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Arqueologia comunitária

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Arqueólogos exploraram um extinto cemitério no terreno da Cúria Metropolitana. Porto Alegre, RS, em 2012.

A arqueologia comunitária é uma das vertentes da arqueologia que busca envolver comunidades nas pesquisas arqueológicas e nas iniciativas de representação de seu patrimônio cultural.[1] O campo possui muitas afinidades com a arqueologia pública. Há um debate sobre se os termos são intercambiáveis ou se a arqueologia comunitária não seria uma forma de arqueologia pública. Porém, também foi sugerido que a arqueologia pública se distancia da arqueologia comunitária ao focar na produção e no consumo de "mercadorias" arqueológicas.[2][3] O design, os objetivos, as comunidades envolvidas e os métodos em projetos de arqueologia comunitária possuem muita variação, mas há dois aspectos gerais presentes em todos os projetos de arqueologia comunitária. Em primeiro lugar, a arqueologia comunitária envolve as comunidades "no planejamento e na execução de projetos de pesquisa que lhe são de interesse direto".[4] Em segundo lugar, os arqueólogos comunitários geralmente acreditam que possuem uma visão altruísta sobre o outro dando voz às comunidades. Muitos estudiosos no assunto argumentaram que não existe um método pré-definido de colaboração da comunidade na investigação arqueológica.[5] Embora não seja encontrado em todos os projetos, há uma série de propósitos e objetivos recorrentes na arqueologia comunitária. Similaridades também são encontradas em diferentes países e regiões - devido a semelhanças em comunidades arqueológicas, leis, instituições e tipos de comunidades.[3]

Em um sentido estrito, comunidades são agregados de pessoas que raramente possuem a mesma cultura e nunca têm a mesma opinião.[6] Dentro da arqueologia comunitária é possível dividir as comunidades em três tipos diferentes, mas intercambiáveis: as comunidades locais, as comunidades de descendência local e as comunidades de descendência não local ou diaspórica.[7]

Comunidades locais e comunidades de descendência não local

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Comunidades de descendência são aquelas que estão ancestralmente ligadas a um local. Comunidades de descendência local são aquelas em que os descendentes vivem nas proximidades de um mesmo local. As comunidades de descendência diaspórica “são grupos que estão ligados a um local, mas que vivem em outro local, potencialmente a centenas ou mesmo milhares de quilômetros de distância”.[8] Colaborações arqueológicas com comunidades de descendência local incluem aquelas realizadas em sítios proto-históricos e que colaboram com indígenas ancestralmente ligados a eles, assim como em escavações de plantations na qual colaboram descendentes locais de escravizados que trabalharam nela.[9]

Comunidades locais de não descendência

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As comunidades locais são simplesmente comunidades que vivem "dentro ou perto de um local"[10] e as comunidades locais de não descendência são aquelas que não acreditam ter uma relação ancestral com o local. Esta categoria inclui proprietários de terras, voluntários, empresas e stakeholders locais. Alguns pesquisadores acreditam que muitas das principais questões da arqueologia comunitária são aplicáveis a comunidades locais de não descendência e que essas colaborações são cruciais para os arqueólogos que buscam compreender o contexto social local de seu trabalho.[11]

Questões fundamentais

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Decolonização

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A arqueologia é uma prática cuja história está enraizada no colonialismo. Muitos arqueólogos e comunidades afirmam, inclusive, que a arqueologia nunca escapou de seu passado colonial.[12] Um dos principais objetivos dos arqueólogos comunitários e dos projetos de arqueologia comunitária é decolonizar a arqueologia.[13] Ao decolonizar a arqueologia, os arqueólogos estão tentando dar às comunidades mais controle sobre cada estágio do processo arqueológico. Por exemplo, alguns programas começaram a reunir líderes indígenas globalmente para discutir métodos compartilhados de decolonização por meio da colaboração arqueológica.[14] A arqueologia comunitária, o compartilhamento de conhecimento arqueológico, dentre outros tópicos, foram vistos como partes cruciais da decolonização.[15] Publicar pesquisas arqueológicas em licenças de acesso aberto para facilitar o uso desse material é outro aspecto da decolonização.[16]

