | - | 1 |
Supertaça Europeia | 4 | - |
Total internacional | 14 | 1 |
Competições nacionais | Liverpool FC | Everton FC |
Campeonato de Inglaterra / Premier League | 19 | 9 |
Taça de Inglaterra | 8 | 5 |
Taça da Liga Inglesa | 9 | - |
Supertaça de Inglaterra | 16 | 9 |
Supercopa | 1 | - |
Campeonato Inglês da Segunda Divisão | 4 | 1 |
Campeonato de Inglaterra (Reservas) | 2 | - |
Total nacional | 59 | 24 |
Competições regionais | Liverpool FC | Everton FC |
Campeonato do Centro e Norte de Inglaterra "The Central League" | 16 | 4 |
Campeonato de Lancashire | 7 | 8 |
Campeonato de Lancashire "Combination" | 2 | 6 |
Taça Senior Lancashire | 11 | 6 |
Taça Senior Liverpool | 40 | 45 |
Total regional | 77 | 69 |
TOTAL | 145 | 94 |
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ a b c DO VALLE, Emmanuel (4 de maio de 2017). «Há 30 anos, o Everton faturava sua última liga e encerrava período de grandes glórias». Trivela. Consultado em 21 de dezembro de 2018
- ↑ a b c d e f g h i HOFMAN, Gustavo (junho de 2008). Uma cidade que joga por música. Trivela n. 28. São Paulo: Trivela Comunicações, pp. 52-55
- ↑ a b HOFMAN, Gustavo (outubro de 2008). Te odeio, logo existo. Trivela n. 32. São Paulo: Trivela Comunicações, pp. 34-45
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