Autorreflexão

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A arqueologia comunitária pode amenizar ou prevenir formas de violência contra comunidades causadas pelas práticas tradicionais da arqueologia. A autorreflexão é pensada como uma espécie de olhar para um espelho metafórico e inclui tentativas de tornar explicitamente visível a violência - como a colonização - da qual a arqueologia fez parte implicitamente.[17] Os arqueólogos podem lançar mão da autorreflexão nos primeiros contatos com as comunidades como forma de quebrar a dinâmica de poder desequilibrada entre comunidades não acadêmicas e arqueólogos.[18] A autorreflexão entre arqueólogos - como discussão com membros da comunidade, redação de diários de campo e trabalhos profissionais sobre autorreflexão - também pode ser um meio de identificar aspectos antiéticos e violentos de projetos arqueológicos.[19]

Contato com o público

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O contato com o público, em arqueologia, é uma forma de apresentar descobertas arqueológicas a não arqueólogos e é geralmente um aspecto crucial da maioria dos projetos de arqueologia comunitária.[20] Esse contato pode assumir várias formas, desde uma única palestra para uma escola local até acordos de longo prazo com as comunidades para o desenvolvimento de programas de cooperação elaborados.[21][22] Muitos pesquisadores acham que a arqueologia e as descobertas arqueológicas são excessivamente distorcidas pela mídia e por associações ocidentais, e que o contato direto com o público é a melhor maneira de informar não arqueólogos sobre o que os arqueólogos realmente fazem e encontram em seu trabalho.[23] A participação do público pode também significar um envolvimento da comunidade local em todo o processo que envolve a pesquisa arqueológica. Isso permite que as comunidades sejam agentes ativos junto aos arqueólogos tanto nas prospecções dos sítios quanto nas escavações.[1]

Interpretação pela comunidade

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A interpretação de descobertas arqueológicas pela comunidade é um aspecto quintessencial da arqueologia comunitária. De forma ampla, ela também é vista como um aspecto importante da "arqueologia decolonizadora", pois empodera os não arqueólogos para interpretar o passado.[24] Vários arqueólogos comunitários criaram projetos que dão à comunidade um papel importante na interpretação e disseminação de informações arqueológicas.[25] A participação da comunidade acontece na interpretação das descobertas, assim como em qualquer aspecto do projeto, como sua teoria[26] e seus objetivos.[27] O envolvimento da comunidade mina o controle exclusivo que os arqueólogos tiveram sobre o passado material e dá aos não arqueólogos a chance de interpretar o passado.[28] Muitos arqueólogos argumentam que a incorporação do conhecimento local é importante para a sobrevivência da arqueologia como disciplina acadêmica.[29] O grau de controle interpretativo que as comunidades têm em projetos arqueológicos varia desde o uso por arqueólogos de interpretações obtidas em entrevistas e consultas à comunidade[30] até publicações acadêmicas escritas por membros da comunidade baseadas em questões suscitadas por eles ao longo do projeto.[31]

Compromisso de longo prazo

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Etnógrafos e especialistas em desenvolvimento socioeconômico mostraram[32] que uma relação de longo prazo é necessária para desenvolver entrosamento e respeito mútuo com a comunidade local. Eles também argumentam que, para a colaboração ser bem-sucedida, os arqueólogos devem assumir um compromisso de longo prazo com a comunidade[33] a fim de compreender a dinâmica do contexto social de suas pesquisas. Sem essa profundidade de conhecimento, os arqueólogos correm o risco de tomar decisões com consequências indesejadas.[34] Por exemplo, as colaborações e repatriações têm sido mais bem-sucedidas onde arqueólogos e povos originários se encontram regularmente e desenvolvem amizade e respeito mútuo.[35] Nina Versaggi apontou em suas pesquisas que "permitir que o processo demore é o que importa".[36] Levando esse dado em consideração, muitos arqueólogos comunitários buscam planejar conduzir colaborações duradouras desde o início do projeto.[37]

Etnografia e conhecimento da comunidade

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Como método para conhecer a comunidade, os arqueólogos têm defendido o uso da etnografia em projetos de arqueologia comunitária.[38] Embora a maioria dos estudiosos ache que não é necessário que todos os arqueólogos se tornem etnógrafos de formação, é desejável um certo grau de conhecimento etnográfico antes de iniciar um projeto.[39] Alguns projetos de arqueologia comunitária contam com dados etnográficos coletados por membros da equipe de pesquisa.[40]

Museus e instituições

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Membros da etnia Mashantucket Pequot no Mashantucket Pequot Museum and Research Center, 1997.

A construção de museus ou outras instituições que possam atuar como centros educacionais, repositórios de materiais arqueológicos e centros de colaboração científica e sociocultural com a comunidade em questão é um objetivo comum de longo prazo para muitos projetos de arqueologia comunitária. Esse objetivo vem sendo cada mais alcançado.[41] Os museus se tornaram centros de divulgação e colaboração tanto para as comunidades locais quanto para as comunidades não locais.[42] Um exemplo bem conhecido de um museu criado por uma colaboração entre ameríndios e arqueólogos é o Mashantucket Pequot Museum and Research Center, que é "o maior museu de propriedade de indígenas americanos nos Estados Unidos".[43] Ele tem vários laboratórios e coleções para fins de pesquisa científica e uma equipe que inclui cinco arqueólogos contratados no regime de tempo integral.[44]

Publicações voltadas para a comunidade

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Outro método usado na arqueologia comunitária para o compartilhamento e a distribuição de conhecimento arqueológico é a publicação ou apresentação de materiais especificamente para a comunidade. Isso inclui livros, panfletos, histórias infantis,[45] livros de exercícios orientados para escolas,[46] histórias em quadrinhos,[47] sites,[48] palestras abertas, programas de rádio, de televisão e de notícias, encenações dramáticas, criações artísticas e literárias, publicações de acesso aberto[16] e demais formas.

Pesquisa participativa

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A pesquisa participativa é outro método que os arqueólogos têm usado em projetos de arqueologia comunitária.[49]

Quem fala pela comunidade?

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Na arqueologia comunitária, por definição, as decisões não podem ser tomadas com base nas informações fornecidas por apenas um conjunto limitado de membros de uma determinada comunidade. Embora o número de consultores necessários varie, é raro que um pequeno subgrupo possa falar pela comunidade como um todo.[50] Às vezes, é mais claro quem deve ser contatado em uma comunidade, mas nem sempre é assim. Por exemplo, os arqueólogos nos Estados Unidos devem entrar em contato com o Tribal Historic Preservation Officer (THPO) antes de tentar estabelecer colaboração com etnias reconhecidas federalmente.[51][50]

Abordagem top-down

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A abordagem top-down é aquela que os arqueólogos decidem quais serão os objetivos do projeto ou quais benefícios poderão trazer à comunidade antes de consultá-la. Esse método não é considerado apropriado para a arqueologia comunitária, pois a abordagem top-down cria uma troca unilateral de informações dos arqueólogos para a comunidade e impede a colaboração real. Cara Lee Blume argumentou que a "relação arqueólogo-informante [é] essencialmente exploradora e paternalista porque ocorre nos termos do arqueólogo - o informante deve abordar questões que os arqueólogos entendam - e exclui a participação de [membros da comunidade] que são incapazes ou não querem participar nesses termos".[52] Para ter sucesso na arqueologia comunitária, os arqueólogos começaram a empreender colaborações mais reflexivas com as comunidades indígenas.[53]

Cumprindo com compromissos de longo prazo

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Alguns arqueólogos comunitários têm dificuldade em cumprir seus compromissos originais com a comunidade.[54]

Consulta e colaboração

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Alguns estudiosos argumentam que a consulta feita pelos arqueólogos às comunidades não elimina o controle deles sobre o processo de interpretação e que essa consulta pode ser considerada uma abordagem top-down para a colaboração.[55] Além disso, alguns sentidos da palavra colaboração aludem a uma relação de oposição ou beligerante entre partes que cooperam entre si durante tempos de tensão ou de guerra. Nessa linha argumentativa, Robert L. Dean propôs que a palavra cooperação seja usada ao invés de colaboração.[56]

Referências

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